Estudo encomendado pela ABVTEX mostra que produção não acompanha pedidos do varejo. Representante da indústria têxtil alega que setor não foi ouvido.
Estudo encomendado pela ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) realizado pela FGV aponta que a indústrias têxtil e de confecções operam hoje com níveis elevados de utilização da capacidade instalada, com níveis acima de 80% desde 2009. Especificamente no caso da confecção, a utilização da capacidade está próxima de 90% desde meados de 2012. O dado, segundo a ABVTEX, é motivo de preocupação para as grandes redes de varejo de moda já que o setor produtivo não consegue atender ao crescimento da demanda. A “Análise da Estrutura Setorial, da Competitividade e do Comércio Exterior da Cadeia Brasileira de Produtos Têxteis e de Vestuário” mostra que o faturamento nominal das indústrias têxtil e de confecções cresceu 6,7% ao ano entre 2009 e 2013, abaixo do faturamento do comércio de artigos têxteis e de confecções, que cresceu a uma média de 13,2% ao ano no mesmo período.
Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), discorda das conclusões e aponta que a indústria não foi ouvida. “Foram usados números públicos sem a necessária checagem junto à indústria”, diz. De acordo com o executivo, a capacidade instalada da indústria é de 80% a 82% com uma queda de 4% ante o ano passado porque os pedidos do varejo estão mais lentos. E de julho a agosto deste ano a importação de vestuário cresceu 35% comparado ao ano passado, aponta o executivo. Outro dado é que o varejo deve crescer menos em reais neste ano, em torno de 1,5% ante 2,5% em 2013. “Vivemos os mesmos desafios e estamos submetidos ao custo Brasil (impostos altos, logística e infraestrutura deficientes e peso dos salários). E o varejo está no caminho da consolidação com a criação de empresas globais, similar à indústria têxtil que já se internacionalizou”, afirma o executivo.
De acordo com ele, é necessário destacar as convergências entre os dois setores, a exemplo da proposta apresentada ao governo federal há quase dois anos do RTCC (Regime Tributário Competitivo para a Confecção) que baseia-se em três pontos principais: desoneração, simplificação e desburocratização da carga tributária incidente sobre as confecções. “É necessário definir processos produtivos conjuntos. A confecção tem necessidade de produção local e nisso somos convergentes sobre o fortalecimento da cadeia produtiva e de suprimentos. Países que se desindustrializaram, como os EUA, estão voltando a fortalecer sua indústria”, diz Pimentel.
O estudo da FGV encomendado pela ABVTEX mostra que em 2013 os investimentos no segmento da indústria de confecção foram de R$ 810,9 milhões, o equivalente a 7,1% do PIB setorial. Já no varejo têxtil, o investimento foi de R$ 2,8 bilhões em 2013, valor que equivale a 10,6% do PIB. A análise do emprego do setor têxtil aponta que o varejo é responsável pelo maior número de empregos do setor, com 874,4 mil postos, acima dos 695,2 mil postos do setor de confecção de artigos de vestuário e acessórios e dos 298,3 mil empregos entre os fabricantes de produtos têxteis.