Kenzo visita o Brasil interessado em projetos para novos talentos

O estilista japonês fala de moda e sobre a disposição de fazer negócios no país, incluindo o jeans, considerado por ele com um dos símbolos da moda contemporânea


 

Em sua segunda visita ao Brasil, o estilista Kenzo Takada deu uma palestra a respeito de sua trajetória de sucesso no mundo da moda, como parte das ações de divulgação do país no mercado externo promovido pelo Texbrasil, programa de exportação da moda brasileira, criado pela ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), em parceria com a agência governamental APEX-Brasil. Mas Kenzo não se furtou a falar em negócios, demonstrando interesse em fazer negócios com empresas brasileiras no futuro. Pioneiro na história da moda japonesa, o estilista confirmou que lhe agrada a ideia de comercializar seus produtos em lojas brasileiras que tenham o perfil Kenzo e mesmo abrir lojas da marca no país.

 

O segmento do denim também estaria entre os itens de atenção do estilista para o mercado brasileiro. “Não há como falar em moda sem falar em jeans, já que esse é um dos símbolos da moda contemporânea. O denim tem uma participação firme e grande na marca, e parcerias com empresas brasileiras do segmento também podem ser interessantes”, afirmou. Mas ressaltou que, até o momento, não há planos definidos em torno da participação direta no mercado brasileiro.

 

“Se a marca vier para o Brasil deve vir completa, e não apenas alguns de seus segmentos, pois, a idéia de lançar os produtos em outro país é ter um negócio novo e completo”, afirma. Segundo ele, seria interessante trabalhar em um mercado como o da moda brasileira que, em sua opinião, já conta com uma identidade forte de sensualidade e vida saudável.

 

Intercâmbio

 

Além da palestra, realizada na sede da ABIT, em São Paulo (SP), no início da semana, a programação de Kenzo previa reunião com organizadores da Casa de Criadores, evento que serve de vitrine para novos estilistas brasileiros. O estilista ressaltou a vontade de se envolver em projetos de intercâmbio de moda entre novos talentos do Brasil e do Japão.

 

Questionado sobre o processo de criação das coleções da linha masculina de sua marca, Kenzo avalia que a moda atual diferencia cada vez menos os modelos e estilos dos segmentos feminino e masculino, e que cria em sua marca o que ele próprio gostaria de usar, mesmo que ache as peças jovens demais para sua idade. “As peças têm que inspirar as pessoas a usarem”, afirma o estilista de 71 anos.

Trajetória

 

Ao pensar nos caminhos que o levaram ao sucesso atual, Kenzo se diverte relembrando uma de suas visitas em meados dos anos 1960 a uma vidente: “Ela disse que eu seria reconhecido em todo o mundo e eu, assim como meus amigos, demos boas risadas com a previsão”.

 

Nascido em 1939, o estilista era morador da cidade de Himeji, no Japão, quando passou a se interessar por moda, influenciado pelas duas irmãs mais velhas. Solteiras, elas faziam seguidos cursos de corte e costura, preparando-se para um possível casamento. O jovem passou a folhear as revistas de modas das irmãs que encontrava espalhadas pela casa. O interesse foi tamanho que lhe estimulou a entrar para a Bunka Fashion College, universidade de design japonesa.

 

Com algum tempo de curso, Kenzo venceu o concurso da revista SO-EN, publicada pela universidade, e começou a ganhar atenção do mercado japonês e começou a ser chamado para alguns trabalhos. Com esse dinheiro, comprou um apartamento em Tóquio, mas logo o estilista descobriu que o prédio seria demolido e o terreno daria lugar a obras para os jogos olímpicos de 1964. Com a indenização da desapropriação em mãos, decidiu ir para a Europa.

 

Após uma viagem de navio de um mês, Kenzo chegou a Paris, na França, acompanhado de Mitsuhiro Matsuda, outro estilista japonês de sucesso e um de seus colegas de classe na universidade de Bunka. Decepcionado com o visual francês e sem falar o idioma, o estilista pensou em voltar para o Japão, no entanto, o orgulho falou mais alto e, cerca de seis meses depois, não queria mais sair de Paris. Vendo o fim do dinheiro de sua indenização se aproximar, Kenzo recebeu ajuda da mãe para permanecer na França e decidiu trabalhar em novos croquis.

 

Oferecendo suas criações para estilistas variados, Kenzo encantou Louis Féraud, passando a criar modelos sob encomenda para sua esposa. Com trabalho novamente, o estilista ganhou novo ânimo e procurou a redação da revista ELLE, que acabou publicando uma de suas criações na revista, abrindo outras oportunidades de trabalho.

 

Em 1970 o estilista abriu sua primeira loja, batizada de Jungle Jap. No mesmo ano, ele apresentou a primeira coleção própria, inspirada na viagem do Japão a Paris, com um desfile, durante o qual as modelos pulavam, dançavam, rodopiavam e fumavam pelas passarelas, em uma atitude de descontração inimaginável para os padrões atuais. Cerca de dois anos depois, o nome Kenzo já era conhecido em diversos países, e o estilo do criador, inspirado na cultura japonesa, já era reconhecido.

 

Aos trinta anos da marca Kenzo, completados em 1999, o estilista decidiu se aposentar. No entanto, pouco tempo depois voltou à ativa e, hoje, não pensa mais em parar de trabalhar administrando seu império, formado pela Kenzo e pela Kenzo Parfums, responsável por uma das fragrâncias mais populares internacionalmente: a Flower, by Kenzo.

foto: GBLjeans