Greve dos caminhoneiros afeta as entregas

Varejo de roupas já se preocupa com a reposição das lojas neste fim de semana, com a volta do frio, e da entrega dos itens do Dia dos Namorados para o comércio do norte e nordeste

Numa sala em frente a um mapa, uma reunião entre motoristas de caminhão, ajudantes e executivos define uma estratégia de guerra. Para driblar os bloqueios armados pelos caminhoneiros em greve desde a segunda-feira, 21 de maio, eles encontram uma rota alternativa saindo de Conchas, no interior de São Paulo, entrando por Santos, no litoral paulista, para alcançar rodovias que ainda não tinham barreiras para os caminhões. Destino: os centros de distribuição de duas das maiores redes varejistas do país, instalados no Rio de Janeiro. Mesmo com cem quilometros e cinco horas a mais que o roteiro convencional, a encomenda de jeans é entregue sem atrasos.

“Fomos um dos poucos fornecedores que conseguiu fazer chegar o produto até os clientes e no prazo”, comemora Jorge Loureiro, diretor da YD Confecções. Para entregar os produtos para Renner e C&A, a YD deslocou os dois maiores caminhões da sua frota. Antes disso, a empresa que vinha monitorando o movimento de reivindicações dos caminhoneiros antecipara para a semana passada as entregas de uma marca americana de jeans cujo CD fica no Espírito Santo, também previstas para chegarem nesta semana.

Segundo ele, em seu estoque não faltam insumos para a confecção do jeans que faz para terceiros. “Mas, se a greve persistir, a partir de segunda teremos problemas para cumprir as entregas programadas”, afirma. E mesmo que a greve termine nesta sexta-feira ou mesmo na segunda-feira, caso governo e caminhoneiros entrem em acordo, ainda levará um tempo para o trabalho voltar ao normal porque falta combustível nos postos de abastecimento, lembra o diretor.

DIA DOS NAMORADOS EM RISCO

Quatro dias de paralisação dos caminhoneiros, que protestam contra a nova política de preços do diesel, alegando que a variação diária dificulta o cálculo dos fretes e reclamando do custo do combustível, refletiram em diversas atividades e não foi diferente com roupas e tecidos. O varejo teme que as vendas do Dia dos Namorados saiam prejudicadas desse episódio. Embora apaixonados sem roupas não seja exatamente um problema para os casais, para os varejistas representa mais uma dor de cabeça num semestre já comprometido pela falta de frio. E no momento que a temperatura cai, os itens de inverno não podem ser repostos.

Segundo Edmundo Lima, diretor executivo da ABVTex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), a entidade veio monitorando a situação junto aos associados, em torno de 25 grandes empresas que atuam no setor, como Renner, C&A, Hering, Marisa, Pernambucanas, Riachuelo, Zara, as marcas da Restoque, Calvin Klein, Walmart e Carrefour. “Há, sim, o risco de abastecimento das lojas por causa da dificuldade de levar as mercadorias dos CDs até as lojas, para repor os itens de inverno”, explica o executivo.

A outra preocupação, diz, é com os fornecedores nacionais que não conseguirão honrar as entregas previstas para este fim de semana e início da próxima semana. A situação piora com a questão de atraso nas operações dos portos de Santos e Santa Catarina. “Mesmo as cargas liberadas não conseguem ser transportadas”, relata Lima. Ainda que a greve termine nesta sexta-feira ou início da próxima semana levará um tempo até a normalização, refletindo no abastecimento para o Dia dos Namorados, comemorado daqui a duas semanas e que junto com o Dia das Mães responde por forte impulso do faturamento do primeiro semestre do varejo brasileiro.

O cenário no período fica mais preocupante para as lojas no norte e no nordeste no país. De acordo com Lima, há caminhões carregados com mercadorias para o Dia dos Namorados que estão parados no meio do caminho. A dúvida é se encerrada a greve, esses produtos chegarão a tempo para aproveitar a troca de presentes na data.

Ainda segundo o executivo, também as lojas com vendas online relatam dificuldades para cumprir os prazos de entrega de pedidos já realizados. “Não está sendo feita a coleta”, diz.

ATRASO NAS REMESSAS DE TECIDO

A greve dos caminhoneiros afetou o planejamento logístico dos fabricantes de denim e sarja do país, que registram atraso nas entregas desde quarta-feira, terceiro dia da paralisação, como confirmam Cedro Têxtil e Capricórnio Têxtil. “Se a greve realmente se estender, o setor industrial e o mercado como um todo serão prejudicados, uma vez que haverá impactos nas entregas de matérias-primas, produto acabado e todos os insumos produtivos. Além da incapacidade de escoamento dos produtos faturados”, declarou Marcel Imaizumi, diretor superintendente da Vicunha Têxtil.

Em relação ao setor têxtil e de confecção de roupas como um todo, o presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Fernando Valente Pimentel, afirma em nota que “os fabricantes do setor já se deparam com a falta de matéria-prima para produzir”. A entidade defende “solução urgente para o impasse relativo à greve dos caminhoneiros”. Em nova nota nessa segunda-feira, 28 de maio, a Abit relata problemas de desbastecimento em todos os associados. “Muitas empresas estão ficando sem caixa (financeiro) para fazer o faturamento dos seus produtos. O prejuízo é grande para o setor, cujo faturamento diário é de aproximadamente R$ 440 milhões”, afirma o comunicado da entidade ao mercado.