Momento do jeans brasileiro

Especialista espanhol diz que o Brasil teria muito a ganhar ao aproveitar a onda ecológica que começa a ganhar força

As marcas brasileiras de jeans estão muito orientadas a produtos para mulheres comprados por impulso, quando no cenário internacional o mundo do jeans de primeira linha caminha para especializar-se em vieses diferentes do consumidor – o histórico, o ético, o experimental. “O Brasil poderia deixar sua marca na questão da ética, usando tecidos com algodão orgânico, máquinas com pouco consumo de energia e água; e explorando os aspectos artesanais que o país tem”, disse, ontem, o espanhol Enrique Silla, quando instado a fazer uma análise do momento atual do mercado brasileiro de jeans, que acompanha de perto desde 1989 como diretor da Jeanologia (especializada em desenvolvimento, pesquisa e consultoria na área). A empresa pertence ao grupo espanhol EuroTrend, fundado por Silla e que controla mais quatro empresas GFK e EasyLaser (fabricantes de equipamentos), a Sinequanone e a Terça Viva.

 

Ele veio ao Brasil a convite da Texpal, fabricante brasileira de produtos químicos e representante dos equipamentos das empresas de Silla no país, para apresentar a palestra O jeans no mundo – uma visão atual, para uma platéia formada por estilistas e donos de marcas brasileiras. Na avaliação dele, a mistura dos recursos naturais, como o fato de a maior parte da floresta amazônica estar em solo brasileiro, ou de o país se destacar como fornecedor de biocombustível podem funcionar como ingredientes para a criação de uma identidade brasileira para o jeans.

 

“As marcas brasileiras poderiam explorar o marketing que associe o país a temas ecológicos, de preservação do meio ambiente, desenvolvimento sustentado, comércio justo e consumo responsável. Essa é uma grande oportunidade para o Brasil criar uma identidade de mercado e para as marcas”, sugere o especialista.

 

Ele explica que o conceito de especialização por perfil de consumidor vale para empresas de moda em geral. Também ressalta que o mesmo consumidor pode ser a mistura dos quatro perfis que ele elegeu – histórico, ético, experimental, instintivo. A especialização leva à identificação por parte do consumidor, diz, a bordo de um jeans da Citizens of Humanity, camiseta Banana Republic e tênis All Star.

 

Investimento

 

No jeans, ele associa a Levi´s e a Diesel ao perfil histórico, por exemplo. “Mas, hoje, a Levi´s é 60% histórico, 30% ético e 10% experimental”, destaca. Escolher qual caminho seguir é uma decisão de empresa e não pode ficar restrita a uma coleção.

 

Para se destacar no histórico, que investe no revival das origens do jeans, é preciso mergulhar nas referências, estudar peças antigas para ver como elas envelhecem, se valer da tecnologia para reproduzir os efeitos do tempo, visitar museus, comprar peças antigas. É o que faz a Design Lab Denim que usa imitações de tecido da antiga Cone Mills e recorre a recursos de marketing como anunciar que garante a recompra da peça depois de alguns anos de uso para os mil primeiros compradores do modelo, pagando US$ 2 mil. Ou marcas japonesas que recupera etiquetas de couro antigas, daquelas que manchavam a roupa quando lavadas.

 

O ético exige investimento em tecnologia de equipamentos, em produtos químicos biodegradáveis, matéria-prima orgânica. Mas do ponto de vista visual, o mercado ainda busca os símbolos que podem associar a marca ao exercício do politicamente correto. “Não basta uma etiqueta informando. Tem que mudar a cabeça de quem compra e não de quem vende”, reconhece Silla.

 

O experimental deve ter o compromisso com as inovações em modelagem, tecidos, e processos. O instintivo é o lado mais conhecido da moda. É o que segue as tendências e se destaca pelas combinações que faz delas.

foto: GBLjeans