A autorreferenciada capital do jeans aponta as principais mudanças a serem equacionadas na próxima década, como manter um universo de lavanderias em uma terra com escassez de água
Toritama é uma cidade com forte expansão econômica. Mas o cenário para quem chega de fora é formado por casas simples, quase sem pintura, poucas ruas com asfalto e cobertas pela areia trazida pelo vento que sopra no final da tarde vindo do sertão. A paisagem quase clichê tem, no entanto, algo de diferente que leva algum tempo para se revelar.
De quase todas as casas das ruas próximas da rodovia BR 104 e do Parque das Feiras saem fardos de roupas feitas em denim. É uma oficina ao lado da outra. O que seria um botequim, em qualquer cidade do interior, vira um espaço com duas ou três máquinas fechadeiras. Varandas e salas de estar perdem a função original em favor do jeans.
Ainda assim, um dos maiores pólos de produção de jeans do Brasil sofre com a falta de mão-de-obra. As empresas não falam sequer em trabalhadores qualificados. O mercado não exige qualificação ou grau de instrução porque o trabalho é ensinado no dia-a-dia da empresa. Simplesmente falta gente. Depois de um tempo em que aprende o serviço, os funcionários são contaminados pela cultura empreendedora da cidade e saem para montar seus próprios negócios.
Na cidade com quase 30 mil habitantes funcionam 3 mil indústrias entre micro e pequenas confecções e lavanderias industriais que produzem 4 milhões de peças por mês, calcula Luciano Farias, presidente da ACIT (Associação Comercial e Industrial de Toritama) e dono da lavanderia Nazaré. Nem todas são empresas formais, ressalta o executivo.
Água é outro grande desafio a vencer. Embora haja esforço para reúso da água nas lavanderias, algumas etapas de produção ainda precisam de água nova. A expectativa é de uma ação governamental para identificar novos mananciais a serem geridos de maneira menos predadora. A tarefa inclui a implantação de sistema único de tratamento de efluentes biológico para completar o processo. Atualmente, Toritama tem 56 lavanderias em funcionamento.
Infraestrutura de saneamento básico e logística também está entre as prioridades dos próximos dez anos. Por isso, a duplicação da BR 104, principal rodovia de acesso, é comemorada como um dos desafios transpostos de uma reivindicação antiga do empresariado das três cidades que formam o Triângulo das Confecções: Toritama, Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe.
A mudança conceitual de produtos é uma realidade que precisa avançar para não deixar escapar o mercado. Incorporar aspectos diferenciados de concepção, estilo e lavanderia para os produtos representa uma mudança que facilitará a venda para além do agreste. Rapidez não falta às empresas da região. A maioria delas não faz mais que 300 peças por modelo de forma a apresentar sempre novidades.
A melhor distribuição de renda permitiria aliar a posição de pólo produtor de jeans ao de mercado consumidor de roupas com estilo.
foto: GBLjeans