Masculino e infantil estão homologados pela ABNT, mas falta o segmento feminino que deve estar pronto até meados do ano que vem.
O movimento pela padronização de roupas no Brasil deu passos importantes com a publicação de modelos de medidas para os tamanhos do masculino e do infantil. O feminino – segundo as confecções, bem mais complicado de definir pois a modelagem é mais justa e tem que atender mais biotipos corporais – deve ficar pronta até o primeiro semestre do próximo ano, informa a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “A adesão da indústria e confecções ainda está em processo e vai facilitar em muito a compra de vestuário, inclusive pela internet, sem as diferenças de tamanho observadas hoje em cada marca”, ressalta Maria Adelina Pereira, superintendente do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário da ABNT.
Hoje há diferenças em peças de roupas da mesma numeração produzidas por fabricantes diferentes, o que impede que o consumidor possa se orientar apenas pelo tamanho que está habituado a comprar. “À medida que a padronização for adotada, o consumidor poderá escolher a roupa de acordo com suas medidas”, explica Maria Adelina. Assim como aconteceu no infantil e no masculino, não há imposição para que o padrão seja adotado pela indústria e confecções. No caso das empresas que vendem pela internet esse movimento está sendo mais rápido pois nesse canal o cliente é obrigado a se orientar pelas medidas, diz Maria Adelina. “Com a padronização, o consumidor ficará mais satisfeito e optará por roupas que vistam melhor a partir de suas proporções”, completa.
Para agilizar a padronização do modelo feminino a ABNT firmou uma parceria com a Audaces, empresa brasileira de Santa Catarina, que produz tecnologia para confecções. “A partir de estudos de modelos reais por meio de sistema 3D é possível atender os diferentes tamanhos dos consumidores”, afirma Rodrigo Cabral, diretor de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Audaces. A numeração atual segue padrões europeus e, apesar de serem adaptadas aos nacionais, não se baseiam nos biotipos das brasileiras.
Por meio do Audaces 3D foi possível desenvolver manequins virtuais com medidas mais comuns entre as consumidoras do país a partir de um levantamento feito pelo Senai-Cetiqt, do Rio de Janeiro, que realizou estudos antropométricos com mais de 7,4 mil pessoas. “Com o sistema 3D, os pesquisadores puderam visualizar, pela primeira vez, modelos virtuais com os padrões identificados pela pesquisa. Antes o estudo das proporções médias era realizado sem feedback visual”, explica Cabral. Com isso, as etapas do trabalho, como graduação (criação de tamanhos diferentes) e modelagem podem ser realizadas em espaço de tempo muito menor, afirma. O programa permite fazer um mapa de tensões no corpo e ter informações sobre o caimento da roupa. A partir de um manequim avatar 3D que se ajusta às medidas estão sendo estudados três tipos do corpo da mulher: retangular, triângulo e colher. “Para cada um desses tipos terá um conjunto de medidas”, diz Cabral.
De acordo com Maria Adelina, da ABNT, a norma não quer trazer problemas ou engessar a indústria, mas facilitar a modelagem e reduzir as trocas. “A venda pela internet está empurrando as confecções e a indústria em direção às medidas padronizadas”, diz Maria Adelina.
Marcas que adotaram
O padrão para os públicos infantil e masculino adulto já foi publicado. O tamanho infantil de 0 a 12, por exemplo, tem um conjunto modelo de medidas levando em conta estatura do tórax, medida da cintura e comprimento do braço e não a altura ou idade. Muitas grifes e lojas virtuais já comercializam suas peças observando esse padrão. “Fomos uma das primeiras empresas a adotar a norma infantil que ficou pronta em 2009. Nesse segmento em que geralmente pessoas compram roupas para dar de presente e não têm ideia do tamanho que a criança usa, o padrão teve como consequência a queda acentuada do nível de trocas nas lojas”, afirma Roberto Yokomizo, diretor executivo da confecção infantil YKZ. Segundo o executivo, os clientes gostaram e os lojistas também. “Falta uma maior adesão por parte da indústria”, diz. Entre as vantagens da padronização, ele destaca que não é mais necessário refazer modelagens a cada coleção. Agora, a ABNT está fazendo um aprimoramento da norma para adequar melhor as roupas para o tamanho das meninas. “Quanto maior o número de empresas que adotarem, mais fácil fica para o consumidor”, diz. No ano passado, a YKZ também padronizou a numeração masculina para os uniformes de trabalho produzidos pela empresa.
Roberta de Cillo Cervone Arat, sócia proprietária da Exclusive Uniformes, de Santa Bárbara D’Oeste (SP), que participa do grupo de padronização da ABNT, diz que a adoção das medidas padrão masculinas facilitou em muito o trabalho da empresa. “Para nós é uma questão de logística. Cada lote de uniformes tem uma grade de tamanhos que são enviadas às empresas clientes para conhecerem nossa modelagem e, após a aprovação, chegam as encomendas. Com a padronização não será necessário enviar a grade de tamanhos, economizando tempo e o custo da logística”, afirma Roberta. O processo fica ainda mais complicado, segundo a executiva, quando é necessário mandar as amostras para toda uma rede de franquias. A Exclusive fabrica de 20 mil a 30 mil peças por mês de uniformes das linhas social (hospitalar e hotelaria) e operacional.
De acordo com Raquel Abramant, modelista e responsável pelo desenvolvimento de produto da grife de moda infantil Chicletaria que adotou o padrão em 2009, no início, houve divergências com os tamanhos que os clientes estavam acostumados a comprar nas lojas. “Tivemos que fazer um trabalho com as vendedoras para explicar as mudanças e conscientizar os clientes da importância da norma. Padronizar a modelagem também foi bastante complicado pois já tínhamos modelos clássicos que tiveram de sofrer alterações”, explica.
Segundo Raquel, as crianças se desenvolvem de forma bastante desigual e isso dificulta a realização de um padrão realmente ideal, particularmente para algumas idades, mas ela destaca que a marca registrou queda nas trocas, principalmente de peças básicas. “As peças mais elaboradas ainda sofrem com a diferença de desenvolvimento de criança para criança”, diz. Alguns tamanhos tiveram muitas alterações e alguns, em sua opinião, não são coerentes com o corpo das crianças, principalmente os comprimentos. “As normas poderiam conter uma maior descrição da pesquisa realizada para sua criação pois facilitaria o entendimento e a adoção”, afirma Raquel.