Aplicativo monitora trabalho justo em marcas de moda

App Moda Livre, desenvolvido pela agência de notícias Repórter Brasil, aponta a sustentabilidade da cadeia têxtil de 119 varejistas, dos quais apenas 18% estão na categoria ‘verde’

Combater o trabalho escravo na moda exige supervisão constante de governo, varejistas e consumidores, e envolve o controle de toda a cadeia produtiva. Para dar mais transparência ao processo, a agência de notícias Repórter Brasil desenvolveu o aplicativo para celulares Moda Livre, uma base de dados com atualmente 119 marcas, mostrando se combatem (ou não) esse tipo de exploração na produção da roupa.

O app inclui informações sobre empresas nunca responsabilizadas em fiscalizações do governo. A mais recente atualização, lançada a uma semana do Natal de 2017, inclui pela primeira vez nomes conhecidos no mercado nacional como Topper, Rainha, Timberland, Reserva, Hope e Mash. O aplicativo para smartphones existe desde 2013 e está disponível gratuitamente para iPhone e Android.

Para incluir as empresas no aplicativo, a agência Repórter Brasil envia um questionário-padrão para marcas e grupos varejistas de moda em atividade no país. As repostas geram uma pontuação que classifica as empresas em três categorias: verde, amarela e vermelha. As que não respondem ao questionário são automaticamente colocadas na classe vermelha devido à falta de transparência.

MARCAS NA CATEGORIA VERDE
Das 119 marcas monitoradas pelo Moda Livre, 18% estão na categoria verde. São empresas que demonstram ter mecanismos de acompanhamento sobre sua cadeia produtiva, e que apresentam histórico favorável em relação ao tema. Na categoria intermediária – amarelo – estão 36% das marcas. Os 46% restantes estão na categoria vermelho, ou seja, não demostraram ou não informaram adotar ações minimamente adequadas para evitar casos de trabalho escravo na produção de suas roupas, explica Carlos Juliano Barros, um dos coordenadores do Moda Livre.

As respostas dadas pela marca devem ser acompanhadas de provas de que a empresa cumpre com boas práticas, como contratos e comprovantes de treinamento, entre outros documentos.

Na categoria ‘verde’ estão empresas como Ahlma, Dudalina, Malwee, Reserva, C&A e Calvin Klein. Figuram no ‘amarelo’ as marcas Americanas, Cavalera, Cori, Farm, Hering, Bobstore, Luigi Bertolli, Rosa Chá, Zara e Pernambucanas, entre outras. As varejistas que estão no vermelho incluem Animale, A.Brands, Barred’s, Brooksfield, Centauro, Colcci, Forever 21, Forum, Gregory, Lilica & Tigor, M.Officer, Raje Jeans, Timberland, TNG, Track & Field, Vila Romana, além de muitas outras.

INDICADORES DA CADEIA PRODUTIVA
A avaliação de como as empresas monitoram as condições de trabalho de seus fornecedores se dá a partir de quatro indicadores básicos: Políticas, Monitoramento, Transparência e Histórico. Em Políticas, as empresas mostram os compromissos assumidos para combater o trabalho escravo em sua cadeia de fornecimento. No Monitoramento, as medidas adotadas para fiscalizar seus fornecedores de roupa. No critério Transparência aparecem as ações tomadas pelas empresas para comunicar a seus clientes o que vêm fazendo para monitorar fornecedores e combater o trabalho escravo. E o Histórico é um resumo do envolvimento das empresas em casos de trabalho escravo, segundo dados das autoridades competentes. Até o final de 2017, o app registrava 100 mil downloads.

O sistema analisa o histórico e as ações de combate ao trabalho escravo que são tomadas pelas marcas de qualquer porte no mercado de moda brasileiro. “O aplicativo não recomenda que o consumidor compre ou deixe de comprar de determinada marca ou loja, apenas informa sobre as marcas”, aponta Barros. A atualização do Moda Livre conta com o apoio da DGB Bildungswerk, central sindical alemã.

AUTUAÇÕES
Desde 2010, 37 marcas e varejistas de roupa foram responsabilizadas pela exploração de trabalho escravo no Brasil. Mais de 400 costureiros e costureiras foram encontrados em condições análogas à escravidão. A maioria dos casos ocorre em pequenas confecções que atuam como terceirizadas, na região metropolitana de São Paulo. As vítimas mais comuns são imigrantes de países sul-americanos que trabalham em oficinas em condições degradantes, suscetíveis a incêndios e caracterizadas pela falta de higiene, e que muitas vezes também servem de moradia aos trabalhadores.