Iniciativa que reaproveita sobras para outras criações tem planos de expandir a iniciativa para outros pólos têxteis.
A destinação de tecidos não utilizados ainda é um grande gargalo no mundo da moda apesar de leis que exigem o descarte sustentável. Sensibilizada pelo problema, a coreógrafa e figurinista Lu Bueno, que possuía cerca de 800 quilos de tecidos de cores, padronagens e tamanhos variados, acumulados após 20 anos de trabalho no cinema, teatro e televisão, viu na criação do Banco de Tecido a solução para lidar com esse estoque e difundir a experiência para outras empresas. O projeto, criado com recursos próprios, foi um dos dez finalistas do Fabric Changemakers, evento que fez parte do Copenhagen Fashion Summit que uniu diversas iniciativas sustentáveis na Dinamarca entre os dias 9 e 12 de maio.
Criado no ano passado, o Banco de Tecido recebe sobras das confecções e de fábricas e os recoloca no mercado para outros usos. Também o consumidor final pode depositar seus tecidos, sacar outros em troca ou comprar a quantidade que precisa. “Além do preço, a vantagem é que o acervo conta com tecidos exclusivos e antigos que não podem ser encontrados no comércio tradicional”, afirma Lu Bueno, destacando que a empresa não trabalha com resíduos ou retalhos.
A loja, localizada no bairro Vila Leopoldina, em São Paulo, não tem estoque fechado, pois os produtos entram e saem conforme as pessoas trazem as peças. “O ano passado teve um giro de 1,5 tonelada de tecidos atendendo em torno de 200 usuários, chamados de correntistas, pois participam de um sistema de trocas”, explica Lu. A loja vende o tecido por R$ 45 o quilo de qualquer tipo. Quem traz produtos ganha um crédito de 25% do volume depositado para adquirir outros na loja.
O público consumidor é bastante variado, composto principalmente por estilistas, estudantes, criadores, artesãos e encadernadores. “Somos bastante conhecidos por todas as faculdades de moda da cidade e recebemos estudantes que vêm comprar pequenas quantidades para suas criações em trabalhos que têm como referência a sustentabilidade”, explica Lu. Uma das vantagens do Banco é vender quantidades pequenas com peças a partir de 50 x 50 centímetros, 1 metro por 50 e até rolos 30 metros. Além de estudantes e consumidores finais, o Banco vende para outros negócios de moda sustentável como as marcas Flávia Aranha e Karmen, e a fabricante de sapatos veganos Insecta Shoes.
O desperdício têxtil é bastante grande entre as fábricas e confecções pois as empresas encomendam acima da metragem do que necessitam, contando com as sobras por segurança. Esses rolos que seriam descartados podem ser reaproveitados em diversas criações, ressalta Lu. O Banco é parceiro de outros projetos sustentáveis como uma fábrica de Araraquara que reaproveita 100% dos fios de malhas descartadas e a Ecosimple que desfibra tecidos para reaproveitamento. O Banco recebe qualquer tipo de tecido e tem em seu estoque principalmente malha, tecido plano e o índigo cru, mais escuro.
Além da matriz na Vila Leopoldina, o projeto conta com uma unidade na Consolação, no bairro dos Jardins em São Paulo, e uma loja em Curitiba, no Paraná, que integram um projeto de coworking de moda. A ideia, segundo a empresária, é ampliar a rede de lojas difundindo o know how do sistema para outros polos têxteis como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Para concretizar o projeto ela quer desenvolver uma plataforma digital que una as iniciativas independentes em uma mesma rede. “Estamos em busca de investidores para bancar o plano de expansão e financiar a plataforma”, completa Lu Bueno.