Apresentação durante o Senac Moda Informação, em São Paulo, destacou sustentabilidade e transparência na indústria.
As mudanças no modo de consumir e produzir moda também está revolucionando o jeito de se fazer o jeans. As peças versáteis, para todas as ocasiões, acompanham as tendências tecnológicas e a ênfase na sustentabilidade.
O compartilhamento de conhecimentos e experiências veio para ficar no mercado da moda. O antigo jeito de desenvolver produtos de forma vertical, pelo qual a marca cria, a indústria produz e o comércio vende para determinado público, se inverteu. “É o público de nicho que desenvolve as idéias que vão alimentar o conceito do produto e sua identidade”, afirma o consultor de moda Maurício Lobo, durante o Arena Denim, painel do Senac Moda e Informação, promovido pelo Senac Lapa Faustolo, em São Paulo.
A peça, fruto desse desenvolvimento, vai ser produzida por uma rede de colaboradores. Toda essa cadeia, de acordo com Lobo, se pauta pela transparência entre parceiros e processos. “Não existe mais segredos industriais, estamos na era do conhecimento compartilhado”, ressalta.
Entre as tendências para as em peças denim, Lobo destaca a originalidade do estilo japonês que inclusive faz parte do próximo símbolo dos Jogos Olímpicos de 2020. Um estilista japonês especializado em denim que despontou no país asiático é Gaku Tsuyoshi que desenvolve calçados e tênis com resíduos de denim reciclado. O Japão trabalha com dois estilos, o Sol Nascente com desenvolvimento de técnicas em cima do denim, como patchwork e mosaicos. Na modelagem, apresenta formas amplas e na lavanderia usa efeitos artesanais. Outro é o Erosion, inspirado em trabalhadores do mar com barras dobradas, roupas raspadas e materiais desgastados.
A lavanderia das peças também evoluiu e é parte integrante do estilo. “Os serviços se modernizaram e hoje se exige um designer para desenvolver uma peça a laser ou efeitos 3D e não apenas um técnico”, afirma Lobo. Helson Andrade, diretor da lavanderia Acqua Doce, de Indaiatuba (SP), destacou que as informações dos vários departamentos da lavanderia estão integradas, e isso se reflete na qualidade do produto final.
Sustentabilidade não pode mais ser considerada diferencial, virou “default”. Já existem marcas, como a Diesel, que estão colocando código RFID (tecnologia de código de barras para leitura por radiofrequência) dentro do cós da calça para saber quando o consumidor descarta a peça. Lobo também apontou duas outras tendências de estilo: o “flat & worn” mais liso, com menos nuances e livre de resíduos. Já o “wild nature” é o jeans original desgastado, com resíduos como puídos e mais marcado pelo passar do tempo. “Nas passarelas vemos coleções com mix de tecidos, sobreposições e silver coating”, explica.
A inovação nas formas define a opção da Calvin Klein. A marca reúne estilistas do mundo inteiro para definir modelagens que posteriormente são customizadas para as medidas de cada país, explicou Cristiane Ruiz, responsável da área de denim da grife no país. Além das tradicionais modelagens slim, skinny e jogging, está trazendo ao Brasil a carrot, super skinny e streiht (mais curta).
UPCYCLING
O reúso do denim é outro eixo cada vez mais presente na indústria, pois trata-se de um tecido com grande durabilidade. Agustina Comas, que tem marca própria, desenvolve novas peças a partir de outras descartadas, em um processo chamado de ‘upcycling’. “São produtos acabados que se transformam em outros itens”, explica a empresária. Ela trabalha principalmente com camisas em denim e também iniciou o desenvolvimento de tecido a partir de ourelas de jeans. De acordo com Agustina, não basta pegar uma peça e transformar em outra para se considerar sustentável. “É preciso criar uma metodologia e padronizar processos para ganhar escala e baixar os custos de produção, achar um padrão na irregularidade”, aponta. A empresária, por exemplo, desenvolveu um método de enfesto que permite o corte automatizado de um conjunto de peças prontas, sem necessidade de fazer uma a uma.
Ela explica que a reciclagem seria ‘downcycling’ em que o produto ou resíduo é transformado novamente em matéria prima a fim de compor uma nova peça, processo que também busca escala. “Tudo consome muita energia e é necessário analisar os custos com muito cuidado”, afirma Agustina.