Sete passos para a moda sustentável

O fórum Global Fashion Agenda lançou o primeiro relatório com diagnóstico e recomendações sobre investimentos para transformar o modo de como se produz roupas e calçados no mundo

Às vésperas do Copenhagen Fashion Summit, evento mundial sobre sustentabilidade na moda, nos dias 15 e 16 de maio na Dinamarca, o fórum Global Fashion Agenda (GFA) publicou o primeiro relatório com recomendações de medidas a serem implementadas no curto e no longo prazo de modo a transformar o modo como se produz roupas e calçados no mundo. Ao todo, os especialistas estabeleceram sete prioridades para alcançar a moda sustentável, dos quais três deveriam ter implementação imediata. São as que tratam de rastreabilidade de fornecedores; eficiência no uso de água, energia e produtos químicos; e condições de trabalho justas e seguras.

Destinado aos líderes das companhias do setor, o relatório CEO Agenda 2018 contempla tópicos que se alinham aos princípios defendidos pela ABVTex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), declarou em comunicado ao mercado Edmundo Lima, diretor executivo da entidade que representa as principais redes de lojas em operação no país. De acordo com o fórum GFA, a indústria mundial da moda emprega 60 milhões de pessoas e gera 1,5 trilhão de euros em receita, valor que engloba vendas de vestuário e calçados.

SITUAÇÃO ATUAL
O relatório CEO Agenda 2018 foi realizado como resposta ao cenário encontrado depois de um ano de publicado o estudo Pulse of the Fashion Industry. Segundo o documento, atualmente a indústria conta com um pequeno grupo de ‘campeões da sustentabilidade’, que sequer representa 3% do valor do mercado mundial. E o que chama de “nível preocupante de inércia”, representado por quase metade das empresas do setor que não incorporaram qualquer medida de avanço ambiental ou social em suas estratégias de negócios, ainda que reconheçam a importância da questão, por considerarem estar diante de enorme desafio.

Além de listar as ações prioritárias o relatório traça um cenário em três níveis: momento atual da indústria em relação às medidas; por que elas importam; e o que deve mudar ou ser feito.

TRÊS PRIORIDADES DE IMPLEMENTAÇÃO IMEDIATA
Transparência na cadeia de suprimento é uma das primeiras ações recomendadas. Para isso, as empresas deveriam rastrear e identificar seus fornecedores de primeiro e segundo nível para controlar onde e como seus produtos são feitos, além de conhecer a origem da matéria-prima empregada nessa produção. “A rastreabilidade é um pré-requisito para identificar e melhorar o impacto ambiental, social e ético da produção de moda. E permite que as marcas e seus fornecedores identifiquem desafios e riscos ao longo de sua cadeia de suprimentos”, argumenta o relatório.

A recomendação é varejistas e marcas divulgarem regularmente (ou, pelo menos, anualmente) uma lista com seus fornecedores de primeiro e segundo nível. A transparência estimula o envolvimento de todas as partes com a questão da sustentabilidade, avaliam os especialistas. Mais à frente, poderiam ser incluídos da mesma forma os fornecedores do terceiro e quarto nível.

A segunda recomendação é o uso eficiente de água, energia e produtos químicos nas etapas de produção a partir de programas que visem a redução do consumo.

O terceiro passo trata do ambiente e das relações de trabalho em toda a cadeia de produção, e não apenas dentro das empresas. Para isso, as empresas precisariam adotar políticas específicas que afetem toda a cadeia.

OUTRAS QUATRO PRIORIDADES SÃO MAIS COMPLEXAS
Embora sejam consideradas também cruciais as outras prioridades dependem de variáveis, como legislações locais, para serem implementadas. Também podem ser afetadas por avanços tecnológicos, como automação industrial, que mudam o modo como as roupas e sapatos serão confeccionados e comercializados.

A quarta recomendação sugere ampliar o mix de matéria-prima empregada, agregando insumos obtidos com métodos de fabricação menos poluentes ou que consumam menos recursos naturais, que sejam biodegradáveis e desenvolvidos para facilitar o processo de reciclagem. “Os líderes embarcarão em uma jornada de descoberta para desenvolver novos materiais mais sustentáveis”, afirma o relatório.

A quinta prioridade sugere criar um ciclo sustentável, de modo que a indústria de moda produza peças inovadoras capazes de serem recicladas ou reutilizadas em longo prazo, e em escala industrial, para evitar descarte irregular. Segundo o relatório, atualmente, menos de 15% das roupas são coletadas para reciclagem e menos de 1% do material usado para produzir roupas é reciclado em roupas novas no mundo.

Diminuir o uso de material virgem na produção poderia deixar a indústria menos vulnerável a flutuações nos preços das matérias-primas, avalia o GFA. Contudo, a moda está longe de substituir o modelo linear pelo circular. De acordo com o relatório, o progresso é lento por causa de questões regulatórias, logísticas, técnicas e econômicas com coleta e reciclagem de têxteis. É preciso de cooperação com governos e organizações do setor para desenvolver sistemas para recolher o material usado e tecnologias inovadoras que transformem resíduos têxteis em fibras de alta qualidade a fim de serem reutilizadas. Por parte das empresas, a tarefa será treinar as equipes de design e desenvolvimento de produtos para pensarem artigos que sejam feitos para durar, serem desmontados e reciclados. Na produção, incorporar tecidos com fibras recicladas.

O sexto passo recomendado é melhorar os salários. O relatório cita pesquisas mostrando que em muitos países a indústria da moda sequer paga o salário mínimo que cubra as necessidades de um trabalhador. E que embora as marcas e varejistas não tenham poder para definir o valor do salário dos empregados de seus fornecedores, elas podem influenciar mudanças sistêmicas nessa cadeia de valor, como exigir que seus fornecedores atendam a legislação vigente, que paguem pelo menos o salário mínimo, sem atraso ou deduções ilícitas.

A 4ª Revolução Industrial é a sétima etapa desse conjunto de orientações. Reconhece que o avanço da tecnologia digital sobre a produção de artigos de moda é questão de tempo. A recomendação é as companhias se prepararem internamente para essa fase que trará muitos benefícios. E se unirem com outras do setor para discutir e contornar o impacto da digitalização da produção, incluindo políticas públicas, diz o relatório, apontando que um dos efeitos negativos dessa mudança será o grande corte de vagas numa indústria de mão de obra intensiva.