Marcas brasileiras investiram nas redes sociais, mas mantiveram os negócios no plano analógico e agora precisam tirar o atraso.
Com lojas físicas fechadas e sem faturamento, as marcas brasileiras se voltaram para o mundo dos negócios digitais. As que tinham posto o pé nas vendas online estão se esforçando para atrair mais consumidores. Contudo, um vasto número de marcas ainda corre para montar lojas virtuais, sem ter noção da complexidade da tarefa. Nas transações entre empresas, então, o gap digital é imenso. Talvez levem o tempo que durar a crise da covid-19 para estruturar projetos consistentes de TI, e a pandemia sirva como elemento de impulso para transpor o atraso tecnológico da moda brasileira.
Um dos centros atacadistas que mais fatura no Brasil, o Mega Polo Moda, do Brás, prometia lançar ainda em abril uma plataforma de comércio eletrônico. Faria a conexão do banco de dados das marcas que têm lojas no shopping com a base de multimarcas que são clientes do empreendimento, anunciou Juliana Gama, superintendente do centro comercial, durante live organizada pela Denim City são Paulo. A intenção é promover essa integração para gerar negócios, como opção às portas fechadas.
Da região da 44, em Goiânia, o Mega Moda também não dispõe de plataforma de comércio eletrônico. A alternativa tem sido investir na divulgação online das lojas do complexo para chegar até os compradores de todo o país. Para tanto, vai usar as próprias redes sociais e investir em posts patrocinados para criar conexões entre os lojistas e clientes.
Além da ação com os lojistas, o Mega Moda costurou acordo com as transportadoras Satélite, Jadlog, Latam e DHL, que farão, “a partir de suas matrizes”, as entregas das mercadorias negociadas.
OPERAÇÕES COMPLEXAS
Gustavo Farah, fundador da GFN, que distribui 32 marcas, lembrou que não é simples operar uma loja online. O empresário participou da live sobre varejo da DCSP. Além dos aspectos técnicos, aponta que a logística é complicada e não é barata. Tem que considerar um percentual de vendas que se desdobra em três entregas: levar até o consumidor; ele devolver por algum motivo; e ter que retornar de volta. Ganhar relevância para ser encontrado no oceano difuso da internet também demanda tempo.
“Neste momento, as empresas que menos sofreram são aquelas que já estavam em alguma medida digitalizadas, colocando seus programas de inovação para andar”, ressaltou Arthur Igreja, especialista em transformação digital, durante live organizada pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção). Ele conta que muitas empresas tiveram que correr atrás de notebook para colocar os funcionários em home office. E para a maioria o trabalho à distância é uma novidade.
Mas Igreja avalia que as crises tendem a provocar novos comportamentos. E muitas empresas podem sair da crise bem diferentes do ponto de vista tecnológico.
Os especialistas não mencionam, mas a realidade brasileira mostra que as marcas investiram nas redes sociais e na contratação de influencers de toda espécie. Só que não levaram essa audiência para alimentar canais de venda, especialmente o comércio eletrônico, investimento que agora faz falta.