Pioneiro em adotar o QR Code GS1 2D, Brasil tem apenas uma empresa de moda que completou a transição.
Depois de meio século, o velho código de barras entra no modo de aposentadoria. Ainda não é o fim da linha para esse padrão lido 10 bilhões de vezes por dia no mundo inteiro. Mas a transição para o novo padrão QR Code GS1 2D já começou. O Brasil é o primeiro país a habilitar o novo padrão bidimensional GS1 Digital Link. Começou em outubro de 2022 com a padaria Parla Deli, de Recife (PE), interessada em reduzir os desperdícios de alimentos na produção artesanal. No setor de moda, a velocidade de adesão ao novo padrão tem sido, entretanto, bem lenta.
Das cerca de 4,5 mil empresas habilitadas a usar o código de barras GS1 no Brasil, entre os setores de vestuário e têxtil, nenhuma iniciou a transição para o padrão bidimensional. Em moda, apenas o fabricante de calçados Via Marte implementou o novo padrão QR Code GS1 2D em 2023, para solucionar questões operacionais e impulsionar o sistema de serialização de produtos.
No caso de moda, Alessandra de Castro Parisi, executiva de Desenvolvimento Setorial da GS1 Brasil (Associação Brasileira de Automação), comenta que os grandes marketplaces começam a pressionar as marcas, especialmente de vestuário, para dispor de um padrão de identificação inequívoco de produtos, como já acontece na indústria de alimentos. O novo padrão atenderia essa demanda de mercado.
COMO FUNCIONA O NOVO CÓDIGO
Tanto o velho código de barras quanto o novo padrão QR Code 2D foram desenvolvidos e são controlados pela GS1, uma organização de atuação global sem fins lucrativos.
O código de barras massivamente empregado tem a função de identificador de produto. Para isso, incorpora informações padronizadas, mas lineares e fixas, dispostas de maneira a serem decodificadas pelos aparelhos de leitura óptica.
O padrão bidimensional Digital Link 2D dá alguns passos adiante. Recorrendo à tecnologia de QR Code amplamente dominada, a GS1 desenvolveu um padrão que, além dos dados fixos armazenados pelo código de barras, também opera com dados variáveis, inclusive imagens, e outros recursos adicionais. Por esse QR Code, por exemplo, o consumidor pode obter uma série de informações sobre o produto, desde data de validade, instruções de uso, até vídeos, usando a câmera do celular.
A diferença com o QR Code convencional é que a tecnologia da GS1 criou um método que estabelece regras para tratar todas as informações (as fixas e as variáveis), de maneira estruturada e padronizada. Essas informações são contidas numa URL (o QR Code) permitindo que sejam lidas por toda a cadeia do produto, do mesmo jeito, explica ao GBLjeans Alessandra, da GS1 Brasil.
Representa, assim, um aliado para sistemas de rastreabilidade de cadeias de produção e transparência para o consumidor. No entanto, seguindo a hierarquia do padrão, as empresas decidem o tipo de informação que irão liberar.
DESAFIOS
Se o conceito é simples de entender, a implementação demanda trabalho técnico. Conforme Alessandra, a GS1 tem oferecido consultoria para estimular que as empresas (indústria, varejo, provedores de solução) façam a transição. “A gente auxilia desde o levantamento das informações, analisa se o software e o hardware estão parametrizados para o novo padrão”, cita.
Com um sistema de rastreabilidade, o SAI, que usa código de barras padrão GS1 para leitura, a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtos de Algodão) não tem planos imediatos de migrar para o novo padrão bidimensional. “Tem que estudar o assunto com bastante cuidado e antecedência”, afirma Silmara Ferraresi, diretora de relações institucionais da Abrapa.
Ela lembra que no sistema do algodão brasileiro o código de barras é a porta de entrada para uma série complexa de informações que abastece empresas compradoras do mundo inteiro. “A transição implica mudanças processuais no SAI. E o padrão bidimensional ainda não é largamente utilizado no mundo”, explica Silmara.
OPORTUNIDADES
A GS1 destaca alguns benefícios do novo padrão. Para a indústria, pode funcionar como uma embalagem estendida, mediante a inserção de dados adicionais e variáveis; ou para ações de prevenção de perdas, recall, logística reversa, economia circular, sustentabilidade, campanhas promocionais, entre outras aplicações.
No caso do varejo, pode facilitar controle de estoque, prevenção de perdas, ações de comunicação com o consumidor. E, assim como para a indústria, a transição exige mudanças importantes. O case mundial nessa área é a Puma que tem um piloto numa loja de Nova York para testar os impactos do novo padrão no dia a dia operacional.
A primeira providência para os varejistas avaliarem a migração é verificar se os leitores ópticos que usa nos ponto de venda estão aptos a reconhecer o novo padrão GS1 Digital Link 2D, que é na verdade uma imagem. Alguns requerem mudanças simples de configuração, como habilitar a função de leitura de imagem, comenta Alessandra, da GS1. “As empresas têm essa oportunidade. Muitas vezes a transição independe de aquisição de equipamento para impressão e leitura do código ou de software, mas de entender como estruturar a informação para disponibilizar melhor”, completa a executiva.