Palestras de moda da Vicunha e da WGSN ressaltam a importância de repensar as bases do desenvolvimento.
Com a crise climática invalidando o conceito da divisão por estações como conhecíamos, surge a urgência de usar novo arsenal de estilo que moldará as coleções daqui para frente e o verão 2026 não escapa desse processo. Duas palestras de moda durante a Febratêxtil 2025 abordaram essa perspectiva que constitui um desafio e tanto para marcas e estilistas. E que ganhará mais intensidade pelo fato de o Brasil sediar a COP 30 em novembro.
“Peça de transazonalidade não é peça de transição entre uma estação e outra”, afirmou a pesquisadora da empresa de tendências WGSN Mariana Santiloni. Ela explicou que peças que chama de transazonais são concebidas para mudar o look conforme a combinação.
A transazonalidade muda de acordo com a mistura de materiais e cores, sobreposições e camadas. São itens versáteis, muitas vezes modulares, que se adaptam à moda do calor e do frio, diz.
Também Lorena Botti, coolhunter da Vicunha Têxtil, ressaltou que a crise climática moldará o verão como pano de fundo dos desenvolvimentos. Mesmo que ainda em fase final de preparação, a pesquisa da Vicunha, que será apresentada oficialmente em maio, passa por encaminhar temas que de alguma forma refletem a angústia do ser humano diante da urgência do clima, e como reage a ela. È a psicologia do clima.
Ecosansiedade é o medo de um cataclismo ambiental que comprometa o futuro humano na terra combinado à urgência de agir.
Solastalgia é o desconforto profundo diante da alteração do ambiente natural, que pode levar ao sentimento de perda e de descrença quanto ao futuro.
Paralisia climática representa o fatalismo de que nada pode ser feito para alterar o rumo do aquecimento global.
ACOMODAR A FALTA DE ESTAÇÃO
Mariana Santiloni, da WGSN, recomenda começar por trabalhar clássicos repaginados e atualizar itens básicos. “Isso significa que o trench coat que foi moda nos anos 2000 não pode ser o mesmo do verão 2026”, ressalta. O trench coat atual é mais volumoso e cropped, aponta. Ou pode funcionar como um vestido, e não como casaco, aponta Lorena Botti, da Vicunha.
Experimentar cores vibrantes, fora do tradicional, em peças clássicas, como blazers e trench coat, também funciona como atualização. Aliás, o GBLjeans produziu webstory abordando os casacos em denim que viram curinga para dias amenos
Alfaiataria reconstruída atende o retorno obrigatório ao escritório, intensificado em 2024 e que será mantido. Também vale pensar no que chama de “travel friendly”, representadas por peças feitas de tecidos que não amassam ou desamassam rapidamente. Vale ainda peças multiuso que servem tanto para ir ao escritório como para um passeio informal.
ESTILO A INVESTIR
As duas profissionais apontaram as principais recomendações para integrar o verão 2026.
:: Peças : camisas oversized ou acinturadas, com amarração com efeito de lenço; vestidos longos; cardigãs; jorts; camisetas alongadas; saias na altura dos joelhos; calças em soft volume; batas; blusas alongadas; jaquetas.
:: Estampas : retorno forte dos maquinetados, também no denim; listras, florais ou xadrez sobretudo nos vestidos; florais mais no estilo primaveril do que tropical; animal print, que deixam de lado onças, tigres e zebras, cedendo lugar para insetos, asas de borboleta, pele de cervo.
:: Detalhes : laços (românticos, sem ser ingênuos); franzidos; texturas resinadas e coats; babados; bases leves; franjas; pedraria brilhante
:: Cores : tonalidades desgastadas; cores pastel ou adocicadas como rosa e verde; verde lima; melancia; cor Future Dusk aplicada mais para o jeans masculino; soft pink, como um novo neutro; vermelhos marcantes; cereja; turquesa; índigo; amarelo; marrons aplicados em seda ou crepe.