Coolhunter Lola Botti, da Vicunha, explica como ressignificar o estoque para as festas combinando nas vitrines novas formas de exposição
Às vésperas das festas de fim de ano, e mesmo carregando estoque, o varejo de moda pode transformar o que já tem em propostas festivas e de alto impacto comercial nas vitrines, avalia a coolhunter da Vicunha Têxtil, Lola Botti, referência em antecipação de movimentos da moda e comportamento, especialmente no mercado do jeans. No pingue-pongue a seguir, a especialista sugere como reposicionar peças em denim e sarja para as festas de fim de ano, reorganizar vitrines por ocasiões e usar storytelling para impulsionar o sell-out da temporada.
Quais tipos de coordenações, combinações e exposições podem ajudar a comunicar “looks festivos” com peças que, originalmente, não foram planejadas para essa data?
Mesmo com o mix de dezembro já comprado, é superpossível transformar a coleção em uma espécie de “guarda-roupa de festas” desde que mudemos um pouco o olhar sobre coordenação e exposição. Mais do que peças temáticas, o que faz um look parecer festivo é o contexto em que ele é apresentado. Elementos como cor, textura, styling e o próprio VM [visual merchandising], sendo bem trabalhados, têm poder de criar narrativas diferentes e impactantes.
Acredito que reorganizar a loja por ocasiões, e não apenas por categorias, pode trazer soluções bastante chamativas. Por exemplo, em vez de separar só por calça, camisa ou vestido, os lojistas podem criar cápsulas como “ceia em casa”, “festa da firma”, “virada na praia” ou “noite na cidade”. Nós estamos vivendo em um momento onde a experiência vale muito, então trazer essas temáticas das ações em si agrega bastante valor. O cliente se imagina na cena. Então uma mesma calça jeans ou sarja, que hoje está diluída na arara, ganha, neste contexto, outra leitura quando, por exemplo, aparece combinada a camisas fluidas, tops estruturados, sandálias metalizadas ou acessórios com brilho.
No fim de ano, o que conecta as pessoas às vitrines não é só o produto, é a emoção que ele aciona. Storytelling, nesse contexto, significa transformar vitrine em cena, e não apenas em exposição de peças. Quando trazemos o comportamento em conexão com o produto, há muito mais chance de impactar o cliente. Mesmo com o mix já comprado, o lojista pode contar histórias muito potentes.
Construir micronarrativas visuais traz mais conexão. Os manequins passam a representar personagens e momentos, não apenas “looks bonitos”. Um jeans reto escuro pode ser o look de quem sai direto do escritório para o brinde, enquanto a sarja clara veste quem vai da praia para a mesa do jantar.
Como marcas de jeans podem ajudar as multimarcas a reorganizar a loja para acionar o clima festivo?
Uma forma prática de apoiar as multimarcas é desenvolver guias visuais com sugestões de vitrines e coordenações por tema. Por exemplo: vitrines de “renovação” com jeans e sarjas em branco, off white e gelo; cápsulas de “paixão e presença” com vermelhos em diferentes lavagens e bases; e propostas que misturam denim escuro e detalhes metálicos para uma leitura mais noturna. Esses materiais podem ser compartilhados, por exemplo, em PDFs com moodboards inspiracionais que combinam os looks das marcas de jeans com elementos de VM e indicam sequências de looks fáceis de replicar na loja.
Pode ser um bom momento também para explorar tags, pois elas são excelentes espaços de comunicação. Elas podem trazer explicações sobre a simbologia das cores, por exemplo. Também podem reforçar o papel do denim nas celebrações, etc. Quando a marca entrega um “passo a passo” de VM ou tags “celebrativas”, ela ajuda o lojista não só a organizar vitrines, araras e mesas sem precisar contratar um visual merchandiser especializado, assim como também fortalece a leitura da coleção e a percepção de valor das peças.
Como os lojistas podem usar storytelling nas vitrines para conectar as narrativas emocionais às peças já compradas para o fim de ano?
Textos curtos ajudam a amarrar essas histórias sem pesar a comunicação. Frases como “para brindar o que fica e o que vem”, “para abraços demorados” ou “para dançar até o ano nascer” aproximam o produto da emoção. O importante é que cor, styling, cenário e mensagem conversem entre si. Ah, e humor… fim de ano é intenso, feliz. Todo mundo quer rir, se divertir, então vale a pena brincar, despertar esse sentimento alegre nas pessoas. O segredo é utilizar essas estratégias para conectar estoques existentes a camadas mais emocionais, fazendo com que o cliente se enxergue na vitrine como protagonista da própria celebração.
Como reposicionar o jeans reposicionar para ocasiões festivas?
Denim e sarja podem assumir, nas festas, o papel de nova alfaiataria que é, aliás, um estilo que tem crescido. Em vez de serem lidos apenas como básico do dia a dia, podem ser reposicionados como peças de upgrade para quem quer algo sofisticado, mas ainda confortável e versátil.
O jeans escuro de lavagem limpa, por exemplo, funciona como “calça social contemporânea” quando bem coordenado com camisas de tecidos mais nobres, bodies estruturados ou blazers de bom caimento. Já as sarjas claras e o white jeans têm total conexão com o imaginário de réveillon e renovação, sobretudo em modelagens mais alongadas, macacões, conjuntos e saias com construção mais trabalhada. Mesmo sem brilho literal, o corte, a proporção e os detalhes fazem essa passagem para o festivo.
Que tendências identificadas neste fim de ano podem orientar rearranjos de mix e curadoria de peças já disponíveis no estoque, como as estéticas do “branco minimalista” e do “vermelho vibrante”, sem que o lojista precise fazer novas compras?
O branco minimalista é um bom ponto de partida. Reunir branco, off white, gelo e cru em uma mesma cápsula, com linhas limpas e texturas agradáveis ao toque, já comunica ideia de renovação, mesmo com produtos pensados para o dia a dia. O vermelho vibrante entra como ponto de energia do mix. Concentrar todos os tons, do escarlate ao bordô, e usar a cor como foco de vitrine ou em detalhes de looks ajuda a ativar peças que estavam dispersas, carregando simbologias de paixão e presença. Os blacks completam esse eixo, sobretudo em jeanswear e sarjas escuras. Pretos, grafites e azuis profundos, quando mostrados em composições mais limpas, ganham leitura de elegância urbana.
Além das cores, o jeanswear oferece um recurso extra para o varejo de festas por meio da lavanderia e dos trabalhos de superfície. Ao reorganizar o mix destacando lavagens mais especiais e acabamentos que trazem sensação de luminosidade ou relevo, o lojista amplia a leitura de celebração com o que já possui em coleção, apenas mudando a forma de editar e apresentar essas peças na loja.



fotos: divulgação




