A Better Cotton Initiative concede licença a fazendas de algodão, mas no Brasil apenas para aquelas certificadas pelo ABR, da Abrapa.

Ao longo do tempo, o mercado foi assumindo algumas premissas como a de que estampar a marca BCI significa que todo o produto daquela empresa usa algodão sustentável. Não é bem assim. Entenda como funciona o modelo. A Better Cotton Initiative é uma organização sem fins lucrativos oficialmente criada em 2009 para fornecer treinamento e capacitação em práticas agrícolas mais sustentáveis. A entidade trabalha com produtores de diferentes partes do mundo, incluindo o Brasil. As fazendas devem atender aos principais requisitos de produção a fim de obter licença para cultivar e vender seu algodão como Better Cotton (BC).
Os recursos para essa atuação global são garantidos pela adesão de diferentes agentes da cadeia de produção têxtil. Atualmente, a BCI reúne quase 2 mil associados de diversas áreas da cadeia têxtil. Do total, 1,7 mil são fabricantes têxteis e confecções; 29 são associações de produtores de algodão; 194 são marcas de roupas e varejistas de moda; 35 são representantes da sociedade civil; e 16 correspondem aos chamados associate members.
Em função desse apoio financeiro, esses associados podem usar na comunicação de seus produtos a marca BCI. Ela sinaliza que a empresa apoia práticas sustentáveis ao nível do campo.
Aderiram à iniciativa 53 empresas brasileiras, ativas até julho de 2020, sendo que 13 são fabricantes de denim e sarja. Do varejo, Lojas Renner e Riachuelo. A C&A Internacional é membro desde 2015.
A iniciativa conta, ainda, com parceiros de financiamento de atividades.
1/3 DO ALGODÃO BCI SAI DAS LAVOURAS BRASILEIRAS
No mercado brasileiro, a BCI tem parceria com a Abrapa (Associação Brasileira de Produtores de Algodão) desde 2013. O trabalho coordenado é executado no âmbito do programa ABR (Algodão Brasileiro Responsável), que certifica fazendas dentro de uma determinada safra. Dessa forma, só após receber a certificação ABR, o produtor pode requerer a licença da BCI. Mais recentemente, o programa engloba também as unidades beneficiadoras.
Mas, nem todo algodão brasileiro certificado é necessariamente BCI. O produtor faz a opção pela licença ao dar início ao processo. Segundo a Abrapa, em termos de critérios, o ABR tem 153 requisitos a serem atendidos de acordo com a legislação trabalhista e ambiental do Brasil. Da BCI são outros 25 critérios de produção, os mesmos usados no mundo inteiro.
O Brasil é o maior fornecedor mundial de algodão Better Cotton. “Atualmente, 1/3 de toda a pluma BCI, que circula no mercado global, saiu de lavouras brasileiras”, afirma comunicado da Abrapa.
Em 2019, o algodão BCI correspondeu a 22% da produção mundial. De acordo com o relatório da BCI, essa participação alcançou 5,6 milhões de toneladas de algodão em 2019, cultivado em 23 países. Volume suficiente para produzir 8 milhões de calças jeans no ano, no mundo, exemplifica o comunicado.
CONTROLE DA CADEIA ASSUME MÉTODO DE COMPENSAÇÃO E CRÉDITO
A BCI adota um sistema de controle da cadeia de custódia, ou seja, o caminho do produto desde que saiu do campo e sua movimentação dentro da cadeia de produção. É conhecido por Better Cotton CoC (Chain of Custody) e atua em dois níveis. Um desses é o controle de segregação física exigido desde o produtor até a unidade beneficiadora da pluma.
Eles precisam armazenar, transportar e processar o Better Cotton separadamente de qualquer algodão convencional. Isso garante que todos os fardos sejam 100% BC e possam ser rastreados até os agricultores licenciados, explica a entidade.
MODELO DE BALANÇO DE MASSA DA BCI
Após esse nível, para fabricantes têxteis, confecções e varejistas, a BCI trabalha com o modelo de balanço de massa (mass balance). Trata-se de um sistema de rastreamento de volume que permite que o Better Cotton seja substituído ou misturado ao algodão convencional. Não é requisitada a segregação física do BC. Até porque, pelo baixo volume de BC, seria um processo caro separar e rastrear a fibra por toda a cadeia de produção até o produto final vendido no varejo.
Em seu relatório de sustentabilidade, a C&A UK explica o processo. “Equilíbrio de massa significa que o resultado deve ser equilibrado com o que foi inserido. Por exemplo, ao fazer um pedido de 1 tonelada de camisetas de algodão, um varejista pode solicitar que 1 tonelada de Better Cotton seja associada a esse pedido, de modo que um produtor de algodão em algum lugar deverá produzir 1 tonelada de algodão conforme o Better Cotton Standard. Isso é registrado no sistema da cadeia de custódia da BCI e os créditos para esse pedido são repassados pela cadeia de suprimentos com o mesmo peso em algodão, de uma fábrica para a outra”, descreve o relatório.
Desse modo, a cadeia do BC é incentivada. Porém, muito provavelmente o algodão BCI não estará na composição do produto final, como a camiseta.