Aumentou no Brasil a procura especialmente entre os padrões que certificam conteúdo orgânico e de reciclados usado em produtos.

Embora na área têxtil e de roupas não tenham o mesmo peso entre os consumidores como aqueles que atestam a procedência de alimentos, o setor está de olho nos certificados. O interesse tem sido impulsionado pelas empresas que buscam aumentar participação no mercado internacional e precisam da acreditação independente de que atendem aos padrões de classe mundial. Também há a imposição das grandes empresas do varejo que não querem colocar a marca em risco ou estão em busca de abraçar a causa ambiental, obrigando os fornecedores a apresentar comprovações neutras de compliance.
O consumidor comum brasileiro, que sustenta a maior parte do mercado, ainda pondera entre preço e qualidade para decidir a compra. E não valoriza tanto as certificações como critério de escolha. “Mesmo na Europa, apenas os países escandinavos valorizam a etiqueta de sustentabilidade. No resto eu não vejo essa preocupação”, afirmou Manuel Pizarro, da lavanderia portuguesa que leva seu sobrenome. Ele fez o comentário durante webinar brasileiro sobre sustentabilidade no setor de lavanderias.
ATESTAR CONTEÚDO
Robert Stam, gerente de negócios da Control Union Certifications, afirma que a empresa tem recebido mais consultas para os certificados que atestam percentual de material orgânico ou reciclado em um produto. “Devido a esse aumento de procura estamos qualificando mais auditores locais”, comenta Stam. Segundo o executivo, ter um time local maior deverá reduzir o valor da certificação. “O Brasil é diferente de outros mercados, então precisa ter especialistas com conhecimento em legislação brasileira”, acrescenta.
De acordo com Marjorie Platero, analista da Control Union Certifications, a média era de cinco consultas por ano no setor têxtil. “Até agora, sem muito esforço, recebemos 30 consultas em 2020”, afirma. Ela não consegue identificar a causa para as empresas estarem de olho nos certificados. Uma possibilidade considerada é que devido à pandemia de covid-19, o pessoal esteja com tempo para estudar mais os protocolos. Ou pode ser uma mudança de mentalidade empresarial.
QUANTO CUSTA E QUANDO INVESTIR
Individualmente, uma certificação pode não pesar tanto no caixa das empresas. Cada uma pode custar em média R$10 mil por ano. Para a indústria, o custo varia conforme a complexidade da estrutura, o número de funcionários e a quantidade de fábricas, entre outras variáveis, explica Bruno Casagrande, gerente comercial de certificação da Fundação Vanzolini. A validade das certificações gira em torno de três anos, com auditorias anuais de verificação.
O peso do investimento aumenta conforme a necessidade de obter novos, e diferentes, certificados. “Certificações não são caras. Esse é um paradigma a ser quebrado. Se bem usadas, elas se pagam com os recursos que oferecem. Quando você mede, você tem entendimento, você controla, e melhora”, argumenta o consultor James Nadin.
PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR
Na avaliação de Marcel Imaizumi, diretor de operações da Vicunha, o setor deveria ter em conta que selos e certificações obtidos pelos diferentes elos da cadeia servem de proteção ao consumidor. “São necessários e importantes e são eles que fazem a ligação do consumidor com a cadeia”, ressalta o executivo. Embora sejam muitos, ele reconhece que não dá para evitar. “Os selos representam os compliances com os quais as empresas precisam estar de acordo”, conclui.
Como o consumidor que não é engajado ou ativista não vai se debruçar em entender qual certificação atesta o quê, ele considera apenas “os flashes de informação dados no momento da compra”, comenta o diretor. Daí, a responsabilidade do varejo em realizar campanhas com base em certificações de credibilidade.
Para Casagrande, da Fundação Vanzolini, as empresas deveriam também pensar no consumidor ao investir em certificados. “Quando se tem padrões pré-definidos, o consumidor consegue fazer benchmark”, pondera o gerente.
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