Em encontro na Abit, a ministra da Cultura defendeu a aprovação dos projetos de três estilistas, disse que eles são os primeiros, que espera outros e que a lei Rouanet não apoia marcas comerciais.
Para uma manhã de segunda-feira, o auditório da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) estava lotado. A platéia esperava o encontro com a ministra da Cultura, Marta Suplicy, e de esclarecimentos sobre a aprovação dos projetos dos estilistas Pedro Lourenço, Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga, que somados poderão captar R$ 7,5 milhões via lei Rouanet. A ministra fugiu da polêmica e disse que esses foram os três primeiros e que, a partir de agora, “existe essa possibilidade” (de a moda usar incentivos previstos por esse dispositivo).
Rebateu as críticas afirmando que os três projetos se enquadram nos dispositivos da lei e da política de estado. “Damos força a grupos com menos possibilidades e a moda é um deles, apesar de ser considerada de luxo, e não é. A moda é uma cadeia produtiva gigantesca. Temos que criar nossa marca Brasil”, afirmou, avisando em seguida: “Não vamos patrocinar marcas comerciais”. Contou que o primeiro projeto analisado foi o do estilista Pedro Lourenço, inicialmente rejeitado por um colegiado de 14 votos – sete contra e sete abstenções. O estilista recorreu da decisão, a ministra estranhou tantas abstenções, fez uma nova avaliação e concluiu que o projeto se enquadrava na política de estado de internacionalização da marca Brasil.
Na sequência, foram aprovados os projetos dos outros dois estilistas. Justificou a decisão dizendo que desfiles em Paris e Nova York, assim como na São Paulo Fashion Week, representam mídia espontânea e de alta exposição para o país. “Levar o nome do Brasil para fora, mostra que o Brasil tem moda. Isso abre caminho comercial para todas as confecções”, argumentou a ministra. Quando Glicínia Setenaraski, do Casulo Feliz, fiação e tecelagem de seda, no Paraná, questionou se haveria contrapartida para a liberação dos recursos, como uso de insumo nacional, o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, Heilton Menzes, afirmou que a lei não exige isso.
Quem quer captar
Segundo Menezes, a análise de projetos da área de moda está levando em conta quatro aspectos: internacionalização; tradição brasileira; preservação e criação de acervos; formação profissional, especialmente de estilistas. No balanço apresentado sobre os 22 anos da lei Rouanet, o secretário informou que são recebidos 600 projetos por mês. Só em 2012, foram aprovados 3,6 mil, que aplicaram R$ 1,25 bilhão, embora a captação total tenha sido de R$ 1,64 bilhão.
Os três projetos da polêmica
Aprovação foi publicada no Diário Oficial da União de 22 de agosto, enquadrados na área de artes visuais. Eles têm até 31 de dezembro de 2013 para captar os recursos.
:.Projeto de Pedro Lourenço
Mostra de moda brasileira em Paris: internacionalização da criatividade, Pedro Lourenço.
Valor do apoio: R$ 2.830.106,00.
Resumo: “A exposição de artefatos e de criações artísticas pretende mostrar duas coleções contemporâneas de moda feitas por um designer brasileiro, pensadas através da ótica do jovem e internacionalmente renomado estilista Pedro Lourenço que interpretará valores culturais e estéticos da performer e cantora Carmem Miranda, e que os traduzirá para os dias atuais em duas mostras diferentes desfiladas na semana de moda de Paris.”
:.Projeto de Alexandre Herchcovitch
Mostra de moda em São Paulo e Nova York: Herchcovitch fala de Antropofagia Americana.
Valor do apoio: R$: 2.616.173,50.
Resumo: “O resultado do processo de pesquisa e criação será apresentado na forma de uma coleção feminina desfilada em duas cidades centrais no calendário da moda, São Paulo e Nova York, revisitando o movimento de antropofagia cultural em sentido amplo, criando obras de vestuário contemporâneo na dialética viva entre estranho e familiar, estrangeiro migrante e o sedimento local, extraindo a experiência conceitual que emerge do passado colonial no contato dos europeus com corpos ameríndios.
:.Projeto de Ronaldo Fraga
Mostra – Artesãos do Brasil na poética da moda: Sedimentos criativos revisitados por Ronaldo Fraga.
Valor do Apoio R$: 2.040.500,00.
Resumo: “A exposição de cultura visual contemporânea e de criações de cunho autoral de Ronaldo Fraga apresentará artefatos têxteis e técnicas brasileiras que transitam do popular ao erudito e do erudito ao popular, trabalho que se desdobra em duas coleções desfiladas nas temporadas de moda de São Paulo, evento conhecido como São Paulo Fashion Week. Mário de Andrade, João Cabral de Melo Neto e o artesão Espedito Seleiro são inspirações para estas duas mostras.