Mas volume não é suficiente para sustentar o setor, que estima entre 500 milhões e 1 bilhão de itens de proteção para o rosto.
A produção de máscaras tem garantido a atividade de confecções, tecelagens e fábricas de insumo pelo Brasil. E a expectativa é que avance à medida que mais cidades tornem obrigatório a população vestir esse item de proteção para sair às ruas. A conta rápida é que o volume pode chegar de 500 milhões a 1 bilhão de máscaras, se forem duas ou quatro máscaras por pessoa. Embora relevante, 500 milhões de máscaras corresponderia a algo como R$ 2 bilhões, aponta Oscar Rache, presidente do Sinditêxtil/PE (Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral e de Malharia) e sócio da Fiação e Tecelagem São José.
“Isso não sustenta a indústria. Precisa organizar e planejar a saída da quarentena”, defendeu o empresário em live organizada pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção). Na semana passada, a entidade promoveu um giro virtual para saber a realidade de polos de produção pelo Brasil durante a pandemia da covid-19.
Também Flávio Roscoe defende adaptar o parque industrial do setor para esse tipo de produção. “Que não é tão complexa”, diz o presidente do Sindimalhas MG (Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas no Estado de Minas Gerais), presidente da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais) e dono do Grupo Color Têxtil, que opera fiação, malharia e tinturaria. Ele conta que embora o governo mineiro não tenha imposto parada obrigatória para as indústrias, a atividade produtiva foi afetada pelo fechamento do comércio. Segundo o empresário, algumas indústrias suspenderam a produção e outras reduziram o ritmo.
MÁSCARA DE TECIDO PARA PROTEÇÃO LEVE
Estimando que a crise deva ser superada no Brasil em 90 dias, Roscoe recomenda que as confecções coloquem as fábricas para fornecer parte do que chama de ‘kit retomada’ (máscaras de proteção respiratória, luvas e alcool gel). Ele estima que será necessária a produção em massa de máscaras de tecido para atender a população em geral. “Se pensar quatro máscaras por pessoa, vezes a população brasileira, dariam 1 bilhão de máscaras. É uma produção significativa. E essa demanda vai acontecer”, enfatizou.
Para abastecer a população, o varejo terá que vender máscaras, assim como terá que fornecer máscaras para os próprios funcionarios. Também trabalhadores que não demandam EPIs especiais podem usar máscaras de tecido. “O TNT é impermeável. Tecido não é a melhor opção, mas passa a ser para uma empresa com 30 a 40 funcionarios e que tem que fornecer de duas a três máscaras por dia”, reforça Francisco Lelio Pereira. Ele é presidente do Sindiroupas/CE, diretor da Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará) e dono da confecção Profardas. “O importante é ser ágil. Tirar o melhor do pior que estamos enfrentando”, recomendou Pereira.
Segundo Alcilene Batalha Pontes, não pararam as confecções do Amazonas que se uniram para fazer máscaras. Por lá a indústria não foi obrigada a parar. Como em outros lugares, porém, também teve a atividade prejudicada pelo fechamento do comércio. Presidente do Sindconf (Sindicato das Indústrias de Confecções de Roupas e Chapéus, Material de Segurança e Proteção do Estado do Amazonas) e dona da Amazonas, de fabricação de Uniformes Profissionais, Alcilene lembra que mesmo essa produção de máscaras não tem sido fácil.
Com os pedidos de abril e maio cancelados, o polo do Agreste Pernambucano não está parado porque confecciona máscaras. O relato é de Rache, durante a live da Abit.
LOGÍSTICA E PREÇO SÃO PROBLEMA
“Normalmente, o Amazonas já enfrenta dificuldade de logística para conseguir tecido e aviamentos. Paga mais pelo frete. Com a pandemia, essa dificuldade aumentou”, contou. Ela diz que as confecções não têm mais encontrado mais TNT e elástico nos distribuidores locais.
Da mesma forma Valdir Scalon, presidente do Sindvest/ Maringá (Sindicato da Indústria do Vestuário) e da Scalon Jeans, relata dificuldade na compra de elástico e linhas para o pólo do norte do Paraná produzir máscaras. Nesse caso, as condições comerciais são o problema. “Os fabricantes de elástico e linha que antes faturavam, agora pedem pagamento à vista”, afirmou o empresário.