Projeto pioneiro converte talos da planta em biomassa por torrefação, acelerando a meta da empresa deixar de usar carvão até 2030

O fabricante de denim indiano Arvind Limited, e um dos maiores grupos têxteis daquele país, anunciou que junto com a empresa global de investimentos climáticos Peak Sustainability Ventures lançam a primeira planta industrial da Índia para torrefação de talo de algodão. Com capacidade em torno de 40 mil toneladas por ano, a usina converterá os talos de algodão em biomassa torrefada, funcionando como substituta direta do carvão empregado nas caldeiras industriais da Arvind, com potencial calorífico 20% superior.
Conforme comunicado à imprensa, a Arvind espera substituir, inicialmente, 20% do carvão consumido em suas operações de fabricação, sem necessidade de ajustes nas caldeiras hoje em funcionamento. A empresa tem capacidade para produzir 100 milhões de metros de denim e 150 milhões de metros de sarja por ano. A troca de combustível das caldeiras faz parte da estratégia do fabricante de atingir a meta de zerar o uso de carvão até 2030.
Na Índia, o talo de algodão é um resíduo que representa a maior parte da planta, sendo geralmente descartado no campo após a colheita ou queimado a céu aberto. O país produz 6,1 milhões de toneladas de algodão por ano, com apenas cerca de 15% da planta aproveitados em aplicações industriais.
Além da biomassa de algodão torrefado, o projeto abre caminho para a produção de biochar, um tipo de carvão vegetal capaz de melhorar a saúde do solo e capturar carbono por longos períodos, facilitando a transição para modelos regenerativos de cultivo agrícola.
SUBPRODUTO POUCO EXPLORADO
O talo de algodão é um resíduo amplamente disponível nas plantações, mas pouco explorado comercialmente, tanto na Índia quanto no Brasil. Mas, diferentemente da Índia, o Brasil não enfrenta a mesma pressão energética. A matriz elétrica brasileira majoritariamente renovável e a menor participação do carvão no parque industrial reduzem o incentivo econômico para projetos semelhantes.
De acordo com o comunicado, o projeto da Arvind com a Peak recebeu financiamento do Apparel Impact Institute (Aii), como parte do programa de soluções climáticas, por seu potencial de rápida escalabilidade. A Peak Sustainability Ventures liderou o desenho tecnológico do reator e o investimento inicial, além de atrair para o projeto um parceiro europeu especializado em torrefação.
Por meio deste projeto no qual o algodão deixa de ser apenas fibra e passa a ser fonte de energia como biomassa, os clientes da Arvind podem reduzir as suas emissões de Escopo 3 através da descarbonização da cadeia de abastecimento de cada um deles, ressalta o fabricante no comunicado. Ainda de acordo com o informe, a Arvind já utiliza o talo do algodão para geração de energia térmica em suas unidades fabris. Contudo, as características do combustível do talo são substancialmente aprimoradas por meio da torrefação, afirmam as empresas.
A torrefação é um processo que usa calor para aumentar a densidade energética, a estabilidade e as propriedades de manuseio da biomassa, elevando seu poder calorífico em até 20%, no caso do algodão, afirma o comunicado.
Pelo modelo acertado, negociado há quase um ano, a Peak financia o investimento inicial e as operações do projeto, enquanto a Arvind atua com a garantia de compra de longo prazo e como fornecedora de matéria-prima.
foto: divulgação (Aviso de Imagem meramente representativa do local de produção)




