Prévia de estudo do IFM que foi apresentada na Première Vision Paris mostra que três países asiáticos estão a desafiar a liderança da China, alterando as rotas.
Ainda que a China continue a ser o maior fornecedor de roupas para União Européia e Estados Unidos, três países asiáticos começam a desafiar essa liderança. Bangladesh, Vietnã e Camboja estão crescendo e traçando novas rotas de abastecimento da indústria têxtil. O mapa de fornecimento global de vestuário está mudando, de acordo com a prévia de pesquisa realizada pelo IFM (Institut Français de La Mode) como parte das atividades do curso sobre economia criativa em Moda, criado em parceria com a Première Vision Paris.
Os resultados prévios foram apresentados em conferência que integrou a programação da edição do salão Première Vision Paris realizado entre 16 e 18 de fevereiro. De acordo com o estudo, as mudanças no mapa de sourcing têm origem nos preços das matérias-primas, uma vez que há pressão de aumento no custo do algodão e de declínio das fibras sintéticas derivadas de petróleo, já que o preço do barril caiu muito; no aumento dos custos salariais na China, que teriam sido multiplicados por 3,5 vezes ao longo dos últimos dez anos; e a desvalorização de 20% do euro frente ao dólar, cujo impacto afeta toda a cadeia produtiva.
As importações dos países da União Européia cresceram 10,2%, em 2015, para alcançar 80,9 bilhões de euros. Sem flutuações na taxa de câmbio, os Estados Unidos apresentaram aumento de 3,5% no volume das importações e queda de 2,9% em preço. Sem mencionar os valores específicos, o resultado da pesquisa aponta que os embarques da China para a Europa aumentaram 6,9% em valor, mas, o volume caiu 12,2%, enquanto as vendas de Bangladesh subiram 24% em valor e 3,6% em volume; as do Camboja cresceram 32,4% em valor e 13,4% em volume; e as do Vietnã ampliaram 24,3% em valor e 2,4% em volume.
E a tendência é que essa mudança evolua, concluiu o relatório da pesquisa realizada com cem marcas, conduzido e apresentado pelo diretor do IFM, Gildas Minvielle. Quase metade delas (49%) acredita que os fornecimentos provenientes da China vão diminuir em 2016, em favor do trio Bangladesh-Camboja-Vietnã. A expectativa deles é essa mudança “maximizar a margem entre o preço de custo e vendas”. Os três países contam com fábricas e força de trabalho de alta qualidade e muito bem equipada, muitas vezes devido a investimentos da própria China. E custo menor.
O salário mínimo mensal em Bangladesh é de US$ 68, segundo a pesquisa do IFM. No Vietnã, o valor varia entre US$ 105 e US$ 156; e no Camboja é de US$ 140. Os salários na China estão um patamar acima variando de US$ 155 a US$ 321, afirma o relatório do estudo apresentado na conferência da Première Vision Paris. Mianmar corre por fora, com a previsão de que o país precise de mais cinco a seis anos para treinar a força de trabalho e criar infra-estrutura, “antes que se torne verdadeiramente operacional”, avalia o estudo.
A Turquia também aparece no mapa de sourcing, com tendência a aumentar participação, reconhecem 65% das marcas consultadas. O contrário do que deve acontecer com Marrocos e Tunísia. Aumentos são detectados no leste europeu, como Macedônia e Sérvia, e na África Sub-Saariana, que também fica mais próxima do Caribe e da América Central, destaca a pesquisa. Atualmente, a Turquia é o terceiro fornecedor de roupas para a Europa, movimentando 9 bilhões de euros, principalmente em camisetas; e o terceiro em tecido, sobretudo com denim, diz o estudo.
As marcas ainda não avaliaram detidamente o impacto dos aumentos de custos. Provavelmente, o maior repasse será feito para os produtos de luxo; será contido para os populares; enquanto na faixa do meio, os custos deverão ficar inalterados. Para enfrentar o aumento de custos, as empresas prevêem adotar medidas conhecidas, como vender mais rápido, reduzindo as margens; melhorar o valor agregado dos produtos mais caros; e concentrar as compras de insumos em menos fornecedores para obter preços melhores.