Com base em relatório sobre condições de trabalho na China, ativistas pressionam marcas e os governos para que vetem no mundo todo esse tipo de técnica empregada no desgaste do jeans, devido aos riscos à saúde dos operários.
Ativistas que lutam para melhorar as condições de trabalho em países como a China foram investigar as consequências da aplicação de jato de areia como técnica de desgaste do jeans em fábricas chinesas. Ainda comum em lugares que processam jeans, inclusive no Brasil, o jateamento com areia foi considerado nocivo à saúde dos operários que realizam o processo, segundo as entidades responsáveis pela investigação cujos resultados foram anunciados em relatório publicado esta semana. Nele, as entidades pressionam pela proibição imediata desse processo na produção do jeans, como fez a Turquia a partir de 2009. Embora grandes marcas e varejistas já tenham anunciado que vão abolir o uso de areia para promover a corrosão do denim, na China é prática corrente em fábricas que atendem encomendas de empresas como Levi´s, H&M, Gap, Hollister, Wrangler, Lee, American Eagle e Jack & Jones, apenas para citar os mais conhecidos.
A equipe responsável pelo estudo entrevistou operários de seis grandes fábricas de jeans da província de Guangdong, ao sul da China e uma das regiões responsáveis por grande parte da produção mundial de jeans. O relatório explica que o jato de areia para desgaste do denim é aplicado sob alta pressão, por dois métodos. Um usa cabines de aplicação, consideradas um pouco mais seguras, e o outro mais comum são as pistolas de ar ligadas a uma mangueira por onde saem os jatos corrosivos de areia. O problema é que seja qual for o método, a aplicação provoca nuvens de poeira de sílica que, se aspirada, compromete os pulmões daqueles que ficam expostos por muito tempo a esse ambiente sem usar adequadamente os equipamentos necessários de proteção, como máscaras ou capacetes especiais. A silicose é uma das doenças associadas à morte de trabalhadores da cadeia de produção do jeans.
De acordo com o relatório publicado, em algumas empresas, os equipamentos de segurança estão disponíveis, mas, não são usados por falta de treinamento, os operários desconhecem os males da prática, ou por falta de fiscalização (sem vigilância rígida, os trabalhadores abandonam os equipamentos ou trocam as proteções seguras por máscaras cirúrgicas que seriam mais confortáveis de usar, mas, pouco eficazes para fazer a barreira necessária). Diante desse quadro, os ativistas da Sacom (Student & Scholar Against Corporate Misbehaviour), da Ihilo (Hong Kong Liaison Office), da War on Want e da Clean Clothes Campaign defendem a proibição global e obrigatória do jato de areia no tratamento do jeans em curto prazo.
O relatório também menciona outras técnicas de acabamento do jeans que substituem o jato de areia e sobre as quais levantam dúvida em torno do impacto delas à saúde dos operários, como lixamento à mão, pulverização com permanganato de potássio ou polimento, porque geram pó do mesmo modo. Com 40 páginas, o relatório assumiu o provocante título Breathless for Blue Jeans: health hazards em China’s denim factories (em tradução livre, algo como Sem fôlego para o blue jeans: os riscos para a saúde nas fábricas de jeans da China).