Dos seis fabricantes de denim e sarja ouvidos pelo GBLjeans, a avaliação é o mercado continuar em lenta recuperação; Cedro, Capricórnio, Canatiba, Santista, Santana e Santanense contam planos e resultados
Os últimos dois anos foram difíceis para a indústria do jeans no Brasil, como foi para a maioria das atividades econômicas. O movimento de acomodação diante de um cenário de fuga de consumo, em função da alta de desemprego e crédito mais seletivo, e perfil de compradores em mutação, começou a despontar em meados do primeiro semestre. Sem mudanças significativas nos indicadores econômicos, as empresas avaliam que a tendência é de melhoria gradual de vendas.
Mas, 2018 não é um ano qualquer. É ano eleitoral, em turno abrangente no qual os brasileiros escolhem presidente e governadores, senadores e deputados (federais e estaduais). Também é a primeira eleição após o traumático impeachment de Dilma Roussef da presidência, que vem cercada de dúvidas enfáticas sobre os candidatos à corrida até o Planalto. E ainda por cima é ano de Copa do Mundo, disputada na Rússia com jogos pela manhã e à tarde, afetando o funcionamento das empresas, especialmente nos dias em que a seleção brasileira joga.
Os balanços de companhias abertas do setor refletem recuperação, ainda que a base de 2016 não tenha sido das mais favoráveis, assim como 2015. Também os fabricantes que não abrem suas demonstrações financeiras reportam sinais de retomada.
CEDRO RECUPERA LUCRO EM 2017
De acordo com Marco Antonio Branquinho, presidente da Cedro Têxtil, a partir de julho de 2016 as mudanças empreendidas pela empresa desde 2010 em direção a produtos de maior valor agregado foram surtindo efeitos gradativamente. “A crise pegou a empresa mais alavancada que a maioria por causa dos investimentos realizados. Mantivemos o foco nessa estratégia, a Cedro rodou menos mas com produtos melhores, nos estabilizamos e desde março de 2017 trabalhamos em capacidade máxima, com padrão de entrega espetacular”, avalia o executivo, satisfeito com os resultados do balanço mais recente.
No trimestre encerrado em setembro, a Cedro fechou com lucro líquido de R$ 15,77 milhões, enquanto os ganhos dos primeiros nove meses do ano somam R$ 28,12 milhões. Em 2016, na mesma época, a companhia registrava perdas. A receita líquida consolidada também cresceu. No terceiro trimestre alcançou R$ 183,77 milhões e em nove meses – de janeiro a setembro – atingiu R$ 481,79 milhões.
“Estamos melhor posicionados que antes da crise. Mais enxutos, ganhamos produtividade, reduzimos estoque de produtos acabados, mesmo assim reduzimos prazo de entrega e conseguimos market share”, acentua Branquinho. A estimativa é encerrar 2017 com 70 milhões de metros de tecido produzidos, entre denim e sarja, volume maior que o realizado no ano anterior. “Em 2018, é trabalhar redondo”, diz, prevendo estabilidade relativa na economia, sem grandes sobressaltos.
Os principais investimentos foram realizados entre 2010 e 2014. A próxima rodada são investimentos pontuais em modernização. “2018 é o início do futuro”, afirma o presidente da Cedro. A empresa pára de 20 de dezembro a 8 de janeiro para manutenção das fábricas.
CAPRICÓRNIO ELEVA LUCRO E RECEITA
“Foi um ano difícil, diferente, mas tivemos muito sucesso. Houve empobrecimento da população o que levou o país a dar uma guinada para custo/benefício. E estávamos preparados para atender esse novo perfil de demanda do mercado”, analisa Maria José Orione, diretora de negócios estratégicos da Capricórnio Têxtil. A situação mais confortável encontrada em 2017 reflete as mudanças realizadas pela empresa nos últimos anos, que levou a ampla reestruturação interna, não só em aspectos industriais de produção, mas da própria gestão, avalia Gustavo Manfredini, que a partir do segundo semestre assumiu a presidência da Capricórnio.
Fabricante de denim com capacidade instalada de 70 milhões de metros por ano, a Capricórnio faturou R$ 363,68 milhões no terceiro trimestre de 2017, aumento em torno de 11% sobre igual período do ano passado. Já o lucro líquido deu um salto e tanto de julho a setembro, passando de R$ 12,36 milhões, em 2016, para R$ 66,2 milhões. A expectativa de Manfredini é de evolução paulatina em 2018, com a progressão de iniciativas de integração de processos e sistemas. “Estamos preparando a empresa para 2019/2020”, diz.
SANTANA TEXTILES REATIVARÁ FÁBRICA DE NATAL EM 2018
Devido ao processo de recuperação judicial que enfrentou, a Santana Textiles radicalizou. Demitiu funcionários, desativou fábricas, fechou o showroom que mantinha em São Paulo, localizado no Brás. De acordo com Antonio Manzarra, gerente comercial da empresa, as providências surtiram efeito, com resultados positivos em 2017, a ponto de o fabricante se preparar para reativar a fábrica de Natal, no Rio Grande do Norte, passando a bater 1,2 milhão de metros de denim a partir de janeiro de 2018
No momento, só estão em operação o parque industrial de Horizonte, cidade que compõe a região metropolitana de Fortaleza, no Ceará, e a planta da Argentina cuja produção está voltada para abastecer o mercado portenho, ainda que em alguns momentos deste ano tenha suprido também o mercado brasileiro, comenta Manzarra. A de Mato Grosso permanecerá desativada.
CANATIBA OLHA 2017 COMO ANO DE RECUPERAÇÃO
“Voltamos ao patamar de 2014, pré-crise, com aumento de produção e faturamento”, afirma Fábio Covolan, diretor de marketing da Têxtil Canatiba. De acordo com o executivo, a produção da empresa encerrará o ano com produção média de 10 milhões de metros por mês. A retomada é atribuída a estabilidade dos indicadores econômicos e ao esforço da empresa em alterar a estrutura comercial, a realizar melhoria nos serviços de fábrica passando a atender segmentos de mercado que não atendia ou atendia pouco, como os grandes magazines.
Sem perspectiva de melhora substancial na economia local, e considerando o mercado ainda bem volátil, o fabricante prevê 2018 como ano de consolidação, que tende a ser bom para os negócios, apesar do ambiente ainda difícil de atuar por conta das incertezas na esfera política.
SANTISTA AGUARDA 2018 MELHOR QUE 2017
Para Gilberto Stocche, presidente da Santista S.A., “2017 foi um pouco melhor que o ano passado em termos de volume de vendas e nossa aposta é que 2018 será um pouco melhor que 2017”. A projeção dele é fechar o ano entre 5% e 8% acima do ano passado em vendas, com denim permanecendo como a principal unidade de negócios, à frente da área de workwear. Sem revelar volumes ou valores, Stocche informa que, ao longo de 2017, a empresa investiu cerca de 5% na consolidação e modernização das plantas industriais localizadas no sudeste brasileiro.
SANTANENSE REVERTE PREJUÍZO
Com 121 anos de mercado, a Santanense reverteu as perdas registradas no terceiro trimestre do ano passado. Entre julho e setembro, o fabricante mineiro de sarja somou lucro líquido de R$ 9,55 milhões, conforme demonstração financeira divulgada ao mercado. Nos nove primeiros meses do ano, os ganhos totalizaram R$ 13 milhões, contra R$ 5,1 milhões de prejuízo entre janeiro e setembro de 2016.
A receita líquida cresceu praticamente 17% para alcançar R$ 115,96 milhões no terceiro trimestre de 2017. E em nove meses atingiu R$ 319,42 milhões, acima dos R$ 277,4 milhões apurados no mesmo período de 2016.
Segundo Eleonora França, gerente de marketing, produtos e serviços da divisão sportswear da Santanense, a empresa bate por volta de 60 milhões de metros lineares de sarja por ano, incluindo a parte de moda e roupas profissionais. Desse total, 18 milhões de metros correspondem a tecidos com elastano na composição, na parte de sportswear. A empresa opera três fábricas, todas em Minas Gerais, nas cidades de Montes Claros, Pará de Minas e Itaúna.