Consultoria TexApex estima que descontrole pode abocanhar até 7% da produção de roupas.
O custo da falta de qualidade é alto e muitas vezes invisível dentro das empresas. A afirmação é de Milena Abreu que há 8 anos fundou a TexApex, consultoria especializada na implantação de sistemas de gestão de qualidade em empresas da cadeia da moda têxtil. Ela conta que há não muito tempo as empresas buscavam controlar a qualidade apenas após a produção, concentrando a inspeção em produtos acabados, sem olhar para os processos desde o início.
Com a pressão da concorrência, a qualidade dos produtos entregues ao consumidor chegou às planilhas das empresas do setor para cálculo de custos e de margem. Portanto, trabalho não faltou este ano para a TexApex que projeta faturamento de R$1 milhão em 2024, 40% acima da receita de 2023, conta a empresária ao GBLjeans.
Conforme Milena, o custo do que chama de não-qualidade pode afetar de 2% a 7% das peças confeccionadas em casos extremos. Isso significa que a cada 100 peças de roupas produzidas, 7 estão fora das condições mínimas de comercialização. Sem controles mínimos, o custo da perda por falta de qualidade corroi a margem de lucro ou é recuperado pelo aumento indiscriminado de preços. E pode abalar a própria sobrevivência da empresa, afirma Milena que é autora do Manual da Qualidade Têxtil no Brasil, lançado em 2018.
MELHORIA CONTÍNUA
Gestão da qualidade não é um processo isolado. “Qualidade exige melhoria contínua. Não é um salto. É devagar. Porque se for um salto, alguém terá que pagar por isso”, explica.
Ela ressalta que gestão de qualidade pode ser adotada por empresas de qualquer porte. Não é algo exclusivo a empresas maiores, assim como a falta a qualidade. Sediada em Blumenau, a TexApex começou atendendo o polo têxtil de Santa Catarina. Mas ampliou a operação, atuando em outros partes do Brasil. Tem hoje clientes no Paraguai e começa a trabalhar com fornecedores da China que atendem grandes varejistas que operam no mercado brasileiro.
Com o método de qualidade assegurada da TexApex, diz, as empresas conseguem redução de até 50% em reprocessos internos e reposições, zero devoluções de clientes por questões de qualidade e aumento de até 30% na eficiência de entrega, entre outross avanços. Cita o exemplo da Parigi Confecções, de Blumenau, que atua como fornecedora da Lojas Renner e conquistou 100% de conformidade na auditoria de qualidade da varejista depois de 10 meses de consultoria.
Mas a Parigi continuou o trabalho de melhoria da qualidade com a TexApex e obteve aumento de 10 vezes em sua produção, conta Milena. Da carteira de clientes da consultoria constam as varejistas Renner e C&A e marcas, como a Mirabella.
EXEMPLOS DE FALTA DE QUALIDADE
De modo geral, a consultoria se depara nas empresas com falta de padronizações; ausência ou comunicação não assertiva para alinhamento das expectativas entre cliente e fábrica; desalinhamento entre viabilidade técnica e comercial; falta de controle nos pontos críticos do processo, como modelagem, corte, costura, escolha de matéria-prima, entre outros.
Ela diz que brinca com as empresas que não dá para o estilo prometer o Brad Pitt e a fábrica entregar o personagem cômico Tiririca. “Pode ser que no primeiro momento não dê para entregar o Brad Pitt mas todas as áreas da empresa devem saber que os esforços têm que ser para garantir isso”, argumenta. Esse processo é o que chama de melhoria contínua.
PONTOS CRÍTICOS NA CONFECÇÃO
:: Defeitos de matéria-prima ou matéria-prima inadequada para o produto. Como, por exemplo, exigir solidez para o tecido denim.
:: Defeitos de costura.
:: Acabamento inadequado.
PONTOS CRÍTICOS NA TECELAGEM
:: Falta de qualidade ou de padronização das características dos fios.
:: Contaminação (incorporação de fios ou fibras diferentes da composição original); ou presença de buchas (aglomerados de fios) que podem causar furos.
:: Falta ou ausência de limpeza e manutenção de teares e agulhas.
:: Por falta de controle adequado, na tinturaria pode ocorrer manchas; diferença de tonalidade entre lotes; quebraduras.
PONTOS CRÍTICOS NO VAREJO
:: Erros de modelagem ou medidas fora do padrão.
:: Falta de assertividade de produto (design, cores, padronagens, estampas).
:: Entregas atrasadas em relação ao período comercial certo para as peças estarem à venda.