Queda das importações e previsão de inverno mais longo apontam para retomada no segundo semestre, segundo o Iemi, que estima queda de 1,5% no volume de peças vendidas este ano.
A esperança de uma retomada de vendas de vestuário no segundo semestre com a estabilização política e econômica já movimenta a indústria. Com a alta do dólar começou um processo de substituição das importações a partir do final de 2015, intensificado em 2016, incentivando a compra no mercado interno. A queda das importações entre o final do ano passado e o início de 2016 chegou a 40% e tende a 35% no agregado do ano, tirando do mercado em torno de 350 a 400 milhões de peças. “Mesmo que a demanda interna não cresça em 2016 será necessário aumentar a produção para abastecer as lojas”, aponta Marcelo Prado, diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI).
A insegurança do varejo para recompor estoques após os resultados decepcionantes do Natal e o atraso da chegada do inverno de 2016 atrapalharam as decisões de compra no primeiro trimestre. “Tudo isso teve um impacto muito grande no setor de vestuário que sofreu queda de vendas maior que a de bens duráveis”, afirma o diretor executivo do IEMI. A previsão é de que o próximo inverno seja relativamente longo no sudeste apontando para uma retomada de compras no mercado interno. “Com essa conjuntura, a venda de coleções no segundo semestre será melhor que no ano passado”, estima Prado.
Com poucos produtos, as lojas terão que recompor estoques. Mas nada será um mar de rosas: tudo isso vai se dar com muita discussão e negociação de preço. Nesse cenário, os pólos regionais de atacado tendem a sofrer mais para atrair compradores, pois estes cortaram custos com viagens. Os maiores beneficiados, segundo Prado, serão as indústrias que saíram para vender seus produtos porta a porta, tirando pedidos e indo mais longe do que o seu entorno.
Outro prejudicado nessa conjuntura é o pequeno varejo que teve que cortar pessoal e acumular atividades na direção. “O dono teve que ir para o caixa e tem pouco tempo para fazer compras e escolher coleções”, ressalta Prado. Algumas regiões mais ricas, como as ligadas ao agronegócio, não registraram queda de consumo, criando oportunidades para fabricantes atentos à demanda de públicos segmentados. “É necessário olhar oportunidades em novos segmentos, alcançar nichos específicos e ainda mal trabalhados”, destaca Prado. Segundo ele, é preciso buscar alternativas para o crescimento da empresa em cima da concorrência, independentemente do resultado do mercado. “O varejo deve estar aberto a inovações pois o consumidor está pouco afeito a mais do mesmo”. De acordo com o IEMI, o consumo de vestuário deverá cair 1,5% em número de peças em 2016.
Devido à imprevisibilidade dos rumos da política econômica, o setor de varejo não prevê uma retomada de vendas no curto e médio prazo, destaca o diretor executivo da ABVTex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), Edmundo Lima. No primeiro semestre, o calor fora de época afetou a coleção outono-inverno. Com a volta das ondas de frio, houve uma leve reaquecida nas vendas, mas o Dia das Mães ficou abaixo das expectativas, com uma curva descendente de vendas até o final de abril. A esperança, segundo Lima, é uma recuperação com o Dia dos Namorados, ao final do semestre, e do Dia dos Pais, no segundo semestre, repetindo o ano passado.
De acordo com Lima, o esforço do setor de varejo para a substituição das importações esbarra em alguns obstáculos como a dificuldade em obter produtos mais pesados da linha de inverno, confecções em tecido plano mais leve, como fibras e viscose, e encontrar fornecedores que cumpram com os requisitos de responsabilidade social exigido pelos varejistas associados à ABVTex.
A saída é investir em novas estratégias para movimentar o consumo, como iniciativas de omnichannel (que une lojas físicas e virtuais) e comércio eletrônico. “O setor também tem apostado no ponto físico, melhorando o atendimento com novas tecnologias de gestão de estoque, operação e gestão de vendas para aumentar a produtividade”, afirma Lima. Outro foco é a logística, com a abertura de mais centros de distribuição para atender as lojas de forma mais rápida e próxima.
Para adequar-se ao momento difícil vivido pelo país, o desenvolvimento das coleções é outro ponto sensível. A criação tem valorizado produtos com maior valor agregado a partir da escolha de matérias primas de menor custo, mas com atenção à qualidade, acompanhando tendências nacionais e internacionais sem que isso reflita no aumento do preço de venda. “As empresas se adaptaram ao orçamento mais apertado do consumidor”, completa Lima.