Empresas investem na compra de novos equipamentos e esperam reação da indústria em 2015 por conta do aumento do dólar que deverá inibir as importações.
O stress hídrico e a estagnação da economia estão fazendo com que os executivos das lavanderias industriais de jeans no Brasil sejam cautelosos nas previsões de negócios para 2015. A opção é por investimentos em novas máquinas para fazer mais com menos, economizando água e produtos químicos, e concentrando foco na melhoria de qualidade dos serviços prestados, ao invés de no aumento do volume de peças processadas.
“Nos últimos dois anos melhoramos processos para aumentar a receita com mais qualidade, mas mantivemos a capacidade de processamento em 200 mil calças por mês inalterada”, afirma Dimas Diógenes Hoehne Junior, diretor da Tecnolav, de Siqueira Campos, no Paraná. Neste ano, a lavanderia adquiriu uma máquina de marcação a laser e uma de ozônio e não prevê aumentar a produção. A Tecnolav faz parte do Grupo Scozy, do qual também fazem parte uma confecção, a Knust de moda masculina, e uma operadora logística. Com a valorização do dólar, o diretor acredita que haverá menos importações, favorecendo a indústria têxtil nacional. “Pode significar mais contratos”, avalia. Os investimentos em novas máquinas, segundo o executivo, visam melhorar a qualidade do produto além de driblar a dificuldade em contratar mão de obra.
“A substituição de processos manuais permite a padronização e maior previsibilidade no produto final”, explica. O parque industrial do grupo já chegou a ter 1 mil funcionários e hoje tem 300, com 70% de ociosidade. “É mais fácil diminuir atividade industrial do que brigar por custo, por isso optamos por diminuir de tamanho a oferecer produtos sem controle”, diz. A fábrica da Knust fabrica 80 mil peças por mês e depende do desempenho da economia para aumentar ou diminuir este número em 2015. “Fica difícil fazer qualquer previsão enquanto o governo não deixar claro o que pretende da atividade industrial de confecções no Brasil”, afirma Hoehne.
Ao contrário da lavanderia e da confecção, a operação logística do Grupo Scozy cresceu nos últimos anos, com o transporte para o setor têxtil. “Com a crise de vendas, as marcas fazem estoques menores e expedições mais frequentes aos pontos de venda. Nossos clientes perceberam um diferencial no envio rápido dos produtos às lojas”, explica. A empresa, que tinha quatro grandes clientes em 2013, passou para seis neste ano.
Outra que manteve a produção inalterada foi a Dinâmica Lavanderia, que optou por mais processos nas peças, trabalhando com volume médio de 210 mil a 250 mil peças por mês. A empresa de Maringá (PR) investiu em uma nova máquina a laser completando quatro em operação, e também adquiriu um equipamento para efeito 3D passando para uma capacidade de processamento de 20 mil peças para 60 mil peças por mês. “Agregamos processos o que nos permitiu aumentar o preço médio por peça”, diz o diretor de produtos, Darci Pereira Tavares. A empresa sofreu com a indefinição do mercado no primeiro semestre, mas retomou produção no segundo, com mais encomendas.
A tendência é investir em novas máquinas para suprir a falta de mão de obra. “Buscamos novas tecnologias para ter mais qualidade e agilidade nos processos. Queremos reduzir o prazo de entrega e melhorar a qualidade do produto”, afirma Tavares. A empresa tem 15 clientes, entre os quais a Ellus. “Crise sempre tivemos. Como somos parceiros dos clientes, estamos aumentando nossa fatia de produção com eles, o que deve reverter em mais negócios. Nossa expectativa é a queda dos importados que tem grande impacto no setor, e o crescimento da indústria”, afirma.
A Qualidade Lavanderia, de São Paulo, que processa entre 50 mil a 60 mil peças por mês, prevê adquirir um novo equipamento, o Eflow, para oferecer mais opções de acabamentos. “Em 2015 o nosso foco é ser lavanderia premium, com oferta de produtos mais elaborados e otimizados, sem aumentar a produção”, destaca André Duarte, diretor comercial e de criação da Qualidade. No ano de 2014, a empresa teve uma queda de 15% na produção comparado ao ano anterior. “Para reverter o resultado, reformulamos nossa equipe comercial e buscamos crescimento de 25% em 2015”, diz Duarte. Ele atribui o baixo resultado de 2014 à estagnação da economia e à Copa do Mundo.
Com equipamentos de ozônio, a lavanderia economiza entre 50% e 60% de água, trabalhando com fornecimento da Sabesp e um poço artesiano. “Temos procurado processos químicos mais abrasivos para evitar tantos enxágues”, afirma. Para o executivo, o problema da escassez de água não é pontual e já se inseriu na história da lavanderia. “Temos dois momentos, um anterior ao stress hídrico e o atual: é uma realidade para o resto da nossa história. Com isso, as empresas deverão ser versáteis no beneficiamento, acompanhando a tendência do mínimo uso do recurso hídrico”, aponta.
Os investimentos do setor para 2015, segundo Hoehne, da Tecnolav, esperam maiores definições do mercado industrial, que sofreu bastante com as importações. “Temos que avaliar se a indústria continuará competitiva, o que deve ser refletir em todo o setor”, completa.