Edição de 30 anos do evento coloca rastreabilidade do algodão, parcerias éticas e o digital como nova vitrine da moda
Na SPFW N60, que celebra os 30 anos do evento, os desfiles indicam que as marcas nacionais caminham para reconfigurar a estrutura de negócios da moda. O artesanato escapa da armadilha estética, retratado na passarela como motor de valor, ética e estratégia comercial. Sinaliza ainda movimento em direção a parcerias que desperte consciência ambiental, assim como buscam a expansão no varejo.
Ao abrir a apresentação do relatório Esportare La Dolce Vita, realizado pela agência italiana de negócios no Brasil, Paulo Borges, idealizador da SPFW, afirmou estar feliz com o momento atual da moda. “A moda trilha o caminho de inovação e de sustentabilidade. E procura estar à frente do momento. Voltou a trabalhar com sonho. E se não sonha, não cria emoção”, analisou o empresário.
RASTREABILIDADE DO ALGODÃO
Iniciativa da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), o Movimento Sou de Algodão realizou desfile na SPFW pela quarta vez. Denominado Trajetórias, o desfile reuniu seis estilistas brasileiros para darem sua interpretação usando o preto como ponto de partida a fim de mostrar a origem rastreável e certificada do algodão cultivado por 61 produtores, em 82 fazendas espalhadas por seis estados no Brasil.
Avançou pela cadeia produtiva de custódia com a participação de seis indústrias têxteis brasileiras. Cataguases e RenauxView forneceram os tecidos de camisaria. Vicunha Têxtil e Santana Textiles forneceram o denim usado nas criações. A malharia ficou por conta da Dalila Ateliê Têxtil. E a Fio Puro representou as fiações.
Pela passarela desfilaram 36 looks, 6 de cada estilista: Alexandre Herchcovitch; Aluf, Amapô; David Lee; Fernanda Yamamoto; e Weider Silveiro.
FUTURO É COLETIVO E VOLUMOSO
A maior parte dos lançamentos na SPFW N60 trabalhou com modelagens volumosas ou muitas camadas. E o motor que conduziu as coleções na passarela foram as colaborações entre marcas de segmentos diferentes.
O ecossistema de Celina Hissa, da Catarina Mina, destacou o uso massivo de fios da Círculo e, sobretudo, a parceria com a marca de calçados Veja. A colaboração resultou no lançamento da sandália Etna, que une o crochê artesanal brasileiro à transparência e ao comércio justo. Com produção limitada a 144 pares, contam com rastreabilidade da produção artesã via QR code.
O designer Rafael Caetano também reforçou essa veia, incorporando ao seu desfile “Fullgás” o trabalho de artesãos do projeto Pernambuco Artesão (Loka Arte Design, Anunni Artesanato, Crocheteira de Garanhuns).
Também com a Círculo, a LED em gesto de democratização do design disponibilizou gratuitamente as receitas usadas nas peças desfiladas para artesãos e para o público em geral.
Patricia Viera desfilou coleção inspirada na Londres da década de 1970. “Em um ano em que o varejo se torna o centro da estratégia da Patricia Viera, o ready-to-wear, o sob medida e a passarela reafirmam o compromisso da marca com o feito à mão e o tempo artesanal”, disse a marca carioca que acaba de inaugurar flagship na capital paulista.
Os bordados florais foram criados por bordadeiras cariocas que dedicam cerca de uma semana a cada peça. A marca também destaca a adesão ao projeto Zero Waste, pelo qual toda a sobra de couro da produção é reaproveitada em mosaicos, recortes e aplicações.
NOVOS CAMINHOS
Lilly Sarti lançou a coleção kosmo.polítes, explorando proporções que mesclam fluidez e estrutura, peças intercambiáveis, formas justas e largas. Para o desfile, usou duas bases de denim em 100% algodão da Capricórnio Têxtil – Algarve e Ubá, além de tecidos como tricoline e veludo.
Na moda de nicho, a irreverente Bold Strap fez parceria com as plataformas Privacy, de conteúdo adulto, e K-MED, de bem-estar sexual. Explorou na coleção a estética do glamour digital com tecidos como látex e paetê transparente, e na passarela a cenografia imersiva de telas digitais.
Além da nova coleção Helyx de outono-inverno 2026, a Forca Studio, marca de Vivian Rivaben e Silvio De Marchi, anunciou a estreia de seu canal de atacado. No espaço da marca na capital paulista, funcionará o showroom. E também o ateliê, uma vez que a marca lançou o serviço de criação sob medida, antes reservado para artistas.
A coleção comercial tem 50 looks, inspirados na prática de esportes radicais. Para a cartela de cores, a Forca Studio misturou tons claros, como off white e verde oliva, e outros intensos, como vermelho queimado e marrom. De base de tecidos variada, a coleção incorpora materiais emborrachados, pele falsa, jacquard, chiffon, denim e couro, viscose e acabamento em borracha com textura amassada. Nas peças de látex, a marca fez collab com a criadora Cece.
Com o desfile Moda através do tempo, o Mercado Livre usou a passarela para reforçar o e-commerce como destino de moda. “A moda é hoje uma das categorias que mais cresce dentro do nosso ecossistema, com mais de 17 milhões de anúncios ativos e mais de 2 mil lojas oficiais, incluindo grandes marcas como Lacoste, Hugo Boss, Pandora, Morena Rosa, Adidas, entre outras”, declarou em comunicado Anna Araripe, diretora de moda e beleza da empresa.