Mercado da maioria está mais diverso

Mercado da maioria está mais diverso, diz Instituto Locomotiva

Metade da população brasileira tem renda familiar de até R$3.255, novos hábitos e expectativa de consumo.

Mercado da maioria está mais diverso, diz Instituto Locomotiva

“Tem amor no Excel”. Assim Renato Meirelles, especialista em consumo e presidente do Intituto Locomotiva, abriu a palestra apresentada em evento organizado pela Vicunha Brasil durante a semana de lançamentos das têxteis do setor de jeans. A bem humorada provocação propõe que os gestores de marcas e varejo de moda olhem para as planilhas de dados com a certeza de que atrás dos números existem pessoas com sonhos e desejos de consumo que deveriam ser considerados na formulação das estratégias comerciais voltadas ao mercado da maioria, foco do grosso das empresas do setor de vestuário no Brasil.

Mercado da maioria é a faixa da população enquadrada como classes C, D e E. São pessoas com renda familiar de até R$3.255, compondo 76% da população brasileira e metade do consumo do país. Movimentam consumo estimado de R$980 bilhões, entre produtos e serviços, ressalta Meirelles.

Em dez anos, a maneira de comprar dessa população mudou muito, afetando o fluxo do dinheiro. Se em 2004, 7% das famílias brasileiras eram atendidos pelo programa do Bolsa Família, esse número cresceu para 28% em 2023, aponta o especialista. Porém, mesmo com esse aumento de renda, a inflação contida e o desemprego menor, o consumo não aumentou, diz.

Uma das explicações sugeridas por ele tem a ver com o aumento da participação das plataformas internacionais, sejam de consumo, como os marketplaces internacionais, sejam os das bets (apostas online). Nesses casos, a maior parte do dinheiro vai para fora do país.

CONSUMO DE VESTUÁRIO

No caso do vestuário, as bets passaram a concorrer com os gastos do mercado da maioria, assim como viagens, restaurantes e eletrônicos inteligentes. Contudo, ressalta o executivo, vestuário é o tipo de despesa que exige reposição.

Conforme dados do Instituto Locomotiva, no último ano, 56% dos consumidores no Brasil com acesso à internet (cerca de 80%) compraram vestuário em cross border, ou seja, fizeram compras internacionais a partir de plataformas disponíveis no país.

Do mercado da maioria, 46% passaram a comprar mais vestuário nos últimos 10 anos – depois de gastos maiores com supermercado, artigos de higiene e limpeza, produtos para animais de estimação, nesta ordem.

Em relação ao futuro, porém, 37% têm expectativa de gastar mais com vestuário nos próximos 10 anos – depois de supermercado e artigos de higiene e limpeza.

Falta de padrão dos corpos brasileiros ainda representa desafio de vendas para marcas de vestuário e varejistas de moda, não só para os que operam com comércio eletrônico.

EXPERIÊNCIA NO VAREJO

Crédito é um fator sensível de decisão de compra do mercado da maioria. Para realizar sonhos de consumo, 86% priorizaram lojas que ofereçam parcelamento do valor da compra. Segundo Meirelles, 56% das classes B e C deixaram de comprar por falta de crédito.

Dos entrevistados pelo Instituto Locomotiva, 26% ainda preferem comprar apenas em lojas físicas.

Para atender esse público, as empresas de moda devem observar a mudança ocorrida no perfil das famílias brasileiras em 20 anos, ressalta Meirelles. Em 2022, diz, metade dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, quando em 2002 essa participação era de 25%.

Apenas 26% das famílias brasileiras têm a composição antes tradicional de casal heterossexual com filhos. Os outros 74% assumem novas configurações de família, como mais gente vivendo só.

População com mais de 60 anos no Brasil aumentou consideravelmente, com forte participação no consumo. E não apenas para si. Subsidiam filhos e netos.