Os reflexos da crise sobre a indústria do jeans

Especialista espanhol aborda a necessidade de novas formas de produção, com corte de custos, economia de água e energia elétrica, mediante o uso intensivo de automação industrial

Sob o peso dos efeitos da crise econômica global, a forma de produzir jeans terá que mudar. Mercados como Estados Unidos e Europa, cujo consumo interno caiu em média 20% desde setembro quando a crise eclodiu, buscam soluções para reduzir o custo de toda a cadeia do jeans, da matéria-prima ao aluguel dos pontos-de-venda.

 

“Nos próximos cinco anos, a indústria da moda terá que encontrar a fórmula que deve contemplar o ´real jeans´, conforto no vestir, ética nos negócios e a volta das cores”, afirmou em palestra Enrique Silla, presidente da Jeanologia, empresa espanhola especializada no desenvolvimento de acabamentos para o jeans pertencente ao Eurotrend, grupo que, também, controla a GFK, fabricante de máquinas para a mesma área, como equipamentos de marcação a laser. Ele apresentou a palestra sobre o Jeans no Mundo durante o XXIII CNTT (Congresso Nacional de Técnicos Têxteis), que termina hoje, 17, na capital paulista.

 

Nesse processo, Silla avalia que a necessidade de redução de custos servirá como uma espécie de alavanca para avanços como economia no consumo de água e energia elétrica ou calorífica em processos industriais, além da melhoria no ambiente de trabalho. “A revolução do jeans passa pela automatização da indústria”, defende o especialista.

 

Os reflexos na moda desse novo posicionamento já começam a aparecer. “O ´Real Jeans` é o jeans sem a aparência de novo; que parece velho e gasto”, explica Silla. Detalhes como remendos substituem a aplicação dos bordados; aplicação de manchas características de peças envelhecidas pelo tempo de uso; puídos localizados, aplicados em locais em que geralmente o jeans cede à intensidade do uso; bigodes planos em contraposição ao efeito sanfona; respingos de pigmento. Em tempos de crise, o mercado tende a ser mais contido. Na moda do jeans significa detalhes sutis, que dispensam os exageros nas intervenções, ressalta o especialista.

A busca pelo conforto tende a acentuar-se, avalia ele. Nos Estados Unidos e na Europa cresceu, por exemplo, a adesão à modelagem boyfriend, de corte mais largo. “Dentro de dois anos, superada a crise, o consumidor vai querer voltar a se divertir e a expressão visual de felicidade é a cor. Vamos viver a explosão de cores no jeans e na moda”, decreta Silla. Em função dessa expectativa, ele recomenda que as lavanderias se preparem para tingir peças prontas e desenvolvam processos de acabamento para o jeans colorido como fazem para o denim.

fotos: GBljeans / reprodução