Peças de inverno ameaçadas

As mudanças climáticas que esquentam a temperatura do planeta alteram as coleções de jeans, no Brasil

 

No setor têxtil, tradicionalmente, o volume de encomendas para o inverno cai em comparação com as vendas de verão. Mas os negócios tropeçaram na falta de inverno dos últimos dois anos, particularmente de 2005. A depender das previsões, a temporada fria continua instável. Na semana em que os pesquisadores do Painel Intragovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgaram relatório em que alertam para o fato de que a temperatura do planeta está em elevação, cientistas britânicos anunciaram que, sim, 2007 será o ano mais quente de que se tem notícia nos últimos 200 anos.

 

Na falta de um inverno mais definido, a saída tem sido trabalhar com coleções menores e peças suficientemente flexíveis para acompanhar eventuais variações climáticas. Já acostumadas com as intempéries, as confecções brasileiras de jeans optaram pela cautela nos desenvolvimentos para a temporada que seria fria.

 

A Mimics, confecção paulista instalada no bairro do Brás, por exemplo, depois de um período de reformulação do perfil de roupa, previa lançar o primeiro catálogo da marca, este mês, com a coleção de inverno. As previsões de tempo quente modificaram os planos. “Estamos fazendo um inverno leve, uma coleção pequena para a qual faremos um complemento. E já estamos preparando o verão 2008”, conta Luciano Viana, proprietário e coordenador de estilo da marca.

 

A precaução das confecções faz sentido. Ao longo dos últimos sete anos, os termômetros da capital paulista, a principal economia do país, registraram picos de alta e poucos recuos ao patamar considerado normal. Tanto que a comparação das temperaturas médias registradas em 2006 em relação às calculadas em 1999 indica tendência de dias mais quentes que o normal, nos meses de junho a setembro, na cidade (veja o gráfico).

 

 

Infográfico: agência SPPress com dados do Grupo de Estudos Climáticos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo