Algumas lavanderias começam a questionar a eficácia da prática de mercado de criar peça-piloto e não cobrar pelo trabalho, mesmo sob o risco de ver a produção ser repassada para o concorrente
No processo de negociação entre lavanderias e confecções o desenvolvimento da peça-piloto vem ganhando destaque. Com a complexidade dos efeitos obtidos em lavanderia, o custo de desenvolver uma lavagem começa a fazer parte dos cálculos das processadoras de jeans, com algumas delas passando a cobrar pelo trabalho e deduzindo o valor na fatura de produção.
É uma forma de ter o trabalho valorizado pelo cliente, evitando a prática bastante comum no mercado, pela qual uma confecção desenvolve a lavagem com uma lavanderia e produz em outra que cobra menos. “O mercado tem que se valorizar e a cobrança desse tipo de trabalho pode ajudar para que isso ocorra”, entende Suzana Sfredo, proprietária da Lavanderia Universo.
De acordo com ela, a partir deste mês, a Universo vai cobrar de R$ 300,00 a R$ 500,00 por peça-piloto desenvolvida, sendo que caso a produção seja feita na própria lavanderia, o valor é descontado do total.
Há três anos a Lavanderia Brisa vem cobrando pelo desenvolvimento de lavagens como uma forma de cobrir os gastos da processadora com esse trabalho. “Nossos clientes tradicionais pagam o preço da produção e os novos pagam os R$ 35,00 que estipulamos pelo desenvolvimento da peça. Hoje em dia esse trabalho custa caro e temos que cobrar para poder produzir, pois muitas confecções fazem a pilotagem na lavanderia, mas não a produção”, explica Álvaro de Castro, proprietário da Brisa.
Para atender as exigências de mercado, as lavanderias de primeira linha passaram a investir na parte de criação, montando células para piloto, mantendo equipes de desenvolvimento, investindo em pesquisa ou contratando serviços de consultoria de moda. Até bem pouco tempo, confecções menores contratavam as lavagens a partir do mostruário da processadora.
A necessidade de diversificar levou as confecções a solicitar um número maior de lavagens, diferentes entre si e daquelas fornecidas a outras marcas. A exclusividade tem um preço que a maioria das confecções não está disposta a pagar.
Riscos da cobrança
Outras lavanderias criaram modelos pelos quais a decisão de cobrar ou não pelo desenvolvimento depende do volume de produção. “Pedimos pagamento da peça-piloto para confecções com produção muito pequena, pois o desenvolvimento custa caro”, pondera Fabrício Coelho, sócio-gerente da Fama.
Estratégia semelhante é adotada pela Amazonas Center. “Alguns clientes que não dão o retorno esperado são cobrados, mesmo que simbolicamente”, conta Horácio Figueiredo, proprietário da lavanderia. Para acrescentar logo em seguida: “Mas a situação é difícil, pois, cobrando pelo desenvolvimento da peça, a confecção ficaria sem vínculos com a lavanderia”.
O executivo da Fama também avalia que cobrar pelo desenvolvimento seja uma via de mão dupla. Pode funcionar como um mecanismo de defesa da lavanderia contra práticas abusivas. “Mas, ao mesmo tempo, dá independência para que o cliente faça o trabalho em outro lugar, o que, de certa forma, é ensinar outras lavanderias a fazerem o nosso trabalho”, argumenta Coelho.
Outras empresas acreditam que a melhor opção continua sendo a de não cobrar. Com produção em torno de 2 mil peças piloto por mês, a Dinâmica acredita que o pagamento pelo trabalho pode prejudicar na relação com os clientes. “O chamariz de uma lavanderia são as peças piloto e sempre vai haver quem faça o trabalho por menos”, avalia Fernando Borin, gerente comercial e de desenvolvimento da lavanderia, que acha interessante a prática de cobrar pela peça e descontar o valor do desenvolvimento da produção.
“Nossos clientes são parceiros e cobrar por esse serviço seria arriscado. São essas peças que mostram o nosso trabalho e fazem com que o cliente queira trabalhar com a empresa”, sustenta Juarez Moscon, gerente da Lavanderia Mimo. A All Washed é outra lavanderia que não cobra pelo serviço de desenvolvimento. Lair Ventura, proprietária da lavanderia, avalia que a cobrança poderia funcionar se fosse adotada por todo o setor.
*colaborou Jussara Maturo