Pelo tingimento em ensaio, o tecido assumiu coloração bege, com grande solidez, mas pode assumir outras tonalidades
Há quase uma década, a engenheira florestal Ticiane Rossi pesquisa corantes naturais a partir de resíduos de madeiras. Para fazer o mestrado, voltou-se para o uso desses corantes no tingimento têxtil, quando em 2007 se deparou com o resíduo da produção de óleo essencial de folhas de eucalipto como uma fonte potencial para obtenção de corantes.
Os estudos evoluíram e em maio passado o trabalho obteve patente para o processo de tingimento e uso desse resíduo como corante natural para a indústria têxtil, registrada junto à Agência USP de Inovação, ligada à Universidade de São Paulo. A engenheira desenvolveu o projeto dentro de laboratórios da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP, com campus em Piracibaba, interior paulista.
Os resultados do projeto atraíram a atenção da iniciativa privada, resultando em convênio formal de cooperação com a Stenville Têxtil, empresa de Jundiaí, também no interior paulista, que atua no ramo de estamparia e tinturaria de malhas, além da confecção de roupas e acessórios.
Nos ensaios, foi usado o resíduo do óleo extraído das folhas de eucalipto para tingimento em meia malha e tecidos 100% algodão. “Não fiz tingimentos em brim e denim, mas daria para tingir sem problemas, pois os resultados entre o tingimento de meia malha e tecido plano deram resultados semelhantes”, assegura Ticiane.
Ela explica que o resíduo poderia ser obtido nas empresas que produzem óleos essenciais. Sendo gerado no processo de destilação do óleo, o resíduo geralmente é descartado pelas empresas. Na condição de um dos maiores produtores mundiais de óleo de folhas de eucalipto, o Brasil apresenta importante volume desse efluente. Para o ensaio, porém, ela submeteu as folhas à pressão com vapor de água a fim de obter o extrato do óleo destilado.
O tingimento foi feito pelo processo de esgotamento. E o tecido adquiriu coloração bege. Ticiane ressalta que usando mordentes (sais mtálicos) seria possível obter outras cores. “Mas, no estudo, apenas foi avaliado o tingimento natural, sem mordentes, para minimizar o impacto ambiental do processo”, ressalta. Segundo a pesquisadora, também não foi necessário usar aditivos para fixar a cor. “Ele é bastante estável, o que é muito raro em corantes naturais, que era nosso maior desafio”, destaca.
Ela observa ainda que o corante de eucalipto tinge a celulose que, em geral, é uma fibra que se mostra difícil de ser tingida.