Relatório do Fashion Revolution especial sobre clima mostra que apenas 24% das marcas divulgam dados sobre emissões e ações

Às vésperas da COP30, que começará na próxima segunda-feira, 11, em Belém do Pará, o Fashion Revolution Brasil lança documento que serve de alerta sobre o ritmo lento da moda brasileira em dar transparência acerca da agenda climática que adota. Das 60 marcas avaliadas, apenas 15 delas (24%) divulgam publicamente informações sobre volume gerado de emissões de gases de efeito estufa, descarbonização, combate ao desmatamento e uso de energia renovável.
Outras 27 marcas sequer tornam público dados básicos sobre agenda pública, se é que têm alguma, revela o novo Índice de Transparência da Moda Brasil – Edição Clima, que avaliou marcas de calçados e vestuário que atuam no país. Essas simplesmente zeraram no índice.
De acordo com o relatório, 53% das marcas pontuaram abaixo de 20%. Para a análise, o Fashion Revolution considerou 35 indicadores distribuídos em cinco seções. Avaliou os dados tornados públicos pelas empresas sobre Rastreabilidade; Emissões de Gases de Efeito Estufa; Descarbonização e Desmatamento Zero; Uso e Aquisição de Energia Renovável; Transição Justa.
O pior desempenho foi justamente no último tema, ressalta o relatório. Do total, 39 das marcas (65%) ficaram com nota zero em Transição Justa. “A forma como grande parte do setor opera – terceirizando grande parte da produção – transfere não apenas emissões, mas também riscos e custos para trabalhadores e fornecedores. O verdadeiro desafio está em enfrentar as emissões e vulnerabilidades da cadeia produtiva, com as marcas compartilhando os custos da mitigação e adaptação, viabilizando o pagamento de salários dignos e se engajando em um diálogo social genuíno. Sem isso, quaisquer soluções empregadas correm o risco de replicar os mesmos padrões extrativistas que alimentaram a crise climática até aqui”, afirma o documento.
MARCAS DE MAIOR TRANSPARÊNCIA
Considerando todos os atributos, apenas 10 marcas registram pontuação acima dos 50%. E nenhuma ultrapassou mais que 76%
:. Do mesmo grupo, Renner e Youcom, obtiveram 76% em transparência na divulgação de metas e resultados.
:. Em seguida, o relatório lista a Adidas do Brasil com 65%.
:. É a mesma pontuação de Ipanema e Melissa, ambas marcas controladas pelo grupo Grendene.
:. A 6ª marca de maior transparência é a varejista C&A Brasil, com 64% da pontuação.
:. Riachuelo é a próxima da lista, atendendo a 57% dos atributos de transparência.
:. Malwee obteve 56% de pontuação.
:. Arezzo e Reserva, marcas do grupo Azzas 2154, completam esse grupo de 10 marcas, com 54% de pontuação cada uma.
LACUNAS CRÍTICAS
Para o Fashion Revolution Brasil, houve progresso na transparência sobre emissões de gases de efeito estufa, nas metas de descarbonização aprovadas pela Science Based Targets Initiative (SBTi) e na divulgação da quantidade de energia renovável utilizada, mas temas críticos continuam invisíveis.
O relatório também destaca que ‘transparência não é sinônimo de sustentabilidade ou ética. Uma marca pode publicar muitos dados e ainda assim apresentar más condições de trabalho ou impactos ambientais, assim como pode adotar boas práticas e não comunicá-las”.
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Apenas 12% das marcas apresentaram redução real de emissões.
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27% têm metas climáticas validadas cientificamente.
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80% não assumiram compromissos públicos de desmatamento zero e com prazo determinado em, pelo menos, uma de suas matérias-primas. “Materiais como couro, algodão e viscose seguem associados à destruição da Amazônia e do Cerrado, com impactos diretos sobre povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais”, afirma o relatório.
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Apenas 23% divulgam fornecedores de, pelo menos, uma de suas matérias-primas, etapa onde há maior risco de desmatamento, exploração de trabalho e degradação ambiental.
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42% das marcas divulgam seus fornecedores diretos e 43% suas instalações de processamento.
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Nenhuma marca divulga investimentos em adaptação climática de fornecedores.
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Emissões de Escopo 3 de 22 marcas já somam 59,3 milhões de CO₂ (mais do que as emissões anuais de Portugal).
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27 marcas tiveram pontuação zero em transparência: Amaro, Besni, Brooksfield, Caedu, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Dakota, Di Santinni, Dumond, Ellus, Fórum, Gabriela – Studio Z, Havan, Klin, Leader, Lojas Avenida, Lojas Pompéia, Marisol, Moleca, Osklen, Penalty, Puket, Sawary, Shoulder, TNG e Torra.
ALERTA PARA BIOMASSA E GÁS NATURAL
Essas duas fontes de energia podem ter papel transitório, mas não são soluções definitivas, argumenta o relatório. O documento afirma que:
Queima de biomassa pode emitir tanto ou mais CO₂ que fósseis. Pode gerar perda de biodiversidade, impactos sociais e disputas fundiárias.
Altamente composto de metano, o gás natural pode ser tão nocivo quanto o carvão devido a vazamentos na cadeia.
ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA DA MODA BRASIL – EDIÇÃO CLIMA
🔗 [Acesse os principais resultados do relatório aqui ]
foto: divulgação




