Startup brasileira de biotecnologia desenvolve material que permite combinação com outras fibras naturais.

A partir do cultivo do micélio — estrutura vegetativa subterrânea dos fungos — a startup brasileira Muush desenvolve um biotecido, uma solução de baixo impacto ambiental com potencial para substituir o couro animal ou o couro sintético. Comercializado sob a marca Muush, o material usa formatos de tamanho adaptáveis ao propósito do produto da marca que compra. Mas, para uso em tecelagens, a empresa desenvolveu versões híbridas que permitem o acoplamento ao tecido base, informa ao GBLjeans Antonio Carlos de Francisco, CEO da startup.
Ele conta que a produção é feita internamente, a partir de processo patenteado que envolve o cultivo do micélio sobre substratos vegetais. Para isso, aproveita resíduos agroindustriais como serragem, bagaço de cana, farelo de trigo e palha de milho. “São necessários de 8 a 10 kg desses resíduos para produzir 1 m² de nosso biotecido. Além de ser biodegradável e livre de plásticos, o Muush contribui para a captura de carbono, possui alta resistência e pode ser moldado para diversas aplicações — da moda à decoração, passando por acessórios e revestimentos”, explica Francisco.
A Muush está sediada em Ponta Grossa, cidade do Paraná, onde também fica a fábrica com estrutura de laboratório para pesquisa e desenvolvimento, além da produção piloto do biotecido. “A planta industrial foi desenhada para ser escalável, com processos patenteados e padronizados que garantem qualidade e rastreabilidade do material”, assegura o CEO da empresa.
O processo completo inclui cinco etapas, conta. Inclui seleção e preparo de resíduos agroindustriais ricos em lignina e celulose; inoculação do micélio/fungo sobre o substrato; crescimento por cerca de 13 dias em ambiente controlado; inativação do micélio e curtimento com taninos vegetais (sem produtos químicos sintéticos); prensagem e acabamento conforme a aplicação desejada.
MATERIAL BIODEGRADÁVEL
Fundada no final de 2022 por Leandro Inagaki Oshiro, Eduardo Bittencourt Sydney e Antonio Carlos de Francisco, a Muush nasceu como uma spin-off de mais de sete anos de pesquisa na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), com foco em aplicações de fungos como biomateriais. Conforme Francisco, o biotecido de micélio pode ser combinado com fibras naturais como algodão, linho, juta ou cânhamo.
Ele acrescenta que essas combinações ampliam a gama de aplicações possíveis e permitem personalizar aspectos como textura, resistência, flexibilidade ou gramatura do material. “Essa versatilidade torna o micélio um diferencial estratégico para a indústria têxtil, pois alia inovação de base biológica à possibilidade de integrar-se com processos produtivos já existentes”, enfatiza.
A empresa acumula parcerias já realizadas com algumas marcas de bolsas, jóias, calçados e mobiliário sustentável. Atualmente, a Muush tem em andamento projeto com a marca Beatnick & Sons no desenvolvimento de coleção que usa o biotecido de micélio para acessórios e roupas para viagens de couro. “Essa colaboração marca um passo importante para posicionar o Muush no mercado da moda consciente”, ressalta o empreendedor.
Faz parte dos planos de expansão, a busca por investidores que capitalizem a empresa a avançar para a produção industrial do biotecido de micélio em escala de porte maior que o atual.
foto: site Muush