Renner, C&A, ABVTEX e Abit destacam ações de circularidade e clima na programação paralela à conferência em Belém

O setor de moda brasileiro leva à COP30 iniciativas que buscam avançar na transição rumo a uma economia circular e de baixo carbono. C&A, Lojas Renner, ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) e Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) participam de painéis e eventos paralelos à conferência principal, compartilhando experiências ligadas à regeneração ambiental, inovação e redução de emissões. Aproveitam o momento de grande exposição propiciado pela COP30, realizada no Brasil de 10 a 21 de novembro, em Belém do Pará, para demonstrar o compromisso em mitigar os impactos gerados pelo setor de moda.
FLORESTAS DE ALGODÃO
A Lojas Renner participa de dois painéis. Em um deles, apresenta o projeto Florestas de Algodão, do qual participa em parceria com a startup Farfarm e a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). A iniciativa aplica sistemas agroflorestais ao cultivo de algodão, combinando conservação ambiental, pesquisa científica e fortalecimento de comunidades locais no bioma Cerrado.
Pela técnica adotada, o algodão convive com espécies nativas de floresta e culturas de alimentos, sem o uso de agrotóxicos ou insumos sintéticos. O projeto tem três anos e já rendeu fibras suficientes para produzir tecidos usados pela Renner em coleção lançada em outubro. É executado na Fazenda Experimental de Santo Antônio do Leverger, a cerca de 30 km de Cuiabá.
De acordo com a Renner, o modelo agroflorestal sequestra cerca de 18,3 toneladas de CO₂ por hectare ao ano e aumenta em 38% a biodiversidade microbiológica do solo, além de elevar a renda das famílias agricultoras envolvidas.
Em entrevista ao Canal Rural, Eduardo Ferlauto, diretor de sustentabilidade da Renner, explicou que a técnica agroflorestal retém carbono no solo, mediante o sequestro natural. Carbono no solo é um benefício que garante regeneração, produtividade e descarbonização. Mas carbono presente na atmosfera constitui um problema. No modelo convencional de algodão, o plantio emite carbono para a atmosfera, destacou o executivo.
Nesse projeto, a Renner garante a compra de toda a produção, enquanto a Farfarm atua para criar a cadeia de fornecimento responsável e sustentável.
A participação da Lojas Renner no outro painel aborda a jornada iniciada em 2008 com a criação do Comitê de Sustentabilidade. Ressalta a meta de alcançar o patamar Net Zero de emissões de gases de efeito estufa até 2050. Também destaca os efeitos financeiros que resultaram em R$100 milhões de ganhos operacionais líquidos associados a iniciativas de sustentabilidade em 2024.
ADESÃO À CIRCULARIDADE
Na COP30, a C&A Brasil faz a adesão formal ao Movimento Conexão Circular, do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, tornando-se a primeira varejista de moda do país a integrar a iniciativa, afirma a companhia. A assinatura do compromisso reflete a estratégia de circularidade da empresa, que registra 34% dos produtos com atributos circulares e pretende atingir 50% até 2030.
“Queremos ser exemplo da transição da moda brasileira para um modelo regenerativo, que gera valor econômico e ambiental”, afirmou em nota Paulo Correa, CEO da C&A Brasil.
A adesão fortalece metas já públicas, como reduzir em 42% as emissões absolutas de gases de efeito estufa e chegar a 80% de matérias-primas mais sustentáveis até o fim da década, com compromissos validados pela Science Based Targets Initiative (SBTi).
O Movimento Conexão Circular foi criado com a expectativa de atingir a meta do ODS 12 que trata de consumo e produção responsáveis. No Brasil, 40 empresas participam. Da área de moda, além da recente adesão da C&A, a rede lista Capricórnio Têxtil, Pantys e Lacoste.
PAPEL DOS BIOMATERIAIS
Como representante do varejo de moda, a ABVTEX participa da COP30 em debate promovido pela Fundação Ellen MacArthur, no painel Da natureza à ação climática: repensando os biomateriais em uma economia circular. O debate contará também com representantes da Coalizão de Economia Circular da América Latina e do Caribe, que desenvolve estudo sobre biomateriais e descarbonização da cadeia têxtil.
Criada em 2021 sob o programa da ONU para o meio ambiente (Pnuma), a coalizão envolve hoje a participação de 18 países-membros. Brasil é um deles, desde 2023.
DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS
No segundo dia da COP30, a Abit assinou convênio de cooperação técnica com a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). O documento visa desenvolver um estudo inédito sobre a destinação dos resíduos de toda a cadeia produtiva da indústria têxtil brasileira, que inclui tingimento, estamparia, produção de fibras e tecelagem.
Tem por objetivo mapear fluxos, volumes e práticas de destinação dos resíduos industriais e pós-consumo do setor, além de preencher lacunas de informações e promover maior integração entre indústria, varejo, recicladores e poder público, informa comunicado da ABDI. A expectativa é o estudo viabilizar a entrada do setor têxtil no Recircula Brasil, programa de rastreabilidade e certificação de materiais a partir de notas fiscais eletrônicas, desenvolvido em parceria com a Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) e operacionalizado pela Central de Custódia.
“Hoje, quem mais lucra com o lixo ainda são os intermediários. Os catadores, que realizam o trabalho essencial, continuam recebendo valores muito baixos. Se não enfrentarmos essa desigualdade, criaremos uma nova indústria sustentável, mas excludente”, declarou no comunicado o presidente da ABDI, Ricardo Capelli.
Fernando Pimentel, que assinou o convênio pela Abit, declarou no comunicado da ABDI que a economia circular representa um dos fatores de competitividade para a indústria têxtil e de confecção, ressaltando que o setor movimenta em torno de 2 milhões de toneladas de fibras por ano no Brasil.
“Temos o desafio de transformar subprodutos industriais em valor. É um tripé: mercado, regulação e tecnologia. A logística é a espinha dorsal dessa transformação”, declarou Pimentel.
foto: divulgação COP30




