Avanço em descarbonização vai pressionar fornecedores para adotar métricas de controle.
No caminho para ser Net Zero até 2050, ou seja, neutralizar a emissão de carbono (CO2), o varejo nacional de moda investe na redução e entre as iniciativas começa a medir a quantidade de emissão de carbono por peça de roupa. Depois de atuarem internamente, a pressão dos varejistas no sentido da descarbonização da atividade se volta para os fornecedores de matéria-prima e PLs que deverão adotar métricas de controle com inventário de emissões. “Só enxergando números é que dá para buscar oportunidades de melhoria”, afirmou ao GBLjeans Eduardo Ferlauto, gerente geral de sustentabilidade da Lojas Renner.
Na Renner a medição mais recente informa que a companhia emite 1,55 KgCO2e por peça de roupa no escopo 3 da cadeia de abastecimento, como atesta o relatório de sustentabilidade de 2022 da companhia. Escopo 3 é o nível externo das companhias, aquele que envolve fornecedores e prestadores de serviço. Até 2030, a meta da Renner é reduzir 75% das emissões de carbono por peça de roupa registradas em 2019 (1,47 kgCO2e por peça). Até ser Net Zero em 2050, conforme o compromisso firmado.
Ferlauto conta que as metas da Renner estão baseadas no padrão do SBTi (Science Based Targets Initiative). Na visão dele, o desafio da Renner rumo a 2050 envolve mais atores e pode ser dividido em dois blocos: gestão e tecnologia. “Fazer inventário de emissões depende apenas de uma gestão bem estabelecida. Hoje o sistema de auditoria da Renner já contempla muita informação”, explica.
TECNOLOGIA DE RECICLAGEM
Ao nível da tecnologia, o executivo diz que o desafio passa por transformar o modo de produção do fio reciclado de maneira a alcançar menor emissão de carbono, ser escalável e de boa qualidade. “Hoje no Brasil prevalece a tecnologia mecânica de desfibragem, que machuca a fibra, deixa mais frágil e diminui a resistência”, comenta. Também o volume atual produzido de fios reciclados não é suficiente para a demanda de escala.
“Estamos trabalhando pilotos para que possamos desenhar nosso modelo de transição do ponto de vista econômico e ambiental”, conta Ferlauto, da Renner.
EMISSÃO DE RIACHUELO E MALWEE
Outras duas empresas do varejo de moda informam em seu relatório de sustentabilidade a quantidade de emissão de carbono (CO2) por peça de roupa. Com produção própria, a Riachuelo começa a medir as emissões, calculando 0,50 kgCO2e por peça que chegou ao varejo em 2022.
Na Malwee, o relatório de sustentabilidade de 2022 informa 2,64 kgCO2e por peça.
GUIA DE DESCARBONIZAÇÃO
A ABVTex (Associaçã Brasileira do Varejo Têxtil) prepara o lançamento de um guia de descarbonização da moda, com lançamento previsto para outubro, conforme anunciou Edmundo Lima, diretor executivo da entidade, em palestra no Febratex Summit. Em preparação, o material tem colaboração da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) e do Senai.
Como parte da cadeia têxtil, a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) discute projeto para mensurar qual a fixação de CO2 no solo das lavouras, de maneira a contribuir com os avanços em descarbonização da moda, informa Júlio Busato, produtor e ex-presidente da entidade. Ele também conta que a Abrapa tem no horizonte ampliar a rastreabilidade do algodão usando para isso satélites geoespaciais a fim de identificar de qual talhão da fazenda a fibra foi obtida. Talhão representa a área mínima de cultivo dentro de uma propriedade agrícola.