Brasil avança em tecidos antivirais

Iniciativas incluem parceria do Cetiqt, Diklatex e Fiocruz; Nanox com Fapesp; malha da Dalila; Santaconstancia e Coltex com fio Rhodia.

A despeito das seqüelas arrasadoras da covid-19, a pandemia teve o efeito positivo de acelerar inovações têxteis no Brasil. Em junho, o país acompanhou anúncios de avanços no uso de tecnologia para barreiras antivirais em tecido. Alguns projetos já estavam na bancada e incluíram os testes de resistência contra o novo coronavírus. Outros foram motivados pela grave disseminação da doença. O anúncio mais recente é da união do Cetiqt (Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do Senai) e a Diklatex.

TESTES DE EFICÁCIA PELO BIO-MANGUINHOS/FIOCRUZ

De acordo com o Cetiqt, a catarinense Diklatex foi a única indústria têxtil selecionada no edital do Senai para Inovação da Indústria – Missão contra o Covid-19. O projeto prevê o desenvolvimento de têxteis funcionais com propriedades antivirais. Pesquisas e testes de eficácia são realizados pelo Bio-Manguinhos/Fiocruz, instituto de tecnologia em imunobiológicos, um dos mais respeitados do Brasil.

Em comunicado ao mercado, o Cetiqt informa que a expectativa é que sejam produzidas 600 mil peças por mês com os novos tecidos, entre máscaras, aventais e scrubs (uniformes para uso hospitalar). O artigo incorpora compostos químicos que já conseguiram inativar os vírus do sarampo e da caxumba nos ensaios in vitro, diz o centro de tecnologia do Senai. “A observação da eficácia em relação ao novo coronavírus (SARS-CoV-2) está em execução e terá seus resultados divulgados até o final de junho”, afirma a nota à imprensa do Cetiqt.

Desde março, equipes integradas por médicos, microbiologistas, engenheiros têxteis, de materiais e químicos, trabalham no desenvolvimento da solução.

A Diklatex é uma malharia de Joinville que produz tecidos funcionais destinados a roupas para prática de esportes, inclusive de alto rendimento.

NANOX E A AGÊNCIA DE FOMENTO FAPESP

Conforme reportagem da Agência Fapesp, assinada pelo repórter Elton Alisson, a Nanox obteve apoio para o desenvolvimento de tecido com micropartículas de prata na superfície. Testes de laboratório demonstraram que os compostos foram capazes de inativar o coronavírus SARS-CoV-2 após dois minutos de contato. O subsídio para o projeto vem do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da agência de fomento Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

“Já entramos com o pedido de depósito de patente da tecnologia e temos parcerias com duas tecelagens no Brasil que irão utilizá-la para a fabricação de máscaras de proteção e roupas hospitalares”, disse à Agência Fapesp de notícias, Luiz Gustavo Simões, diretor da Nanox, cuja sede fica em São Carlos, interior de São Paulo.

O tecido empregado nos testes tem composição mista de poliéster e algodão, mas poderia ser empregado também em tecidos só com fibras naturais. A base testada incorpora dois tipos de micropartículas de prata impregnadas na superfície por meio de um processo de imersão, seguido de secagem e fixação, chamado pad-dry-cure, explica a reportagem.

A Nanox já fornecia essas micropartículas, com atividade antibacteriana e fungicida, para a produção de tecidos funcionais que evitam maus odores. A empresa decidiu verificar, então, se o material seria capaz de inativar o SARS-CoV-2, causador da covid-19.

Ainda segundo a reportagem, o projeto contou com a colaboração do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP); da Universitat Jaume I, da Espanha; e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela Fapesp.

O próximo passo é verificar a duração do efeito antiviral das micropartículas no tecido. Em princípio, trabalham com uma janela de 30 lavagens.

SANTACONSTANCIA ESTREIA NO SETOR DE SAÚDE

Para desenvolver a linha de tecidos voltada ao segmento da saúde, a Santaconstancia lançou tecido antiviral, produzido com fio de poliamida 6.6 Amni Virus Bac-Off, da Rhodia, com princípio ativo permanente, ou seja, não sai nas lavagens. O fabricante explica que o novo tecido pode ser utilizado também em roupas e acessórios de moda em geral. “Já temos demandas de hospitais e clínicas, além de nossos clientes habituais, entre confeccionistas, estilistas e atacadistas. Em poucas semanas, roupas e acessórios produzidos por diferentes marcas estarão disponíveis para o consumidor final”, declarou em comunicado Gabriella Pascolato Costa, diretora de marketing da empresa.

A estimativa da tecelagem projeta que os tecidos antivirais evoluam até responder por 35% das vendas. “Além de proteger, outros benefícios do novo tecido são a maciez oferecida pelo material da poliamida 6.6 e o conforto térmico”, acrescentou a diretora. São cinco artigos de malha, com versões lisas ou estampadas: Light, Flux️, Link, Evolution Plus e Up Soft.

A empresa informa que os tecidos antivirais e antibacterianos custarão 15% a mais em relação às linhas tradicionais de malhas similares em poliamida já comercializadas pela tecelagem.

PRODUTOS CHEGANDO NA PONTA

A BeCauz desenvolveu kit com máscara e camiseta combinando. O conjunto é confeccionado em malha da Coltex, que também está usando o fio Amni Virus Bac-Off, da Rhodia. A marca colocou o Kit Home Fashion em pré-venda pelo site com entrega prevista a partir de 15 de julho. A intenção é que metade do lucro obtido com as vendas seja doado para o G10 Favelas. Segundo a marca, a opção por essa malha é devido à garantia de proteção permanente às roupas.

MALHA ANTIVIRAL DA DALILA

Outra malharia catarinense, a Dalila Têxtil lançou artigos com acabamento antiviral, também à base de prata. A proteção dura por 20 lavagens, com água em temperatura ambiente, avisa a empresa. Também informa que a eficácia do acabamento antiviral foi testada em laboratório, de acordo com a normativa científica internacional AATCC100, antibacteriana, e a antiviral ISO18184.