Grupo espanhol compra participação na Galy, enquanto GStar testa algodão de estufa e Hong Kong e Valência, algodão hidropônico.

Empresas de moda de países sem tradição na cultura do algodão exploram novas técnicas para obter a fibra têxtil. O grupo espanhol Inditex, dono da Zara, anunciou que comprou participação acionária na startup Galy, que cultiva células de algodão em laboratório usando biorreatores ou vasos de fermentação. Junto com uma universidade dos Países Baixos, a holandesa GStar apresenta ao mercado cinco calças jeans produzidas com algodão cultivado em estufa. Ainda sem participação de empresas de moda, uma universidade de Hong Kong e outra de Valência desenvolvem projetos de algodão por agricultura hidropônica.
São projetos ainda sem escala industrial. E de viabilidade econômica em verificação devido aos altos custos envolvidos no momento atual das pesquisas.
O método de maior avanço é o da Galy, startup de biotecnologia nascida das mãos de brasileiros em 2019, que transferiu a sede para Boston, nos Estados Unidos.
Em comum, os quatro projetos cultivam algodão em ambiente controlado, sem uso de pesticidas e sem depender de condições climáticos ou do solo.
INDITEX INVESTE NA GALY
Junto com os resultados financeiros, o Inditex informou aos acionistas da companhia que entrou no capital da Galy, com participação acionária minoritária. O valor da operação não foi revelado. Conforme afirmou o CEO da varejista espanhola, Óscar García Maceiras, o investimento integra o conjunto de ações para atingir a meta de ter, até o final da década, 40% das roupas que vende produzidos com fibras provenientes de reciclagem convencional e outros 25% feitos de materiais de nova geração.
“A transformação sustentável do nosso setor não é possível sem inovação e a inovação não é possível sem colaboração”, afirmou o CEO na teleconferência com acionistas.
Para produzir algodão em laboratório, a Galy cultiva células vegetais em biorreatores ou recipientes de fermentação semelhantes aos empregados pela indústria cervejeira.
O projeto da Galy já recebeu os prêmios de inovação na moda concedidos pelas fundações da H&M e da LVMH.
Chamada de Literally Cotton, a fibra de algodão da Galy produzida em laboratório será aplicada em cosméticos e artigos médicos, como gaze, fabricados pela japonesa Suzuran Medical como parte de um acordo de US$50 milhões.
ALGODÃO DE ESTUFA DA GSTAR
O projeto da GStar envolve a participação de pesquisadores da Universidade de Wageningen, que construíram uma estufa em Bleiswijk, cidade próxima de Amsterdam. Ali, durante seis meses os pesquisadores cultivaram algodão, a partir de sementes de uma espécie grega. “Além de otimizar os métodos de cultivo, a meta principal deste ano é aumentar o rendimento do algodão por metro quadrado, visando aumentá-lo de 1,2 kg para 2,2-2,5 kg”, afirma comunicado das empresas. Também participa do projeto a empresa Dutch Cotton BV.
Para a próxima fase, deverão participar outras duas empresas holandesas, a Inno Growers e a empresa de substratos Grodan.
As cinco calças foram integralmente produzidas nos Países Baixos. Do algodão em estufa, passando pelo fio produzido pela Spinning Jenny; denim tecido pela Enschede Textielstad; confecção na oficina da GStar; linhas fornecidas pela Liberty Threads (Roterdã); tingimento realizado pela Blueprint Amsterdam; até as etiquetas fornecidas por EE Labels, Van Engelen & Evers BV.
ALGODÃO HIDROPÔNICO
Pesquisadores de duas universidades de continentes diferentes testam a técnica de hidroponia, já consagrada no cultivo de legumes e hortaliças, para a produção de algodão. Esse método consiste na montagem de um sistema artificial que sustenta as plantas cujas raízes ficam submersas em água e em solução nutritiva. Isso é feito em estruturas fechadas, como edifícios ou contêineres.
No caso do projeto do Honk Kong Research Institute of Textiles and Apparel (HKRITA), o método emprega estrutura vertical abastecida por sistema de dispositivos que controlam ventilação, iluminação por LED, fluxo de água, temperatura e umidade. Conta ainda com gerador de nanobolhas, que acelera a produção de oxigênio e permite acelerar o crescimento das plantas, diz comunicado da universidade. A água passa é recirculada e reusada no próprio circuito.
Da semeadura até ter o algodão, o crescimento do pima cotton levou menos de 5 meses, a um custo de produção de €1 por libra de algodão, informa o comunicado da HKRITA.
Na Espanha, a agrotech Magtech (Mediterranean Agro Tech) desenvolve sob o âmbito do Conselho Nacional de Pesquisa Espanhol (CSIC) um projeto de cultivo de algodão por hidroponia. A startup está incubada em Valência. O projeto prevê a construção de uma estufa de 2,4 mil metros quadrados, abastecida com energia solar e águas residuais.
foto: divulgação H&M Foundation (prêmio da Galy)