Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP e a Universidade Federal do ABC criam modelos conectados por rede do tipo mesh
Eles não são da área de moda. Nenhum é estilista. Mas decidiram colocar a tecnologia em jogo no universo das roupas. O trabalho envolveu um professor com pós-doutorado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, de São Carlos, e seus alunos na Universidade Federal do ABC (UFABC). O resultado são quatro modelos conectados por rede do tipo mesh que foram apresentados em desfile no final de janeiro. Tampouco o evento era de moda. Escolheram para a apresentação o Pint of Science, festival que propõe debater ciência de forma descontraída em bares e restaurantes de diversas cidades do mundo. No final de janeiro, foi realizado em São Carlos, interior de São Paulo.
“Nesse primeiro desfile uma das roupas monitorou os batimentos cardíacos da modelo e as demais roupas apenas se comunicaram entre si, mudando de cor em função da proximidade umas das outras, exemplificando uma característica das redes sem fio mesh (do inglês ‘malha’). Nossas roupas não necessitam de um ponto central de internet, elas propagam as informações diretamente de umas para as outras”, explica o professor Mário Gazziro ao portal GBLjeans.
O moodboard da cápsula partiu dos cenários de ficção encontrados nos livros escritos por William Gibson, o pai do cyberpunk. Para dar forma às ideias, o grupo convidou a cosplayer Gabriele Sá para fazer parte da equipe, no lugar de um estilista tradicional. “Queríamos fazer as roupas do futuro, e os estilistas profissionais estão habituados a fazer as roupas do presente”, explica Gazziro. Nas roupas foram fixados sensores eletrônicos conectados por uma rede mesh a centenas de micro LEDs que acendiam conforme a pulsação da modelo, no caso, Carolina Cerne, estudante de licenciatura em Ciências Exatas da USP.
METAIS COM MEMÓRIA: NOVO PROJETO
Até a apresentação dos quatro modelos de roupas inteligentes foram dois anos de pesquisa. E os estudos terão continuidade. A partir de fevereiro, o projeto conta com a expertise da professora Rachel Zuanon, do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (IA-UNICAMP). “Ela está nos guiando para a confecção de roupas que mudam de formato – usando metais com memória em sua estrutura controlada por eletrônica embarcável – visando assim diminuir a necessidade de um grande número de peças em nossos guarda-roupas”, adianta Mário Gazziro.