Queda do poder de compra da população, falta de acesso a crédito e crescimento baixo do PIB preocupam o comércio varejista brasileiro.
Baixo crescimento das vendas, consumidor mais exigente em múltiplos canais, queda do PIB e do acesso ao crédito, compressão da indústria, concorrência com players internacionais, impostos e aumento de custos de locação em shoppings. O corolário de problemas do varejo é variado mas não há consenso sobre as soluções. Esses temas foram discutidos durante o Retail Expert Meetings – Varejo Têxtil realizado em São Paulo, promovido pela consultoria GS&MD.
No ano passado, o consumo de peças de vestuário no Brasil foi de 7 bilhões (ou R$ 100 milhões no atacado), sendo 12% de itens importados. No total houve crescimento de 3% em volume e de 7,4% em valores. Desse montante, 42% correspondem a vestuário feminino e 33%, masculino. A moda casual representa 48% do total em valores. O brasileiro consome em média 34 peças por ano, número estagnado há três anos, destaca Marcelo Prado, diretor do IEMI (Instituto de Estudos e Marketing Industrial). Entre 2009 e 2013, o mercado cresceu 13,3% em volume e 36% em valores nominais. A participação dos importados nesse montante de 7 bilhões de peças é crescente: foi 4,4% em 2009, 6% em 2010, 9% em 2011, 10% em 2012 e 12,1% em 2013. E neste ano, segundo Prado, deverá alcançar participação de 13,4%.
A estagnação do consumo per capita de peças é explicada, diz Prado, pela queda do poder de compra da população e baixo crescimento do PIB. Os canais de varejo de vestuário faturaram no ano passado R$ 172 bilhões, com crescimento de 7,3% comparado a 2012 e apenas 2,1% em volume. “Apenas segmentos como jeanswear e moda esportiva obtiveram crescimento bem superior, de dois dígitos”, afirma Prado. Neste ano, a projeção do IEMI não é otimista: o setor vai crescer apenas 0,2% em volume e 3,1% em valores.
O Brasil tem hoje 152 mil pontos de venda de vestuário, sendo que 51 mil estão em 495 shopping centers (35% das lojas do país). Esses 152 mil pontos de venda respondem por 84% das vendas em volume, sendo que as lojas independentes respondem por 38%do total e 30% em valores, apontando que as multimarcas estão cada vez mais comprimidas em preços. Outros 60% das vendas de vestuário acontecem nas grandes redes que crescem acima da média do mercado (15,1% nos últimos cinco anos ante 2,3% do restante dos pontos de venda).
Dentro do panorama de consumo, Prado destaca que a busca de lucratividade tem levado à consolidação no mercado. “Não é um processo fácil porque a lucratividade pode ser perdida com a união de marcas não complementares”, alerta. Segundo ele, o foco das grandes redes hoje não é mais ter produto mais barato, mas ter diversidade e qualidade para atrair o consumidor. Movimentos que devem ser acompanhados com atenção pelo setor, entende Prado, é a busca de canais próprios pela indústria, a vinda de players internacionais financiados por grandes fundos e custo pequeno de implantação no Brasil, e a mudança no perfil do consumidor. Hoje ele tem muito mais informação sobre marcas e produtos e pode comprar on-line pelo celular.