A mão que faz o jeans

O elemento humano na lavanderia industrial faz a diferença, pois, moda deve ser entendida como um fenômeno híbrido, em que o artístico e o industrial se imbricam.

A indústria de beneficiamento e acabamento têxtil, comumente conhecida como lavanderia industrial, vive um momento ímpar com a valorização de seus serviços. Verdadeiras obras de arte ali são produzidas. Cada peça de roupa é tratada como única. O jeans virou objeto de desejo de consumidores cada vez mais exigentes. Agora, o beneficiamento e o acabamento desses artigos consistem não apenas em propiciar conforto, mas, principalmente, num resultado estético totalmente diferenciado. Consegue-se isso até mesmo com uma única padronagem de tecido em índigo. Para tanto, utilizam-se as mais variadas técnicas. Os recursos não são poucos. Cada lavanderia tem seus segredos, fruto de anos de experiência. A concorrência instiga a criatividade. “Tudo muda o tempo todo”. Rapidamente. Isso exige investimento constante na área de pesquisa. Novas tecnologias com novos equipamentos e novos processos precisam ser desenvolvidos.

Porém, não basta ter equipamentos modernos. O elemento humano é o diferencial. Uma boa equipe de desenvolvimento, com profissionais de arte – estilistas, designers, artistas plásticos – é fundamental. Eu diria, é imprescindível para manter-se no mercado de moda. Pois, moda deve ser entendida como um fenômeno híbrido, em que o artístico e o industrial se imbricam. Aqui temos um paradoxo: enquanto a indústria exige uma padronização do produto, o consumidor busca a sua individuação. Fazer a síntese desses dois vetores talvez seja o principal segredo do sucesso de qualquer empreendimento. Digo de outra forma: decifrar os sinais que nos enviam os consumidores e vencer os limites da padronização é o desafio de nossa época.

Além de pensar na originalidade do produto – anseio do consumidor, precisa-se pensar em etapas para reproduzi-lo em série – essência da empresa. Porém, isso deve ser feito de tal forma que não percamos a singularidade obtida na criação. Dentro dessa linha o papel do elemento humano vem à tona mais uma vez. Eu diria, ainda, que um bom resultado final do produto desenvolvido depende, sobretudo, da capacitação de seus profissionais do chão-de-fábrica. Faz-se necessário traçar o perfil dos que trabalham nos processos físico-artesanais – lixar, puir, esmerilhar. Além da dedicação e da habilidade, é preciso que esse profissional tenha, também, sensibilidade artística para executar as tarefas. Identificar as aptidões artísticas desses profissionais considerando que o trabalho manual agrega valor ao produto, reconhecê-los e valorizá-los, certamente fará o diferencial.

*Estilista pós-graduada em Engenharia Têxtil; coordenadora de estilo da D’Metal e Chica Fulo; professora de Tecnologia Têxtil do curso de Estilismo em Moda da Faculdade Católica do Ceará – Marista Fortaleza