Como o terceiro maior produtor mundial, Brasil fabricou 954 milhões de pares em 2016, e tem ampliado o uso de jeans como opção de matéria-prima para revestimento do cabedal.
Denim em calçado tem crescido a cada estação, e não apenas nas coleções dos fabricantes brasileiros. Não representa a maioria dos modelos, mas, tem aparecido regulamente em muitas coleções, especialmente dos produtores de calçados femininos. É um nicho a avaliar porque o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, tendo fabricado 954 milhões de pares em 2016, dos quais 4,5% feitos usando tecido como insumo principal para o cabedal, de acordo com dados da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados). E o denim é um dos materiais empregados nesses 46,4 milhões de pares produzidos com matéria-prima têxtil.
Em princípio, qualquer tipo de denim pode ser opção para a montagem de calçados, afirma o professor doutor Luiz Carlos Robinson, especialista em calçados da Feevale, universidade localizada em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, um dos pólos calçadistas do Brasil. “Tem que observar a gramatura, o tipo de calçado (se é feminino ou masculino) e a aplicação dele. Em qualquer dos casos, a adequação passa pelo processo de dublagem”, acrescenta o professor.
PARA QUE SERVE A DUBLAGEM
É processo comum na indústria calçadista. Serve basicamente para forrar o cabedal – que é a parte de cima aparente do calçado. “A partir da dublagem é possível deixar o material menos elástico, mais elástico, mais duro, mais macio, mais maleável. Pode usar um tecido de uma gramatura menor e mediante a dublagem torná-lo mais pesado”, explica o professor da Feevale. A indústria dispõe de diferentes técnicas para dublar calçados.
Pode ser a quente, quando o rolo dos dois materiais – de cabedal e do forro – são grudados, às vezes com uma espuma ou entretela entre eles, passando por uma prensa. Tem outras técnicas. A Picadilly, um dos maiores produtores de calçados femininos do Brasil, com produção de 9 milhões de pares por ano, no caso do jeans, a dublagem é feita durante o processo, passando um produto adesivo especial diretamente nas peças, conta Jonas Daniel Prass, gerente de desenvolvimento de materiais e novas tecnologias da empresa.
Ele explica que no caso do jeans a dublagem tem dupla função: além de proporcionar conforto também evita manchamento dos pés ou de meias, uma vez que o denim é feito para desbotar. Já a Blend Sport, que produz a linha Keds no Brasil, opta pela dublagem a quente(com filme a cerca de 200 graus centígrados), descreve Janete Reis, gerente de produto da companhia.
A Blend Sport não usa denim elastizado, prefere os 100% algodão. “Todos os tecidos usados nos nossos calçados precisam estar ‘travados’. Não podem esticar para não sofrer alteração na modelagem. Precisamos que o cabedal fique selado na forma”, diz a executiva.
A alta temperatura sobre o elastano é uma questão importante a considerar, para não romper o fio e perder a característica de elasticidade, observa Wagner Ferreira, coordenador do curso de Design de Calçado, do Senai de Franca, cidade do interior paulista que forma outro grande pólo calçadista do país.
“Ao usar denim com elastano outro cuidado é a escolha do material com o qual será dublado. Se o material para dublagem trava, não se explora a característica de elasticidade. Por isso, o material dublado também deverá ter elasticidade semelhante”, ensina o coordenador do Senai. Ele cita o exemplo dos tênis que entraram na moda e não têm cardaço. “É preciso de elasticidade para calçar mais fácil”, destaca.
A dublagem tem ainda a função de dar estrutura ao calçado, quando o revestimento empregado é leve.
RESINA EXTERNA
Embora nem todos os fabricantes usem resina para vedar a parte externa do calçado, esse é outro recurso empregado em diferentes materiais, inclusive no couro, que deve valer também para o denim, ressalta Robinson, da Feevale. A resina para calçados é líquida sendo aplicada por pistola ou por imersão. “Por imersão dura mais, embora o calçado tenda a ficar mais armado. Pistolando por fora, agride menos o material, fica mais macio”, ensina o professor. Outra função da resina é vedar o material do cabedal, acrescenta Ferreira, do Senai.
SERVIÇOS ESPECIAIS
Não é problema encontrar denim no Brasil. O país tem uma farta variedade de tecidos. Mas, os fabricantes de calçados têm demandas específicas, que nem todos os fornecedores atendem. A Picadilly é um exemplo. A empresa opta por comprar denim pré-descarregado que já chega à produção estonado, conta Prass. “Isso evita o manchamento de pele, solado ou outros materiais usados junto com o denim”, revela o gerente.
Dependendo do efeito a ser atingido, a Blend Sports compra o denim pré-lavado ou lava depois de cortado ou não lava, conta Janete.
Preço não é um problema, aponta Ferreira, do Senai. Comparado ao couro, por exemplo, o denim é bem mais em conta. O metro quadrado do couro custa em torno de R$ 60,00 e dele saem cerca de quatro pares, porque algumas partes são descartadas por apresentarem defeitos na superfície. O custo do denim é por metro linear, com largura média de 1,50 metro, e se aproveita a maior parte do tecido, destaca o coordenador.
LANÇAMENTOS DE VERÃO
O uso do denim em calçados é mais explorado em modelos de estilo casual, sem salto, embora as próximas coleções incluam opções mais formais, de salto também revestido. “Teve uma temporada forte do denim para o masculino mas o consumidor não aceitou tanto a novidade”, relata Ferreira. Para o próximo verão, predominam os calçados em 100% algodão.
É o caso da Picadilly que vai lançar 12 modelos em jeans, entre moule, sapatilha com bordado floral feito à máquina, sapato com salto médio ou anabela, mistura de denim com linha, napa ou detalhes em suede, informa Prass. O gerente conta que nas últimas coleções a Picadilly tem mantido uma linha feita de denim, aumentando a oferta.
A Ked’s vai lançar 20 modelos em jeans para o verão, diz a gerente de produto da Blend Sports. A coleção terá modelos de tênis de cano baixo e alto, com e sem cadarço.
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