Amir Slama, Flavia Aranha e Leandro Castro moldam novos caminhos criativos com inovação, pesquisa e estética natural
Inspiradas pela floresta, pelo menos três marcas de luxo – Amir Slama, Flavia Aranha e Leandro Castro — lançaram coleções na SPFW N60 que olharam para a região amazônica do lado brasileiro como nova fronteira criativa. Seja pela pesquisa de biomateriais de uso têxtil, pelo ativismo integrado ao produto ou pela construção de formas de criação que escapam do tradicional. Embora cada uma das três marcas siga caminhos comerciais próprios, as escolhas criativas das coleções desfiladas abraçam o interesse pela integração entre natureza, identidade e inovação na moda brasileira.
FLAVIA ARANHA

Com a coleção Floresta, Flavia Aranha mostrou biotêxteis de algas e corantes desenvolvidos com bactérias amazônicas, além de parcerias com artesãos e artistas indígenas. O desfile funcionou como manifesto estético e técnico, com roupas que mimetizam folhas, ventos e ciclos naturais. “Morar na floresta tem me feito enxergar com mais profundidade. Reconheço muitos tons de verde, observo o crescimento das folhas, identifico espécies, aprendi os sons dos pássaros e até o movimento dos peixes. A floresta virou minha casa e também um novo idioma”, declarou a estilista em comunicado à imprensa sobre a nova coleção.
Entre as inovações que chegaram à passarela, Flavia Aranha destaca a aplicação de látex amazônico em impressão botânica desenvolvida em parceria com a Da Tribu em uma capa de chuva. Também aponta a criação de um biotêxtil de algas pelo designer David Cabra, pigmentado com índigo, argila vermelha e verde; e a colaboração com a startup Aiper, que desenvolve corantes naturais a partir de bactérias.
A coleção retoma ainda a pesquisa pioneira da marca com a fibra de malva, utilizada tanto em mechas brutas quanto em fios para a construção de tecidos 100% naturais.
AMIR SLAMA

Aos 35 anos de carreira, Amir Slama apresentou coleção na SPFW N60 que revisita a história do estilista no beachwear de luxo, trazendo também de volta para a passarela top models de outras gerações, como Claudia Liz, Isabella Fiorentino, Pathy Dejesus, Cassia Ávila e Vivi Orth. Conforme o estilista explicou em comunicado à imprensa, a coleção partiu de pesquisas realizadas nos últimos anos na Amazônia, tendo por base para as estampas a obra de Glauco Rodrigues, artista que retratou o Brasil de forma pop e moderna.
“Ver a riqueza da nossa natureza me inspira muito. Estas viagens [para a região amazônica] me permitiram vivenciar os espaços, a paisagem, a arquitetura, os animais silvestres e toda a força que só é possível sentir estando ali. Tudo isso me preencheu e, de alguma forma, se refletiu de forma genuína nas minhas criações”, declarou o estilista no informe.
Cores primárias e tons naturais dominaram a passarela, com nuances de marrom e variações de cor da pele. As propostas incluíram ainda looks masculinos e experimentos com texturas e tecidos de apelo ecológico. O desfile na SPFW também marcou o lançamento do projeto Fashion for Forest, criado em parceria com a ativista Txai Suruí para promover o reflorestamento da Amazônia. A iniciativa deu os passos iniciais no primeiro semestre de 2025, em atividade com alunos do curso de moda do Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo.
Para isso, Amir Slama lançou um modelo que chama de ‘tree’-shirt, em referência a Tshirt (camiseta em inglês). A cada peça vendida, uma árvore será plantada no território Paiter Suruí, localizado em Rondônia, por meio do programa Pamine Reforestation, que já realizou o plantio de 1 milhão de árvores na região. O desenho da camiseta é assinado pela modelo e artista plástica Claudia Liz. A comercialização será realizada pelo ecommerce Farftech.
LEANDRO CASTRO

Na coleção Gaiafilia, Leandro Castro levou à passarela o resultado de sua imersão na região de Santarém (PA) pelo projeto Biomas, do Sebrae, sob a curadoria de Walter Rodrigues. Suas peças exploram madeira de manejo florestal, látex e resíduos têxteis de baixo impacto. São peças agênero, de estrutura técnica e apelo conceitual, que combinam pesquisa científica e artesanato regional.
Com formação acadêmica em Ciência, Tecnologia, Moda e mestrado em Engenharia e Inovação, além de ser professor em instituições como a Faculdade Santa Marcelina e o Senac, Leandro incorpora à sua prática autoral conceitos de biomimética e bioinspiração, já utilizadas em coleções anteriores, explorando formas, texturas e cores extraídas da natureza amazônica.
fotos: divulgação SPFW (Agência Fotosite / Gustavo Scatena / Zé Takahashi / Marcelo Soubhia)




