O apelo tem viés sustentável porque linho é resistente, termorregulador e requer pouca água para o cultivo, porém, é uma fibra cara.
Nos ciclos mais recentes da moda, o linho foi, voltou e desapareceu. A partir de 2021, porém, o mercado acena por resgatar a fibra abrindo espaço para o denim com linho natural, como mostraram
alguns lançamentos da Denim Première Vision realizada em meados de dezembro. O apelo da sustentabilidade valoriza o blend entre fibras naturais pouco usadas até o momento, como o cânhamo e o linho. As novidades deverão aparecer no mercado com mais força no verão 2022.As tendências mapeadas pelo salão de negócios, em formato digital, apreciam as irregularidades na superfície dos tecidos à base dessas fibras, assim como a aparência rústica de toque suave. Em palestra sobre tendências no jeans, Manon Mangin, gerente da Première Vision, recomendou o uso de mais fibras orgânicas e naturais, além do algodão, para o verão 2022. “O jeans com 100%, ou com 98%, de composição em fibras naturais facilita para as peças serem recicladas mais tarde”, ressaltou a executiva.
As qualidades ecológicas apontadas pelos especialistas incluem a resistência da fibra de linho, da mesma forma que a do cânhamo. A nova onda celebra ainda as propriedades termorreguladoras de ampla variação.
De acordo com Julia Baruque Ramos, professora da USP (Universidade de São Paulo), em palestra durante a quarta edição da Brasil Eco Fashion Week, o linho responde bem a temperaturas quentes, como as do Brasil. E protege do frio extremo em contato com a pele, como acontece na Rússia, um grande produtor de linho.
A planta demanda pouca água para o cultivo, ao contrário do algodão. Além disso, tem propriedades bactericidas.
PRODUÇÃO MUNDIAL MUITO PEQUENA
De acordo com o relatório Preferred Fiber & Materials, da Textile Exchange, a produção mundial de fibras têxteis alcançou 111 milhões de toneladas em 2019. Para a próxima década, projeta aumento, desde 114 milhões em 2020 até atingir 146 milhões de toneladas em 2030.
Contudo, a produção de fibras de linho é uma pequena fração do total. Mesmo incluindo outras fibras naturais como cânhamo, juta, rami, sisal, coco, kenaf, sumaúma e abacá, representam juntas 5,7% do total, algo em torno de 6,5 milhões toneladas em 2019. Desses, 870 mil toneladas correspondem a fibras de linho, produzidas em países europeus como França, Bélgica, Alemanha, Irlanda, Países Baixos e Portugal. Além de Rússia e Polônia.
Para efeito de comparação, no mesmo período, foram 26 milhões de toneladas de algodão e 52 milhões de toneladas de poliéster produzidos em 2019 no mundo.
Até 2030, o estudo da Textile Exchange prevê que o linho mantenha participação percentual, acompanhando o crescimento de produção até 2030.
DENIM COM LINHO NO BRASIL
O Brasil chegou a ter um bom volume de produção de linho para uso têxtil até o início da década de 1970. Mas foi superado pela adesão massiva às fibras sintéticas, inclusive o linho sintético. A produção atual está limitada a pequenos produtores e, mesmo assim, destinada a outros fins como extração de óleo de linhaça usado para proteção de madeira.
O cultivo do linho para uso têxtil é incipiente no Brasil, direcionado a aplicação em tecidos para fins de bordados, como o artesanato nordestino, além de produtos de cama, mesa e têxteis de decoração.
Conforme a professora Julia, o processamento do linho é complexo e, por isso, é uma fibra considerada cara, quando natural. Contudo, algumas iniciativas estão em curso no país. “O momento é propício para inovação e para o Brasil voltar a plantar linho sobre outras bases”, afirmou Larissa Oliveira, à frente da startup Jurema Agrofloresta Têxtil, em palestra na Brasil Eco Fashion Week.
Ela defende a formação de clusters industriais, integrando do campo à marca, passando pelas fiações e tecelagens. “As marcas também precisam se responsabilizar pela inovação e participar da construção desse novo ecossistema de produção”, ressaltou. Para concluir: “Não é só procurar um fornecedor pronto”.
Entre os fabricantes nacionais de denim, a Canatiba mantém em linha alguns artigos que trazem linho natural na composição, como Mixlinho, Viscolinho, Cotelinho, entre outros.
A Vicunha que já teve denim com linho natural no passado mantém em linha a sarja Creta. Leve com 4,7oz, combina 52% algodão, 14% linho e 34% modal.
Fibras brasileiras, juta e rami podem funcionar como alternativa ao linho.
