Uma das poucas certificações nacionais, na área de jeans está voltada para PLs, facções, lavanderias, entre outras atividades.

Depois da pandemia de covid-19 que fechou o comércio físico entre final de março e praticamente abril inteiro no Brasil, o Selo ABVtex tem recebido de cinco a dez consultas por semana. É um aumento e tanto, de acordo com Edmundo Lima, diretor executivo da associação que representa o grande varejo brasileiro. “E estamos tendo bons contatos com empresas querendo se certificar pela primeira vez”, destaca o executivo.
Ele atribui essa procura como reflexo do próprio mercado. “Muitas empresas estão perdendo seus clientes. E é notório que o programa acaba sendo uma oportunidade de geração de negócios, porque os varejistas se comprometem a só comprar de fornecedores certificados”, diz Lima. O Selo ABVtex é um programa de certificação criado em 2010 para assegurar para marcas e varejistas da associação que fornecedores da cadeia, e seus sub-contratados, operam sob as regras de compliance que exige a legislação brasileira. Inicialmente, estava voltado apenas a questões trabalhistas e sociais. Com o decorrer do tempo, o programa incluiu também aspectos de compliance à legislação ambiental, manuseio de produtos químicos e boas práticas de gestão.
A ABVtex representa marcas e varejistas de roupas, calçados, acessórios, itens de cama, mesa e banho. A maior parte dos associados também adere ao programa. Essas empresas assinam um termo de compromisso, pelo qual assumem a obrigação de só contratarem fornecedores certificados. As auditorias são feitas por cinco acreditadores independentes. Os custos da auditoria correm por conta do fornecedor. Hoje em dia a lista das empresas certificadas está aberta para consulta no site da entidade.
EMPRESAS CERTIFICADAS EMPREGAM 50% DOS TRABALHADORES DO SETOR
Angela Bozzon, gerente do Programa de Certificação da ABVtex, explica que o selo é relevante em função do número de empresas certificadas, sendo a maioria de pequeno porte. Até julho, o programa contava com 3.750 certificados em 18 estados e 600 municípios. Antes da pandemia, empregavam juntos 332 mil trabalhadores, informa a gerente.
O Brasil tinha pré-pandemia entre 50 mil e 60 mil empresas produzindo vestuário, estima Lima. E mais 200 mil MEIs. Eram, então, 700 mil pessoas empregadas com carteira assinada.
Ainda que o programa certifique entre 5% e 10% do número total de empresas formais no Brasil na área de vestuário, esses fornecedores empregam 50% do contingente de trabalhadores do setor, ressalta Lima. Ele explica que frente ao perfil típico das empresas de vestuário, as empresas do programa seriam as maiores.
Na parte de vestuário, o Selo ABVtex contempla confecções, PLs, oficinas de costura, lavanderias industriais, estamparias e tinturarias.
PROGRAMA SERÁ ESTENDIDO A OUTROS ELOS DA CADEIA
Segundo Lima, a intenção é estender a abrangência do Selo ABVtex, incluindo fornecedores de outros níveis da cadeia, começando pelos fabricantes de aviamentos a partir de 2021. Depois para a indústria têxtil, de tecidos, fiação e beneficiamento. “A gente acredita que deve chegar na porta da fazenda produtora de algodão, permitindo alcançar a rastreabilidade da produção têxtil como um todo”, observa o presidente da entidade. Do portão para dentro da fazenda, os produtores de algodão nacionais dispõem da certificação ABR (Algodão Brasileiro Responsável) associada com a licença de Better Cotton (BC) atestada pela BCI, lembra o executivo.
Para calçados, a ABVtex estuda parceria, uma vez que o setor conta com certificação feita pela Abicalçados junto com a Assintecal. Isso evitaria multiplicidade de auditorias, acrescenta Lima.
A parte de acessórios é considerada mais complexa devido à variedade de itens produzidos, de bolsas a bijuterias, e da grande quantidade de tipos de materiais diferentes empregados na fabricação.
Em outra frente de expansão estão as conversas da ABVtex no sentido de firmar parcerias com organismos internacionais de certificação similares ao selo brasileiro. De forma que o Selo ABVtex fosse reconhecido internacionalmente, evitando assim que as empresas exportadoras do programa tivessem que investir em outra certificação.
CRÍTICAS AO SELO
Uma das críticas frequentes ao programa é de que as marcas e varejistas não exigem o Selo ABVtex dos fornecedores estrangeiros, que muitas vezes atuam em países com legislação considerada bem menos rígida que a brasileira. A avaliação é de que essa diferenciação penalizaria as empresas nacionais com investimentos considerados altos para a certificação, afetando a competitividade. “O mercado brasileiro é basicamente abastecido pela produção local: 85% nacional e 15% importado. O foco deve ser na produção nacional”, afirma o presidente da associação para explicar a exigência.
De acordo com o executivo, no plano internacional, os associados realizam suas próprias auditorias no que se refere a fornecedores de fora do país. Outros exigiriam certificações internacionais, acrescenta.