Apontam para isso indicadores positivos da economia associados a eventos como Dia das Crianças, Black Friday e Natal, além do FGTS.
Com o setor em estado bipolar que foi do otimismo exacerbado no início de 2019 à depressão profunda em abril, julho acenou com a estabilidade. E uma pequena expansão do varejo de moda acumulada no ano (+0,4%). Nesse movimento o Iemi enxerga o ponto de reversão da curva de queda, estimulado pelos discretos indicadores positivos da economia brasileira. “Teremos um ótimo final de ano”, afirma Marcelo Prado, diretor do Iemi, empresa de estudos de mercado, entre os quais o têxtil e de vestuário.
Ele estima que 2019 encontre crescimento de 1,4% no varejo em valores. É bem menos que os 2,6% projetados no início do ano pelo Iemi. “Não será nenhum grande número, mas será positivo”, ressalta o especialista. A liquidação do inverno ajudou a destravar o setor têxtil e de vestuário, diz. Ainda que tardio e pontual, o frio apareceu, e as lojas esvaziaram os estoques. Os pedidos de primavera do varejo que começaram comedidos foram acelerando para as coleções do verão, tradicionalmente a melhor do ano.
O nível da produção de vestuário no Brasil cresceu em julho refletindo o aumento das encomendas. “Será um ótimo final de ano se o varejo estiver abastecido, caso contrário, vai perder dinheiro como aconteceu no ano passado. Quando começou o movimento mais aquecido, muitas lojas não tinham produto para vender”, lembra Prado.
Ele considera que o primeiro teste da consistência dessa reversão será o Dia das Crianças. “Aí tem uma demanda reprimida, que está latente nas camadas mais populares. Isso pode criar boa perspectiva para venda de roupas”, entende o diretor do Iemi. A Black Friday tem ajudado nas vendas, como um esquenta para o Natal.
REFLEXO DA LIBERAÇÃO DO FGTS PARA O VAREJO
“O FGTS entra como lenha na fogueira, fomentando o consumo para as classes C, D e E. Para as classes média e alta o valor de R$ 500 não é tão significativo. Mas para os menos abastados representa uma renda extra”, analisa Prado. Ele considera que boa parte do dinheiro liberado vai para o consumo das famílias.
A ABVtex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) tem visão mais conservadora em torno da liberação do FGTS, que começou em setembro. A expectativa é positiva. “Sabemos que poderá impactar a economia e o comércio em geral, visto que as lojas têm se movimentado para levar o consumidor às compras. Imagina-se que boa parte dos trabalhadores beneficiados devem destinar o valor para pagar as dívidas. De qualquer forma, é mais um componente para movimentar o varejo de moda neste momento, visto que ao saldar as dívidas o consumidor irá habilitar seu nome e crédito”, afirma Edmundo Lima, diretor executivo da ABVtex.
PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO ATÉ 2023
As projeções do Iemi apontam para um período de expansão do mercado nos próximos cinco anos. Segundo os dados da empresa, o varejo vai crescer 2,6% ao ano até 2023. “E a indústria deverá crescer na mesma proporção”, afirma Prado. Ele ressalta que a recuperação será lenta. “E não é para todos”, adverte o diretor do Iemi. Longa, a crise econômica deixou muitas empresas financeiramente vulneráveis, porque enfrentaram custo alto de capital, caixa baixo e pouca capacidade de investimento, observa. Ainda que haja a recuperação de vendas, as margens continuarão comprimidas.
“Só em 2021 o varejo alcançará o desempenho bom de 2014, antes da crise. Completa assim o ciclo de sete anos de penúria”, afirma Prado. Ele avalia que a partir de 2020 o mercado de moda comece a voltar ao normal.
BASE FRACA DE COMPARAÇÃO
O diretor do Iemi reconhece que a base de comparação – o segundo semestre de 2018 – foi bem fraca. “De agosto a outubro fomos muito mal obrigado. Teve greve dos caminhoneiros, ameaça de impedimento de um presidente (Michel Temer) e o período eleitoral bastante conturbado. No ambiente político e econômico, a instalabilidade era grande. Os números foram muito fracos no segundo semestre de 2018”, relembra.
Na visão dele, no segundo semestre de 2019, porém, as condições são outras. “Os indicadores mostram recuperação da economia, disseminada entre todos os setores”, diz. Ele não acredita que seja uma bolha de crescimento que possa estourar a qualquer momento. Prado enxerga o começo de uma lenta recuperação. “A menos que tenha um furacão na política”, avalia.