Consultores internacionais recomendam concentrar esforços em peças voltadas a consumidores de alta renda
Durante o II Circuito Texbrasil, organizado pela ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), consultores da África do Sul, Austrália, Colômbia, França e Reino Unido falaram sobre as possibilidades que os exportadores brasileiros encontrarão em seus países de origem. O jeanswear aparece ao lado da moda praia como grande chance para os empresários que desejam investir nesses mercados.
Salvo os consultores ingleses que estavam pouco antenados com o mercado de vestuário brasileiro, as opiniões foram semelhantes: o produto made in Brazil já tem fama internacional de boa qualidade. Seu posicionamento deve ser nas fatias de mercado que prezam pelo valor agregado. Conhecer o público-alvo estrangeiro é fundamental. O preço deve ser competitivo, contudo, os baixos valores não devem ser prioridade (não será fácil enfrentar a incrível capacidade de produção da China).
O objetivo do evento é intensificar a promoção dos itens brasileiros no exterior. Sendo assim, os consultores que participaram servirão como emissários para encontros de negócios entre o Brasil e as nações que eles representam. O Texbrasil tem o apoio da APEX (Agência de Promoção para Exportação e Investimentos). A primeira edição foi realizada em 2005 e trouxe ao país representantes da Alemanha, do Canadá, da Espanha, do México e de Portugal.
O trajeto, que começou no último dia 29 no Hotel Jaraguá, no centro de São Paulo, reuniu diversos empresários do setor têxtil. A capital paulista foi a primeira parada. Os consultores também passaram por Porto Alegre, Vitória, Salvador e Fortaleza. Além de ministrar as palestras, os profissionais estrangeiros visitaram showrooms especialmente preparado para eles com o melhor da produção das confecções de cada região visitada.
Opinião dos Consultores
Em comum, África do Sul, Austrália, Colômbia, França e Reino Unido têm o respeito pelo jeans brasileiro e a presença de tecidos chineses. Exceto os ingleses, os consultores enfatizaram a venda de peças prontas, de alta qualidade focada para consumidores mais abastados. Confira os pontos principais apontados pelos especialistas:
Liz Whitehouse, África do Sul: A classe média, principalmente negra, está em ascensão em função da democracia recente no território. Há, portanto, uma demanda por produtos de valor agregado, como o jeans brasileiro, bem conceituado no país. Num mercado dominado por grandes cadeias varejistas, o foco deve ser as que trabalham com produtos de melhor qualidade. A competição entre as redes é alta e, por isso, elas precisam de um diferencial. Segundo a consultora, o Brasil não deve tentar competir com os chineses que hoje respondem por 63% das importações têxteis. Ela avalia que as chances seriam maiores com a criação de uma ‘marca Brasil’ e o esforço em conquistar um nicho específico de mercado porque há a vontade de parceria com as empresas daqui. Outra recomendação é inicialmente aceitar a venda de poucas quantidades, porque como o Brasil é visto como um concorrente da África do Sul, os empresários daquele país ainda enxergam a relação com cautela.
Lachlan Caddy, Austrália: As afinidades entre clima e território contribuem para a aproximação comercial entre as nações. A população está se informando sobre moda e preza muito pela marca do produto, por isso o jeans brasileiro ainda não tem penetração na grande ilha. O vestuário nacional tem boa imagem entre os australianos e por isso seria importante a construção de uma grife no país. Os empresários de todos os setores que quiserem investir na Oceania devem levar em consideração as grandes distâncias e a densidade demográfica irregular, e oferecer produtos para empresas cujas vendas são feitas por meio catálogo e internet. Os compradores australianos querem confiabilidade e pontualidade na entrega.
Adriana Arias, Colômbia: Os vizinhos já são grandes parceiros na área de jeans. Empresas colombianas mantêm negócios com as principais tecelagens nacionais, como Santista, Horizonte, Vicunha, entre outras. O Brasil é uma referência na Colômbia. Os consultores de moda de lá viajam para as capitais do estilo e para São Paulo e Rio de Janeiro a fim de pesquisar tendências. O jeans é o produto que mais agrada aos colombianos dentro do universo têxtil brasileiro. E também é o principal produto de exportação para a nação vizinha. Os grandes atrativos do produto são seus processos de lavanderia, acabamento, variedade de tecidos e cortes. As peças devem ter valor agregado, muita qualidade e preço justo. A China ainda não tem grande mercado na Colômbia. Apesar de o país ser um grande produtor têxtil, as chances do Brasil também são consideráveis em segmentos mais populares.
Michael Gould, França: A capital mundial da moda vive um cenário de declínio em sua indústria têxtil. As empresas e os produtos estrangeiros estão tomando o espaço. As oportunidades do Brasil estão no segmento de moda verão; e o jeanswear está dentro dessa fração. Segundo o consultor, o jeans será tendência durante os próximos cinco anos. As calças jeans brasileiras já fazem sucesso na terra da Chanel. O acabamento das peças é um dos itens mais valorizados pelos franceses. O empresário que quiser entrar no país deve levar peças criativas, deve ser pontual nos prazos de entrega e investir em marketing. Agentes comerciais especializados e distribuidores são os melhores contatos. A Ellus é considerada um case de sucesso na França.
Jeffrey Young e Grace Halliday, Reino Unido: Para os consultores ingleses moda brasileira é sinônimo de Havaianas. As sandálias são mania por lá e por isso estão abrindo portas para novas marcas. O mercado inglês é composto pelo varejo exigente, competitivo, dominado por grandes redes que atendem consumidores sedentos pelo fast fashion (ou seja, a capacidade de produzir coisas novas num curto espaço de tempo). A Turquia hoje é um grande fornecedor dessa moda rápida. Nesse escopo, o jeans é peça-chave. Cada inglês tem no mínimo três calças no armário. A peça (de todos os tecidos) é o principal item de exportação no setor do vestuário. A pontualidade britânica na entrega e o foco nos grandes magazines são dois pontos indispensáveis para quem deseja competir no mercado do Reino Unido.