Censo inédito traça panorama econômico de um dos mais tradicionais polos de moda do país, com produção e empregos gerados

Pela primeira vez, o Bom Retiro ganha uma radiografia que dimensiona economicamente o território formado por diversas ruas, sendo a José Paulino a mais conhecida delas. Por décadas, o bairro da capital paulista foi referência nacional na moda e que atravessa, agora, um ciclo de reposicionamento. O Censo do Polo de Moda – Indústria e Varejo 2025, encomendado pela ABIV (Associação Brasileira da Indústria do Vestuário), confirma o peso do bairro do Bom Retiro no ecossistema produtivo.
Conforme o estudo, o polo de moda do Bom Retiro movimenta R$5,3 bilhões por ano em valor estimado de produção. São 50,5 milhões de peças fabricados ao ano por 757 empresas. Empregando 19,4 mil trabalhadores, com a média de 26 trabalhadores por empresa. Ao todo, a região reúne 780 unidades e 804 pontos de venda, formando um ecossistema de produção, distribuição e abastecimento do varejo de moda para diferentes regiões do país, informa o comunicado.
“O Bom Retiro ainda é subavaliado em termos de percepção pública. Há quem o associe apenas ao comércio popular, quando, na prática, estamos falando de um polo produtivo que abastece o varejo nacional e que gera emprego, turismo e renda A região concentra desenvolvimento, modelagem e produção, com velocidade de resposta e leitura rápida de tendências, antecipando movimentos que chegam das passarelas internacionais. Lojistas de diferentes estados vêm ao Polo para abastecer suas coleções. É um ativo econômico da cidade que precisa ser reconhecido como tal”, declarou em comunicado de imprensa Cinthia Kim, presidente da ABIV (foto abaixo).

PERFIL DO POLO
No atual ciclo de transformação, o polo de moda do Bom Retiro é gerido por uma nova geração de empresários — filhos e netos dos imigrantes que fundaram as confecções, aponta o comunicado de imprensa sobre o censo. A maioria formada por sul-coreanos, que sucederam a comunidade judaica, fundamental para estabelecer o perfil comercial do bairro. De acordo com o comunicado, a nova geração de empresários vem ampliando a profissionalização e gestão do polo.
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87,3% dos negócios correspondem a moda feminina. Mas há presença em outros segmentos como moda masculina, infantil, plus size, praia, acessórios, aviamentos e tecidos.
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93,2% dos empreendimentos operam em formato de loja; sendo 97% abastecidos com produção própria.
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Apenas 2,2% das lojas compram peças para revenda sob marca própria e 0,7% comercializam marcas de terceiros. Para o censo, essa característica reforçaria a identidade autoral e a independência produtiva do polo.
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46,1% empregam até 10 funcionários
29,7% empregam entre 11 e 29 colaboradores
10,3% empregam entre 30 e 49 funcionários
5,1% empregam mais de 100 empregados
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87,1% das lojas mantêm a unidade fabril no próprio Bom Retiro
Apenas 7,6% operam produção em outros bairros da cidade de São Paulo
1,2% têm produção em outras cidades do estado
1,1% produzem fora do estado São Paulo
3% das empresas operam sem unidade fabril
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93,5% das lojas atendem lojistas especializados em vestuário (como multimarcas, boutiques, lojas de bairro, redes e departamentos de moda)
61,8% vendem para sacoleiras e revendedores
38,7% também atendem o consumidor final
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4% das empresas comercializam para lojas não especializadas, como Pernambucanas, Americanas e hipermercados como Carrefour
3,6% têm como destino o comércio
1,9% destinam parte da produção à exportação
0,9% atendem o segmento institucional (hotéis, pousadas, clínicas, laboratórios e empresas)
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100% das lojas realizam atendimento físico no Bom Retiro
70,3% das lojas afirmam vender também pela internet. No atendimento e negociação, o WhatsApp é o principal canal, utilizado por 90,3% das empresas
53,7% mantêm e-commerce próprio
53% vendem por marketplaces voltados ao atacado
47,3% vendem por marketplaces voltados ao varejo
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No Bom Retiro, estão 16% das indústrias do setor no estado de São Paulo
O polo emprega 23,1% da mão de obra da cidade de São Paulo
Responde por 13,7% da produção em peças na capital
Sustenta 22,1% do valor de produção da cidade
FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO
A intenção da ABIV é o censo inédito do Bom Retiro funcionar como um instrumento estratégico para orientar decisões para impulsionar o polo de moda. Isso porque os dados mostram as dinâmicas produtivas, o perfil das empresas, os canais de venda e as conexões com o varejo nacional. E, dessa forma, os empresários poderiam repensar estratégias para reorganização territorial, reposicionamento de marca e melhoria das condições de operação.
De parte da ABIV, a entidade lista uma série de medidas a serem implementadas ou em fase de implantação. Um deles é o sistema de vigilância integrado, com 80 câmeras 24h conectadas à Polícia Militar, das quais 66 já instaladas. Ações contam com fortalecimento da marca Universo da Moda Bom Retiro (UMBR); projeto-piloto de circulação de mostruários entre lojistas de diferentes estados, apresentando o Bom Retiro como hub nacional do atacado; negociação com marketplaces e apps de varejo para melhorar as condições comerciais das confecções.
Também prevê ações para fornecer capacitação e suporte especializado, incluindo vendas, legislação, consultoria de estilo, assessoria jurídica e benefícios em logística, correios, transações financeiras e certificações.
Para 2026, estão previstos o desenvolvimento de um aplicativo voltado ao atacado, como ferramenta de vendas e relacionamento com compradores, e a criação de uma plataforma de empregos.
fotos: divulgação (Bruno Chicaroni)




