Altri entra em têxtil com a compra da startup AeoniQ

Empresa portuguesa assume controle em meio a entraves do mercado para escalar produção de fibras de nova geração.

Tradicional produtora de celulose de eucalipto, a portuguesa Altri entra no setor têxtil por meio da aquisição de participação majoritária no capital da AeoniQ, startup suíça de tecnologia que desenvolveu um fio têxtil biodegradável à base de celulose voltado a substituir o poliéster e o náilon na indústria têxtil. A transação prevê a construção da primeira planta industrial da AeoniQ dentro do complexo da Altri em Portugal, chamada de Caima, com início das obras previsto para 2026.

Conforme comunicado de imprensa das duas companhias, a conclusão do negócio pelo qual a Altri assumiria participação majoritária em joint venture a ser criada não está formalizada. Previsão de conclusão do negócio para meados do segundo semestre de 2025. As empresas não revelam o valor negociado, nem o aumento de capital pretendido.

O informe menciona que, concluída a transação, a planta industrial da Altri terá capacidade inicial de 1.750 toneladas por ano. Representa produção modesta diante da escala do mercado global, mas considerada estratégica para iniciar a industrialização da plataforma. Uma planta pré-industrial entrará em operação em Portugal no início de 2026, assume a Altri no comunicado à imprensa.

O acordo com a AeoniQ também prevê a integração vertical entre a produção de celulose da Altri e a fabricação do fio têxtil, o que pode reduzir custos e ampliar o controle sobre a cadeia de suprimentos. A AeoniQ é uma spin-off suíça da HeiQ Materials AG.

No entanto, para o mercado, o sucesso da empreitada dependerá da viabilidade comercial da fibra em termos de preço, além da inovação técnica.

RECONFIGURAÇÃO DO MERCADO

Por esse acordo, a Altri entra mais fundo no setor de fibras têxteis sustentáveis. Em 2021, a portuguesa anunciou o projeto Green Fiber, em parceria com a Caixa Capital Risc, empresa espanhola da Galícia. Tem por objetivo construir uma fábrica para produzir celulose dissolvida, insumo para viscose e fibras regeneradas. Mas não se restringe ao setor têxtil.

Com expectativa de entrar em operação a partir de 2028, a unidade da Green Fiber visa produzir até 400 mil toneladas de fibras solúveis por ano, sendo metade destinada à fabricação de liocel para uso têxtil. O restante pode servir para aplicações nos setores farmacêutico, de alimentos, produtos de higiene e embalagens.

Entretanto, a Altri entra nesse segmento em momento de reconfiguração do mercado de fibras têxteis. A Renewcell pediu falência e a brasileira Suzano desembarcou da Woodspin que criou junto com a finlandesa Spinnova, deixando dúvidas sobre o impacto da decisão na continuidade do projeto.

Mesmo contando com o apoio de marcas como Hugo Boss e do grupo têxtil sul-asiático MAS Holdings, a tecnologia da AeoniQ prometia a entrada em operação de uma fábrica-piloto em 2024, com entregas em 2025, o que não ocorreu. A entrada da Altri pode dar fôlego industrial e financeiro à AeoniQ, entende o mercado.

ALGUNS PROJETOS DE FIBRAS TÊXTEIS INOVADORAS

foto: divulgação Altri