Algodão mais caro preocupa a indústria, assim como trabalhadores afastados por covid-19.

Para a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), o início de 2022 sugere que o ano será “difícil, ruidoso e polêmico”. O aumento de custos preocupa a indústria do setor. Além do preço dos fretes internacionais que permanece em patamares recordes de alta, o setor foi surpreendido pelo algodão
mais caro, afirmou o presidente da entidade, Fernando Pimentel, em encontro com a imprensa durante o qual a Abit faz o balanço de 2021.“É um problemaço. As cotações internacionais estão subindo sem expectativa de arrefecimento a curto prazo”, afirmou. De acordo com o executivo, as projeções recentes não indicavam essa escalada do algodão. E acrescentou que as empresas não têm capacidade de absorver esse aumento, sem repassar. Também pesa o aumento dos combustíveis.
Ao cenário de custos altos, o início de 2022 juntou o avanço da covid-19 no país por contaminação pela variante ômicron. A Abit tem relatos de afastamento de trabalhadores em áreas sensíveis da indústria, como a produção, afetando o ritmo de atividade.
O último trimestre de 2021 mostrou ainda desaquecimento das vendas do varejo, como reflexo da queda de renda do consumidor, ressaltou Pimentel.
DESEMPENHO AQUÉM DE 2019
A Abit faz o balanço de 2021 apontando para recuperação dos negócios. Houve crescimento na comparação com a fragilizada base de 2020. Mas não suficiente para retomar o patamar de 2019.
As projeções indicam cenário de estabilidade em 2022, com pequena variação positiva sobre 2021. A estimativa da Abit é a produção nacional crescer 1,2% em relação a 2021 e as vendas internas 1%.
Citando dados do Iemi, Pimentel informa que a produção de vestuário em 2021 está estimada em 5,6 bilhões de peças.
Sobre consumo no varejo, as informações mais recentes são de 2020, quando o país movimentou vendas avaliadas em R$193,2 bilhões, envolvendo 5,2 bilhões de peças, entre produzidas no Brasil e importadas.
Em 2019, seriam R$231,3 bilhões e 6,3 bilhões de peças no total.
DENIM PARA EXPORTAÇÃO
Em sua apresentação à imprensa, Pimentel citou mais de uma vez o segmento do jeans como exemplo de ações de sustentabilidade e oportunidade com exportação.
No caso da exposição ao algodão, ele comentou o esforço da indústria para desenvolver tecidos mais leves, que levam menos algodão na composição que no passado. Ou a procura por outras fibras e o uso de matéria-prima reciclada.
Na área de beneficiamento, destacou o empenho em usar processos secos em lavanderia ou que demandem menos água.
Ressaltou o crescimento das vendas de denim para países próximos, em especial para a Colômbia, que se tornou o principal destino do tecido brasileiro no mercado internacional, como o GBLjeans destacou na reportagem de ontem.
Em painel sobre ESG, no início da semana, Pimentel analisou que, a despeito do aumento registrado da exportação de denim, a participação brasileira no comércio internacional é pequena. O mercado interno absorve a maior parte do que os fabricantes brasileiros produzem.
Ele comentou no painel que a produção global de denim foi estimada em 1,6 bilhão de metros lineares em 2020. E que as exportações brasileiras deste tipo de tecido em 2021 equivaleram a cerca de 1,6% do total. Algo em torno de 25 milhões de metros lineares.