China e Índia promovem eventos para aproximar exportadores de varejistas e marcas nacionais, provocando reação da indústria local, enquanto grandes cadeias de moda estudam desembarcar no país.
Nos próximos dias, serão realizados dois eventos na capital paulista que visam fazer a aproximação de grandes empresas exportadoras de roupas com redes varejistas locais. Pela primeira vez, a Índia promove uma rodada de negócios na área de moda, com a expectativa de atrair 500 varejistas, entre grandes e médios interessados em importar roupas prontas. Também a China por intermédio da Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Têxteis e Vestuário (CCCT) e do Conselho da China para a Promoção do Comércio Internacional (CCPIT TEX) realiza a primeira edição do GoTex Show, feira para promover negócios entre os dois países organizada pela FCEM (Feiras, Congressos e Empreendimentos).
Talvez por conta dessa movimentação e da abertura de loja no Chile, voltou a circular pelo mercado o boato de que H&M teria planos para entrar no Brasil e que estaria procurando imóvel para alugar na avenida Paulista, onde Marisa e Renner já têm loja. Desde 2008, vem se falando do interesse da rede sueca em se instalar no país a partir de matérias publicadas nas seções de economia de grandes jornais, sem citar fontes. Por esses rumores, a H&M tinha planos de começar a operar no primeiro trimestre de 2013 abrindo 30 lojas de uma só vez. No domingo, a Folha de S.Paulo voltou à baila relatando projeto mais modesto, que teria a expectativa de abrir cinco lojas no primeiro ano de atividade.
Topshop abriu a primeira loja junto com o Shopping JK e abriu a segunda no Iguatemi, ambas na cidade de São Paulo. A GAP inaugurou no final de setembro no mesmo JK, mas no piso de cima, em parceria com o grupo dono da Luigi Bertolli, que também tem loja no mesmo centro comercial. A previsão é de a segunda unidade ser aberta até o final do mês no Morumbi Shopping, que já tem tapume informando da chegada da americana Forever 21.
Em comum, todas importam os itens comercializados, assim como fez a espanhola Zara no início. A varejista estrangeira mais antiga no país é a holandesa C&A, que disputa a liderança do comércio local com Renner, Marisa e Riachuelo, e comprando a maior parte dos itens de uma cadeia de fornecedores locais. Animados com o momento econômico brasileiro, e da pisada no freio das economias da Europa e de Estados Unidos, Índia e China traçam estratégias mais agressivas.
Negócios da China
A feira GoTex Show que abre amanhã, 23, e termina na sexta-feira, 25, despertou reações do empresariado brasileiro, incomodados com a proposta dos organizadores “mostrar “o caminho das pedras da importação de artigos chineses”. A ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), junto com o Sinditêxtil-SP, o Sindivestuário (Sindicato da Indústria do Vestuário), a Conaccovest (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados), a Força Sindical, o Sietex (Sindicato da Indústria de Especialidades Têxteis do Estado de São Paulo) e a CSMAT (Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios Têxteis) prometem realizar ato de protesto no primeiro dia da feira, a partir das 11h00.
Segundo comunicado assinado pelas entidades, é o “Grito de Alerta do Setor em prol da manutenção da indústria têxtil e de confecção e de seus postos de trabalho em todo o país”. A GoTex está montada no Palácio das Convenções do Anhembi, com estimativa de receber 6 mil compradores de médios e grandes varejistas. De lá participam 321 empresa – 147 confecções de roupas, 111 empresas têxteis e 63 fabricantes de tecidos para casa e produtos de acabamento. A programação do evento inclui uma grade de palestras entre as quais duas que estão sendo consideradas “provocação chinesa”.
Ambas estão previstas para o dia 23, às 16h00. Uma trata do Mercado têxtil chinês, mostrando “um panorama geral da situação atual do mercado têxtil na China, seu desenvolvimento, o desenvolvimento de comércio exterior, bem como oportunidades de negócios existentes no mercado chinês para as empresas brasileiras, vantagens da cooperação e perspectivas de desenvolvimento”. A outra aborda Como negociar com a China, “apresentando as dificuldades bilaterais encontradas por brasileiros e chineses ao fazer negócios e cases de empresas brasileiras que já fizeram negócios com a China”.
Sobre o ato, o diretor do Grupo China Trade Center, Pan Faming, assina comunicado ao mercado no qual afirma que foram surpreendidos com a reação das entidades, acrescentando que “nosso objetivo – amplamente divulgado desde o lançamento do evento – é atuar como uma global sourcing para as confecções brasileiras, que encontrarão no evento produtos diferenciados, design e serviços”. A feira chinesa tem o apoio da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário), da Alobrás (Associação de Lojistas do Brás), do Sinvest/GO (Sindicato das Indústrias do Vestuário do Estado de Goiás), do Scatvaesp (Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos e Vestuário do estado de São Paulo), do Sinroupas (Sindicato das Indústrias de Confecções de Roupas em Geral de Goiânia), do Sindivest/MS (Sindicato das Indústrias de Vestuário, Tecelagem e Fiação de Mato Grosso do Sul), do Sicon (Sindicato das Indústrias de Confecções do Estado do Tocantins) e do Sindiveste/DF (Sindicato das Indústrias do Vestuário do Distrito Federal).
De acordo com dados do CCTC, no primeiro trimestre de 2013 a pauta de importações brasileiras de produtos da China incluiu cerca de US$ 50 milhões em compras de máquinas e aparelhos para a indústria têxtil, e de U$ 1 bilhão em tecidos e roupas.
Negócios da Índia
A Índia reservou os dias 28 e 29 de outubro, segunda e terça-feira da próxima semana, para realizar a rodada de negócios entre 16 empresas indianas que vão mostrar a capacidade para atender pedidos de varejistas brasileiras. A expectativa do Apparel Export Promotion Council (AEPC), órgão oficial de exportadores de vestuário na Índia, é reunir 500 empresas brasileiras, 250 em cada dia, anunciando que estilistas da Shoulder e da holding Restoque já confirmaram inscrição. A maioria dos fornecedores vai oferecer itens de moda feminina. A exceção fica com a Artex Apparels, especializada em jeans infantil com capacidade para 90 mil peças por mês, que atende grandes organizações como WalMart, Lee Cooper e Landmark.
Os organizadores da Fashion India informam que “o target são empresas grandes que comprarão em volumes maiores. São empresas que poderão fazer mais que uma compra e tornar as indústrias indianas suas principais fornecedoras”. Segundo eles, a partir de 2005, a Índia passou a figurar na lista dos 25 principais parceiros comerciais do Brasil, sendo o terceiro maior fornecedor de vestuário para o Brasil, perdendo apenas para China e Bangladesh, nessa ordem. O país é o segundo maior produtor de fibras de algodão, alcançando 800 toneladas comercializadas por ano, principalmente, para o Brasil.
Essa mesma rodada de negócios já foi realizada Nova Iork, Barcelona e Madri. “Depois de São Paulo, irá para Bogotá”, acrescenta a organização.